Comunità Italiana

Os oriundos de Goiás

Pouco conhecida, a imigração italiana em Goiás deixou uma herança importante que os descendentes preservam graças ao empenho de associações, escolas e festivais culturais

A Itália inteira caberia no estado de Goiás e ainda sobraria espaço. Quem imaginaria que, no Centro-Oeste brasileiro, se esconde uma pequena Itália que, através de seus descendentes, ainda conserva as tradições dos primeiros imigrantes que ali chegaram a partir de 1891? Apesar da grande maioria dos italianos terem se direcionado originariamente para o sul e o sudeste do país, a presença em solo goiano foi importante e inclusive deu origem a um importante município chamado Nova Veneza, o primeiro do estado a abrigar oficialmente uma colônia de italianos em 1912. Mais tarde, outras levas formaram colônias italianas, ocupando várias cidades, como Goiânia, Rio Verde, Brazabrantes e Anápolis.
Muitos foram os italianos que marcaram a história goiana, como o pintor e missionário Frei Giuseppe Confaloni, originário da província de Viterbo, que em 1950 se mudou para Vila Boa, onde introduziu a técnica do afresco e mais tarde se tornou um dos fundadores da Escola Goiana de Belas Artes. Através das suas aulas, influenciou uma geração inteira de artistas. Outra personalidade relevante foi o professor italiano Egídio Turchi que, da Toscana, emigrou com a família para o Brasil. Em 1944, radicou-se em Goiânia, onde fundou a primeira Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras da Universidade Federal de Goiás (UFG). A influência da cultura italiana é visível na culinária, na música e na religião católica, através das missas celebradas em italiano.

Há 28 anos, associação divulga a cultura italiana através da música
Desde 21 de agosto de 1988, a Associazione Italiana di Goiás (AIGO) reúne imigrantes, descendentes e simpatizantes, promovendo eventos como jantares, jogos, missas e saraus. Atualmente, a entidade conta com mais de 250 associados, mas está sempre aberta para receber novos integrantes.
— Podem participar da AIGO cidadãos de qualquer nacionalidade, raça ou religião, desde que imbuídos de nossos objetivos, ideias e princípios de fraternidade e amizade — explica à Comunità o presidente recém-eleito para o triênio de 2016 a 2019, Angelo Mauro Antinarelli, anteriormente diretor administrativo.
Entre os objetivos da nova diretoria, Antinarelli destaca a promoção e o apoio de intercâmbios entre italianos e adeptos da cultura italiana; a reabertura do extinto vice-consulado italiano em Goiânia para oferecer serviços burocráticos referentes à situação jurídica dos italianos e a promoção de atividades de assistência social e beneficente, especialmente idosos e marginalizados.
Além dos encontros culturais realizados mensalmente — denominados Terça Cultural Ítalo-Brasileira e de um curso básico gratuito de italiano ministrado pelo professor e escritor Emílio Vieira das Neves — o principal projeto da AIGO é o Coro Italiano Toscanelli, criado no ano 2000 em ocasião da comemoração dos 50 anos da imigração italiana no Centro-Oeste. O nome é uma homenagem aos tripulantes do navio Paulo Toscanelli, que trouxe os primeiros imigrantes para o Brasil Central.
— O Coro Toscanelli é hoje composto por italianos, seus descendentes e amantes da música e da língua italiana, que buscam, em suas melodias, com simplicidade despretensiosa, a paz e a harmonia, relembram a terra querida, elevam sentimentos, recriam paixões e transmitem ternura — conta a simpática coordenadora cultural do Coro Toscanelli e da AIGO, Graça Antinarelli.
Seu repertorio é composto não apenas de músicas tradicionais e folclóricas, mas também de canções eruditas e modernas . Os coralistas se reúnem semanalmente às terças-feiras. A senhora Antinarelli considera a AIGO uma associação heroica, pois não possui incentivos ou patrocínios nem da Itália nem do Brasil: mantém-se com pequenas contribuições e do resultado financeiro de seus eventos.

Nova Veneza sedia no próximo mês a 12ª edição do Festival Italiano
A mais de nove mil quilômetros da Itália, existe um pequeno município cujos habitantes são chamados de venezianos. O nome da cidade não poderia ser outro: Nova Veneza, em homenagem à terra natal dos fundadores. Os irmãos João, Cesário e Joaquim Stival, originários de Veneza, ao chegarem a Goiás, se depararam com uma natureza sem igual, onde existia muita terra boa para cultivo. Ali, decidiram adquirir a fazenda de Manoel Ivo, doando 4,5 alqueires para a formação do patrimônio. Nas adjacências, viviam as famílias Loures, Sousa, Alvez, Santos, Ferreira, Vargas, Peixoto, Constantino e Faquim. Em 1924, Bosco e Bisinoto, com o fundador, foram os primeiros habitantes do povoado, inicialmente conhecido como colônia dos italianos.
Atualmente, em Nova Veneza, residem 300 oriundos que resgatam a sua identidade italiana através de várias iniciativas, como o ensino da língua italiana nas escolas municipais e o Festival Italiano de Gastronomia e Cultura,  que esse ano chega à sua 12ª edição, entre 2 e 5 de junho. Entre suas atrações, há o Carnaval de Máscaras, ao estilo dos carnavais venezianos, e um festival de massas com adaptações goianas que incluem queijos e temperos locais. Na edição do ano passado, muitas pessoas aproveitaram para comprar máscaras coloridas e participar do Baile de Máscaras ao som de tradicionais músicas italianas e de marchinhas brasileiras com toques de italianidade.
— Esperamos aproximadamente 150 mil visitantes durante os quatro dias de evento, durante os quais toda a cidade se transforma, lembrando a herança que os imigrantes italianos deixaram em Nova Veneza — relatou à Comunità o secretário municipal de Cultura, Reinaldo Alves de Miranda.
O evento ainda conta com o apoio do governador Marconi Perillo, que também gosta de lembrar o seu “sangue italiano”. Ele considera Nova Veneza um exemplo para os outros municípios, pois é possível “se distinguir com a própria cultura e suas particularidades”, além de acreditar na importância da valorização da cultura e da tradição.

Governo de Goiás institui o dia das tradições italianas no Estado
Mesmo sem raízes italianas, o deputado estadual Luís Cesar Bueno apresentou em novembro à Assembleia Legislativa o projeto de lei para instituir o Dia Estadual das Tradições Italianas no estado de Goiás, a ser comemorado anualmente no dia 25 de abril. O governador de Goiás sancionou a lei, publicada em 5 de maio no Diário Oficial.
Bueno, que também é historiador, vê a lei como uma oportunidade de homenagear e valorizar a cultura italiana no estado, levando em consideração a importância dos italianos na formação da cultura brasileira.
De acordo com o deputado, a contribuição dos italianos se destaca em todos os setores da sociedade goiana e brasileira, principalmente na mudança socioeconômica que os mesmos produziram no campo e nas cidades.
— É notável que a influência italiana em Goiás impulsione e movimente a sociedade goiana à criação e à implantação de escolas destinadas ao ensino especializado de língua, à criação de associações civis voltadas à manutenção e à preservação das tradições italianas no estado, bem como a edição de feiras e festivais artísticos, culturais e gastronômicos — destacou Bueno.
Graças à lei recém-sancionada, agora, todos os anos, o dia 25 de abril em Goiás será uma data que terá como foco a manutenção dos costumes e da tradição italiana no estado, além de reforçar o reconhecimento e a valorização dos componentes estrangeiros que contribuíram para o processo de formação da identidade goiana.