{mosimage}Estimuladas pela Rio+20, marcas investem em atitudes sustentáveis em suas coleções de verão 2013, apresentadas no Fashion Rio e no Rio-à-Porter
A palavra da moda é sustentabilidade. O mercado de roupas, sapatos e acessórios se reinventa para seguir a postura do “ecologicamente correto”. Para apresentar novos materiais e divulgar modos de produção sustentáveis, o Fashion Rio e o Rio-à-Porter ganharam espaço no final de maio. No momento em que a cidade fluminense se preparava para ser palco da Rio+20, o Fashion Rio apresentou as novas tendências da eco-moda. Em sua 21ª edição, o evento aconteceu no Jockey Club e apresentou a coleção Verão 2013 com o tema Botânica. Com investimento de R$ 15 milhões, o Fashion Rio, ao lado da feira de negócios Rio-à-Porter, que ocupou as dependências da Casa Firjan da Indústria Criativa, receberam 90 mil visitantes ao longo de cinco dias. O ativismo verde no mundo fashion foi a ideia transmitida pelo evento, ressaltou o seu diretor criativo Paulo Borges.
— O Fashion Rio fala do amor pela natureza e reforça particularmente o papel das plantas na humanização do mundo. Só elas são capazes de nos vestir com cores, texturas e humores, inspirados nas diferentes percepções e sensações que resultam desse convívio cotidiano, sempre renovado e mutante — comenta Borges.
Compradores internacionais visitaram os eventos à procura de biquínis, maiôs, shorts, vestidos e blusas leves. Entre os buyers, marcaram presença fashionistas da Itália, Alemanha, Bélgica, Estados Unidos, Emirados Árabes, Espanha e Uruguai. A Itália tem adquirido muitos produtos da região fluminense, conforme mostram os dados da pesquisa do Sistema Firjan. Nos quatro primeiros meses de 2012, o Belpaese aparece como o quarto maior destino das exportações de moda do Rio, representando 8% das vendas externas fluminenses. Dentre os cinco maiores destinos da moda do estado, a Itália é aquele que compra o produto mais valorizado, com o preço médio mais alto, de US$ 183 por quilo de roupa.
O Rio-à-Porter contou com a participação de 119 expositores da moda praia, provenientes de regiões fluminenses e de pólos criativos de outros estados brasileiros. De acordo com os organizadores da feira, as vendas aumentaram em 10% comparadas à edição de inverno, no mês de janeiro. E o número de compradores e lojistas no salão cresceu 40%. São Paulo e Minas foram os que levaram o maior número de representantes, com 21% e 13%, respectivamente. Em seguida vem o Paraná, com 10%. A região Nordeste, a maior interessada nas compras de verão, foi a responsável por 28% dos compradores.
Materiais alternativos e produção sustentável
Muitos expositores no Rio-à-Porter mostraram coleções desenvolvidas a partir de materiais alternativos, como algodão orgânico, fibra de bambu e garrafas pet. O diretor de criação e marketing da Brasis, Alexandre Valentim, apresentou novas propostas para camisetas. Embora a produção seja mais custosa e exija mão de obra qualificada, um negócio com característica sustentável agrega mais valor comercial e comportamental, afirma.
— Nós produzimos camisas em algodão orgânico, em malha fértil e em fibra de bambu. Sempre em identidade com a cultura popular brasileira. Além de adotarmos a produção sustentável, desenvolvemos padrões que lembram pinturas marajoaras. As propriedades do bambu são assimiladas pelo tecido que protege contra raios UV, não acumula suor e deixa a pele respirar — explica o empresário.
Para fazer a camisa de malha pet, a empresa utiliza duas garrafas de dois litros, e através da reciclagem acontece a retirada do plástico do meio ambiente, que demora vários anos para degradar. Em torno de 80% dos pet reciclados no Brasil vêm de catadores, lembra Valentim, ou seja, a produção também contempla o aspecto social. Para o empresário, a “grande indústria deveria começar a se abrir mais para a produção e a divulgação de produtos sustentáveis para baratear a mercadoria e ser mais acessível ao grande público”.
A Brasis foi convidada pela Secretaria do Desenvolvimento Econômico para participar da Rio+20 no estande de sustentabilidade do governo fluminense, no Riocentro, onde será mostrada uma coleção com algodão orgânico sobre a fauna e a flora da Mata Atlântica, enfatizando os animais em extinção. Além disso, a empresa vai fazer parte de um catálogo de moda da Rio+20. Durante a conferência, o Sebrae vai lançar uma cartilha digital com as empresas que tratam de sustentabilidade no estado.
Outra lojista que marcará presença na Rio+20 é a designer de bolsas e joias que atua em Belém Celeste Heitmann. A artista plástica portuguesa produz bolsas a partir de coadores de café. Ela conta que o público europeu valoriza iniciativas sustentáveis e é muito receptivo ao seu trabalho.
— Eu faço arte em bolsas através da decupagem em coador de café reciclável. Lavo os coadores, deixo-os secar, e depois preparo as mantas. De acordo com a coleção, posso deixar ao natural ou fazer marmorização e desenhos no tecido do coador. Eu retrato muito o Pará e a Amazônia. Minhas bolsas são muito bem recebidas na Europa. Já fui convidada para fazer uma exposição das minhas criações na França — conta Heitmann.
Outra ideia que chamou atenção durante a feira de negócios foi a da designer Silvia Blumberg. Ela transforma cimento, pó de tijolo, papel, borracha e até resíduos de canetas e sucos em joias. Silvia foi a única designer que expôs na Vila Sustentável da Feira Internacional de Tecnologia para o Meio Ambiente, a Fiema Brasil 2012. Silvia afirma que, cada vez mais, a produção sustentável tem transformado os hábitos da população, que passou a querer conhecer e praticar o vestir consciente.
— Em 2008, resolvi me engajar em uma campanha de reciclagem de camisetas para ajudar desabrigados das enchentes de Santa Catarina. Ao descobrir que resíduos de canteiros de obras contribuíam para as inundações, decidi reutilizar restos de cimentos e concreto na fabricação de joias, misturando esses elementos até então descartáveis com ouro e prata. Ser sustentável é ter a consciência de que é necessário minimizar os efeitos nocivos da fabricação de alguns objetos, através de escolhas conscientes e responsáveis — conclui Blumberg.