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Se há palavra para definir os dias na cidade que em outros tempos era a tradução da beleza e da alegria do povo brasileiro ela se chama “dor”. Mas também pode se chamar “desespero”. Ambas são linguisticamente siamesas. A cidade do Rio de Janeiro reflete a profunda crise que assola o país. A cada semana uma tragédia de proporções assustadoras deixa o cidadão em estado de alerta contínuo e os assustadores fatos são inúmeros, dentre os quais o avassalador temporal que matou e deixou ilhada toda uma cidade. Em cada rua, de cada bairro; da zona norte a zona sul, carros boiavam, pessoas eram arrastadas pelas inimagináveis correntezas, empresas fechavam suas portas porque não havia como chegar ao local de trabalho. Tragédia anunciada que poderia ter sido evitada caso investimentos necessários não se resumissem aos falaciosos discursos das campanhas eleitorais.
O despreparo para cuidar do cidadão parece não ter fim. Em outra tragédia, militares fuzilaram um carro com injustificáveis (e inacreditáveis!) 83 tiros. O trabalhador e chefe de família que dirigia o veículo alvejado morreu. Os parentes da vítima ouviram apenas um simplório pedido de desculpas do poder público e do Exército. Nada mais. O Rio está assim, sem mais e nem menos. Uma cidade inerte diante de um cenário de guerra. Uma terra paralisada. Após estes dois episódios outro lamentável aconteceu na comunidade da Muzema, na qual imperam milicianos e onde um prédio erguido ilegalmente desabou. Em meio aos escombros, a cada dia o número de mortos aumenta. Até o fechamento desta edição 18 corpos foram encontrados.
Foi-se o tempo em que dizíamos estar à beira do caos. Agora não há dúvida: estamos mergulhados no mais profundo caos. Mas não nos resta outra saída senão mantermos a esperança e trabalharmos para virar esse jogo. Há tecnologia e treinamento adequado para evitar todas estas tragédias, mas esbarramos na leniência, na indolência e descaso do poder público. Segurança só é possível com inteligência e capacidade indissolúvel para o trabalho. Exatamente essa premissa abre a reportagem sobre as novidades tecnológicas mais avançadas apresentadas durante o VIII Seminário de Segurança da LAAD, no qual algumas soluções italianas estiveram à mostra.
Ainda nesta edição de Comunità italianos residentes no Brasil pedem para que seja atualizado o quanto antes o acordo de previdência entre os dois países, que vigora desde 1981. Nossa reportagem ouviu o advogado tributarista Charlis Pagani sobre o acordo que evita a dupla tributação, mas que, infelizmente, não livra o aposentado do pagamento nos dois lugares.
Comunità conversou também com uma das mais eloquentes e respeitadas
referências do universo ítalo-brasileiro: Rogério Fasano, que falou sobre o mundo dos negócios da hotelaria e da gastronomia, revelando a incontida paixão por Veneza. Um papo bacana com um nome de peso da gastronomia. Imperdível.
Coordenador da Missão Paz, o padre Paolo Parise também integra esta edição. Ele falou à Comunità sobre o trabalho de acolhimento a imigrantes e refugiados de mais de 70 nacionalidades, como uma inequívoca e essencial contribuição na busca de um mundo justo e solidário com respeito inabalável aos direitos humanos. Exatamente o que precisamos hoje numa terra assombrada pelo caos.
Boa leitura!