Comunità Italiana

Os novos santos

Políticos brasileiros assediam papa na cerimônia de canonização de José de Anchieta e peregrinos dormem nas ruas de Roma para ver João Paulo II e João XXIII declarados santos

Ele nunca estudou teologia ou filosofia. Era apenas um garoto, e criou os fundamentos de uma nação inteira. Ele não teve medo da alegria”, foram as palavras do Papa Francisco durante a homilia na missa para a canonização de José de Anchieta (1534-1597). A celebração ocorreu no fim da tarde de 24 de abril, em Roma, na Igreja de Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, à qual pertenceu Anchieta e também o pontífice argentino.
Uma delegação de políticos brasileiros veio à cidade eterna especialmente para participar do evento e ter a oportunidade de tocar o pontífice. No entanto, o desejo dos políticos não foi totalmente realizado. Após celebrar a missa, Francisco deixou inesperadamente a Igreja, cancelando uma cerimônia conhecida como “beija-mão”, na qual seria cumprimentado por 50 convidados em uma sala ao lado do altar. Segundo os organizadores, ele estava cansado e preferiu evitar os políticos brasileiros que tentavam se aproximar quando falava com o vice-presidente da República, Michel Temer, que representava a presidente Dilma Rousseff. Assistiram à missa em Roma o presidente do Senado Renan Calheiros, a senadora Ana Rita (PT- ES), o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), o ex-senador Gerson Camata (PMDB-ES), e os deputados Esperidião Amim (PP-SC), José Linhares (PP-CE) e Luiz Couto (PP-PB). Após a cerimônia, os políticos seguiram a pé e caminharam 300 metros até a recepção na residência do embaixador brasileiro junto à Santa Sé, Denis Fontes de Souza Pinto.
Durante a missa, o papa leu o texto em português, mas fez a homilia em espanhol. A cerimônia reuniu cerca de 1.200 pessoas, das quais muitos brasileiros selecionados pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que convidou o governo e parlamentares, e pela Companhia de Jesus. Do lado de fora, houve tumulto entre fiéis e curiosos para saudar o papa. Embora os participantes fossem na maioria brasileiros, havia uma delegação de 80 peregrinos e três bispos das Ilhas Canárias, onde Anchieta nasceu, na cidade de São Cristóvão da Laguna.
Três dias depois, em 27 de abril, pela primeira vez na história do Vaticano, dois papas, João Paulo II e João XXIII, foram canonizados ao mesmo tempo. E, também pela primeira vez, dois pontífices, Francisco e o antecessor Bento XVI, celebraram uma cerimônia juntos. A dupla canonização reuniu um milhão de pessoas em Roma. Os dois novos santos foram “homens corajosos” e não se deixaram vencer por tragédias, disse Francisco em sua homilia. Os retratos de Angelo Roncalli e Karol Wojtyla ficaram expostos na fachada da Basílica de São Pedro. Francisco definiu Karol Wojtyla como o “papa da família” e Angelo Rocalli como o “papa da docilidade”.

Um milhão de peregrinos invade Roma
Roma, cidade de três milhões de habitantes, está acostumada com o fluxo de turistas. Mas para a dupla canonização recebeu quase um milhão de peregrinos. Os fiéis vieram de todas as partes do mundo, sendo a maioria da Polônia, país natal de Karol Wojtyla.
A segurança foi reforçada com dez mil agentes policiais, muitos à paisana, pois nas grandes cerimônias do Vaticano a presença da polícia não é ostensiva.
Na véspera, até os bueiros nos arredores foram lacrados para evitar qualquer risco de atentado. No dia anterior, a praça São Pedro foi esvaziada. Ninguém podia dormir lá. Segundo a Defesa Civil, o afastamento era por motivos de saúde pública e segurança. Em compensação, os peregrinos se dirigiram para as ruas de acesso à praça, onde alguns dormiram poucas horas ao relento e outros vararam a noite para garantir os melhores lugares.
— Não me importa de dormir ao relento ou até mesmo de não dormir. O importante é poder ver de perto do papa Francisco e participar desta cerimônia histórica — disse Maria da Silva, que veio de Natal (RN).
Cerca de 2.500 voluntários ajudaram na organização, distribuindo água, dando informações e coordenando o fluxo da multidão. Nos arredores do Vaticano havia ambulâncias, banheiros químicos e tendas com abrigos para crianças, idosos e necessitados. Quem não esteve na praça, pôde assistir à transmissão da cerimônia em 18 telões instalados em lugares emblemáticos da capital.