Os jornalistas del gusto

Grupo fundado há 15 anos por correspondentes estrangeiros em Roma reforça a importância da divulgação e da exportação da enogastronomia italiana no mundo
Apesar de ser símbolo de boa cozinha em todo o mundo, somente há dez anos a Itália descobriu a importância cultural e econômica de exportar a sua enogastronomia. Não é um falso estereótipo: o agroalimentar é o segundo maior setor de exportações italianas, depois da mecânica. Na ultima década, o crescimento foi de 79% e atualmente registra quase 37 bilhões de euros de entradas. Com uma pitada de provocação, os italianos partiram atrasados em relação aos primos franceses. Antes disso, porém, os jornalistas estrangeiros perceberam que se tratava de um tesouro e enxergaram além. Em 2002, na associação dos jornalistas estrangeiros na Itália, a Stampa Estera, alguns profissionais decidiram seguir os caminhos da pequena e da grande produção alimentar italiana: visitaram os produtores, constataram o valor dos produtos na fonte e verificaram como são cultivados de acordo com as tradições locais. Foi então que fundaram o Gruppo del Gusto.
— Naquela época, poucos jornalistas na Itália escreviam sobre a enogastronomia do país. Eu me lembro de que um famoso chef italiano declarou que os jornalistas estrangeiros não entendiam nada do valor da cozinha da Itália. Foi como um desafio. Assim, decidimos formar o Gruppo del Gusto. No começo, éramos poucos, de apenas seis nacionalidades: Espanha, Austrália, Japão, Alemanha, Áustria e Dinamarca — contou o jornalista ítalo-dinamarquês Alfredo Tesio, presidente do grupo, à Comunità.
Hoje, o grupo conta com 118 sócios correspondentes, provenientes de 30 países, entre eles o Brasil, que visitaram centenas de produtores nos ângulos mais escondidos do país, mas sem se limitarem aos produtos alimentares.
— Organizamos encontros com cientistas, nutricionistas e economistas para estudarmos e sermos capazes de descrever adequadamente esta bela realidade nos nossos respectivos países — explicou Tesio, correspondente da Danmarks RTV.
O espanhol Rossend Domenech, do El Periodico, cita um exemplo de respeito pela tradição saudável na Itália: o vinagre de Modena, que deve conter, rigorosamente, o rótulo onde está escrito “tradicional”. Os outros vinagres, mesmo que feitos em Modena, não podem legalmente usar esta denominação. Isso não quer dizer que sejam ruins, mas muitas vezes contêm açúcar caramelado.
— De maneira simples, o vinagre de Modena se elabora, obviamente, a partir do vinho, colocado em barris sem rolha para que possam se transformar em vinagre muito lentamente. Durante o processo, a quantidade se reduz, e, no ano seguinte, é transferido para um barril menor, e assim, nos anos sucessivos, que podem ser 25, 75 ou 100 anos. Uma grande quantidade se reduz, no final, a poucos litros. Assim se explica o preço tão alto. Quem administra este processo provavelmente nunca o degustará porque ele ficará pronto só depois de 25, 75 ou 100 anos. Do trabalho deles serão os seus filhos ou netos que desfrutarão da vantagem econômica. Cada geração trabalha para aquela sucessiva e se beneficia do que fez a precedente. Se não se respeita este processo e se limita a dilapidar o capital recebido, filhos e netos ficarão sem herança — observa.
O Gruppo del Gusto confere todos os anos um prêmio a produtores, inovadores e instituições que promovem a tradição agroalimentar da Itália. Na primeira edição, o fundador do Slow Food, Carlo Petrini, recebeu um reconhecimento especial. A cerimônia de premiação deste ano aconteceu em novembro, no Cenacolo di Santa Apollonia, no centro de Florença. Na categoria “Produção de particular valor e significado”, venceu a mussarela de búfala Dop Barlotti di Paestum, de Salerno. A professora Laura Di Renzo, da Universidade Tor Vergata, recebeu o reconhecimento de melhor “Divulgador da autenticidade italiana”. Também foram premiados o Consorcio del Pecorino Romano e o restaurante Falcone di Poggio a Caiano — localizado no Prato e aberto desde 1862. Os queijos ovinos e caprinos de Abruzzo, o vinho das videiras etruscas, os figos brancos de Cilento e os tomates sicanos da Sicília venceram as edições anteriores. Por valorizar a cultura alimentar da Itália, o Gruppo del Gusto recebeu, em novembro, o prestigioso reconhecimento da Bandeira Verde – Agricultura 2016, da Confederação Italiana dos Agricultores.