Comunità Italiana

Ode à rainha

 

No dia 25 de outubro é comemorado o Dia Mundial da Massa (World Pasta Day), data que surgiu em 1995, no Congresso Mundial de Pasta, na Itália. A ideia é lembrar a importância da massa para a alimentação humana e, anualmente, uma cidade no mundo é escolhida para festejar oficialmente a data. Atualmente, o Belpaese é o principal fornecedor de massas alimentícias do Brasil — do total de massas importadas pelo país, 76,88% vieram da Itália. Em 2016, as importações destes produtos atingiram U$22,5 milhões. Somente entre janeiro e setembro deste ano já foi atingida a marca de U$21 milhões. Isso significa um aumento de 27% em relação ao mesmo período no ano passado. Além disso, grandes fábricas que usam tecnologia italiana e importam a própria farinha da bota e são reconhecidas do mercado, como a Indústria Piraquê, fundada em 1950 por um ítalo-brasleiro, expandiram seus negócios no país nos últimos anos. Por tudo isso, não foi surpresa que o Brasil, mas especificamente a cidade de São Paulo, tenha celebrado a data com jantares especiais, workshops, palestras, encontros de negócios e eventos, como o que reuniu os premiados chefs Rodolfo de Santis (Nino Cucina e Peppino Bar) e Patrizia de Benedetto (Bye Bye Blues), que veio de Palermo especialmente para participar da celebração.

 

O Dia Mundial da Massa coincidiu com a realização da Settimana della Cucina Regionale Italiana, o maior movimento de valorização da gastronomia de um país no exterior. Promovido pela Italian Trade Agency (ITA) e pelo Ministério das Relações Exteriores da Itália, com apoio da Embaixada da Itália e do Consulado Geral da Itália em São Paulo, a Settimana chegou à sua sexta edição na capital paulista, recebendo 20 chefs italianos entre os dias 23 e 29 de outubro. Juntamente com os chefs brasileiros de 20 restaurantes paulistanos, eles prepararam um cardápio típico de cada uma das regiões italianas. Foram 160 receitas oferecidas em menus variados, valorizando não só a massa, mas também os demais ingredientes que representam a culinária italiana.

Participaram estabelecimentos, como o Picchi, do chef ítalo-brasileiro Pier Paolo Picchi; a Osteria del Pettirosso, do chef romano Marco Renzetti; o Sensi, do chef brasileiro Manuel Coelho; e o Vinarium, do chef napolitano Ciro Sabella. Na abertura desta edição, realizada no Terraço Itália, os chefs brasileiros e italianos se reuniram para celebrar o intercâmbio. O prefeito da cidade, João Doria, prestigiou o evento, reforçando o vínculo entre Brasil e Itália.

 

Settimana promove intercâmbio entre chefs e também de negócios

 

A Settimana della Cucina Regionale Italiana, que nasceu em São Paulo, chega a outros países em novembro, mas somente a capital paulista recebeu o maior número de chefs do Belpaese, em um intercâmbio importante para os negócios dos dois países.

 

— Além de trazer um pouco da cultura da Itália para São Paulo, a Settimana é um intercâmbio muito interessante entre os chefs. E é também um intercâmbio de negócios, porque nossos restaurantes ficam conhecidos na Itália, e os restaurantes dos chefs italianos recebem divulgação aqui. A Settimana tem essa parceria comercial, além da troca de informações e aprendizado entre os chefs — afirmou à Comunità o restauranteur Juscelino Pereira, proprietário do Piselli.

 

Durante a Settimana, Pereira — que também é proprietário do Piselli Sud — lançou, em parceria com Gerardo Landulfo, delegado da Accademia Italiana della Cucina, a segunda edição do Guia Itália para Comer e Beber Bem. Para o empresário, a relevância da Settimana vai além da gastronomia.

 

— O evento permite também a divulgação da Itália com foco turístico. Isso é muito rico, tanto que tem outros países que vão realizá-lo — analisou.

 

O Piselli de Juscelino Pereira recebeu este ano o chef Stefano Di Gennaro, do restaurante Quintessenza, da cidade de Trani, na Puglia. Di Gennaro participou da Settimana pelo segundo ano consecutivo, e comentou sobre as diferenças entre brasileiros e italianos na hora de comer.

 

— O público brasileiro não tem o costume de comer uma degustação com três ou quatro pratos, e prefere um prato só que combina carne ou peixe com massa. Isso é bem diferente dos italianos.

 

O chef italiano falou da importância do produto no menu dos restaurantes.

 

— Quando se pensa em Itália, se pensa em pasta al pomodoro, e é essa a referência. Em meu restaurante, e aqui também, em nosso trabalho no Piselli durante a Settimana, ela é importante. Um bom prato de massa é sempre valorizado.

 

Para o chef Carlos Vesentini, responsável pela cozinha do Piselli e que dividiu o espaço com Di Gennaro durante Settimana, “a massa é fundamental na gastronomia”.

 

— Sou de família italiana, então na minha casa ela está sempre presente, e procuro trazer isso para o restaurante. Para mim, o que chama a atenção no cardápio é massa, risoto, carne e peixe, nessa ordem. Se a massa for boa, o cliente volta.

 

Vesentini também ressaltou que o intercâmbio promovido pela Settimana valoriza não só a massa, mas a gastronomia italiana como um todo.

 

— É um evento importante que nos traz ensinamentos para aplicar no dia a dia do restaurante porque a Itália tem um nível muito alto de gastronomia; é referência.

 

Cônsul e diretora do ITA prestigiam evento

 

O evento Pasta: Amore & Fantasia contou com a presença do cônsul-geral da Itália em São Paulo, Michele Pala; da diretora do ITA para o Brasil, Erica Di Giovancarlo; do presidente da Associação Italiana de Produtores de Massa, Paolo Barilla; e do presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi), Claudio Zanão.

 

O cônsul Michele Pala ressaltou a relação entre a cidade de São Paulo e o mais famoso produto italiano.

 

— Os pratos mais famosos de São Paulo são pizza e massa porque a presença italiana na cidade é grande. Os italianos ajudaram a construir São Paulo. Mas a diferença entre a pizza e a massa é que a massa pode ser feita mais facilmente em casa, com ingredientes caros e também com ingredientes simples. Isso faz dela um produto democrático. Comemorar o Dia Mundial da Massa dentro da Settimana, que é um evento fundamental de intercâmbio entre Brasil e Itália, é um privilégio. E o mercado está se movimentando novamente, o que significa que este é um bom momento para os negócios com as empresas alimentícias — comentou o cônsul.

 

Para Erica Di Giovancarlo, a sêmola de grano duro é o grande diferencial do produto italiano.

 

— A Itália é o maior produtor de massa no mundo, mas o Brasil também tem uma produção expressiva. A massa italiana é produzida com sêmola de grão duro, e isso a diferencia dos produtos de outros países. Durante a Settimana o público pode apreciar não só a massa, como outros pratos da cozinha italiana com ingredientes autênticos, além de reconhecer a excelência e a inovação de equipamentos do país, e de sua indústria alimentícia.

 

O presidente da Associação Italiana de Produtores de Massa, Paolo Barilla, ressaltou o papel dos imigrantes na difusão da massa pelo mundo:

 

— Os italianos que saíram do país levaram esse produto para outros lugares, e hoje a massa está ligada a evolução da gastronomia, ao sabor e à saúde das pessoas e do planeta. A massa pode ser a protagonista para matar a fome do mundo porque ela não distingue classe social. E hoje em dia quem ajuda a difundir a massa são os chefs. Eles passam emoções e sentimentos na massa que preparam, e divulgam também uma mensagem social — afirmou.

 

Claudio Zanão, da Abimapi, lembrou que o Brasil é o terceiro maior consumidor de macarrão no mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos e a Itália. Mas ressaltou que a diferença no ponto da massa ainda é um desafio para os produtos italianos em território nacional.

 

— O brasileiro gosta da massa mais mole, e isso é algo que não conseguimos mudar. Outra questão é que a massa de grão duro é mais cara. Ainda assim o país importa 20 mil toneladas de massa, sendo que 18 mil vêm da Itália. Para o povo brasileiro, macarrão ainda é espaguete, o que deixa os outros tipos de massa sem visibilidade. As empresas devem observar isso porque temos um mercado vasto para explorar — concluiu.