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Os ponteiros da Pesariis

22 de agosto de 2016 - Por Comunità Italiana
Os ponteiros da Pesariis

Os ponteiros da PesariisUma visita à cidade dos relógios no Friuli-Venezia Giulia é como fazer uma viagem no tempo

O tempo é o senhor absoluto da Olimpíada e o inimigo número um dos atletas, além de constituir a unidade de medida do esforço realizado para alcançar os resultados e atingir a superação suprema. A cronometragem implacável e imponderável lima até os centésimos de segundos para apontar o dono da vitória. Mas o tempo também empresta o seu conceito a outras realidades que não são apenas esportivas, onde são levados em conta todos os instantes do dia. Ele, o tempo, não é somente reverenciado a cada quatro anos por causa dos Jogos Olímpicos. Era uma vez um vale, o Vale do Tempo. Nele celebra-se a existência dos relógios como em poucos lugares no mundo, mais precisamente na cidade de Pesariis.  A denominação deste lugar faz a honra ao passar das horas, num cantinho quase escondido da região de Friuli-Venezia Giulia, no nordeste da Itália, junto à fronteira com a Eslovênia e a Áustria. Para chegar até este pontinho desconhecido do mapa é preciso serpentear por rodovias estreitas e sinuosas que cortam o território da Cárnia.
O caminho atravessa imensas florestas de pinheiros. Em alguns trechos, as árvores seculares transformam-se em verdadeiros túneis — do tempo. No século XV, esses bosques forneciam a madeira para a construção de Veneza. O som do motor do carro em andamento abafa os rumores quase imperceptíveis do tique-taque dos pêndulos e das badaladas cadenciadas dos sinos nas torres que cortam o ar dos vales. O barulho remoto e distante atrai o olhar para os ponteiros lá no alto das colinas, estampados em cima de antigas fachadas de tijolos e pedras, como se fossem duas lanças sempre em movimento. Já na entrada do Vale do Tempo um enorme relógio elíptico, ao sol, dá as boas-vindas aos viajantes na localidade de Croce, às portas de Pesariis. Poucos quilômetros antes, à margem da estrada, debruçada sobre um precipício, uma torre medieval, mais torta daquela de Pisa — porém, um pouco mais baixa e sem nenhuma obra de restauração — desafia a lei da física com uma inclinação a olhos vistos. Ela serve como um sinal de encantamento.
Tudo ali parece adquirir um movimento, ser animado, ganhar vida própria: dos riachos no fundo do vale, às folhas sopradas pelo vento, às sombras dos ponteiros projetadas na parede do monumento, indicando as horas quando o sol sai por trás das nuvens. Lentamente, o tempo não dá trégua nem descanso. O relógio elíptico é um dos 14 mecanismos diferentes entre si e expostos nas fachadas, nas esquinas e nas pracinhas do pequeno burgo medieval que abriga a origem do tempo, como conhecemos hoje. A exposição permanente a céu aberto completa o acervo do Museu da Relojoaria, localizado bem na entrada da cidade e a poucas centenas de metros do epicentro da cultura e do culto aos relógios. Engrenagens e mecanismos sofisticados e complicados preenchem as prateleiras do museu e alimentam o sonho dos visitantes.
 
De Galileu ao digital, a cidade testemunha a evolução do mundo relojoeiro
A homenagem de Pesariis ao mundo relojoeiro tem a sua razão de ser. A origem de tudo nasceu no século XVII, quando ali se instalou a fábrica Solari, especializada em relógios para as torres dos sinos das igrejas, em plena expansão do mundo católico. O padre carregava o peso que descia lentamente, durante 24 horas, até acionar o sino. Mais tarde, nas décadas de 40/50 do século passado, com a chegada da corrente elétrica, a operação ficou menos complexa e cansativa. Mas toda esta odisseia industrial ganhou corpo e alma quando Galileu Galilei descobriu, no século XVII, que a oscilação do pêndulo poderia ser aplicada ao mecanismo dos relógios. Dali em diante, a Solari reinaria absoluta no mercado ao aplicar esta nova tecnologia, por quase 200 anos. Após um salto no tempo e na década de 1930, a empresa novamente daria um passo adiante da concorrência internacional ao criar o relógio que marcava as horas com as plaquinhas em preto e branco, uma espécie de ancestral do mundo digital de hoje. Essas plaquinhas logo ganhariam outro uso: a de indicadoras de dados de trens e aviões em grandes painéis instalados nas estações ferroviárias e nos aeroportos. Ao escrever com algarismos e letras as principais páginas da história do tempo e da informação logística de viagens, a empresa criou uma cultura forte nesta cidadezinha perdida no nordeste italiano que conta com menos de 200 residentes fixos.
— O digital nasceu acho que um pouco em todos os lugares. Mas pensar que nos anos 1920/30 ter o nosso calendário marcado por cifras que apareciam no lugar dos tradicionais ponteiros foi algo excepcional que nasceu aqui em Pesariis. Apresentar o calendário em forma de mensagem ainda hoje se faz, mas de modo diverso — conta Amanzio Solari, ex-empregado da fábrica e memória viva de Pesariis.
 
Relógio feito com bacias d’água marca as horas até hoje
A grande maioria dos moradores de Pesariis trabalhou na Solari nos tempos áureos, até a passagem da tecnologia mecânica e analógica para aquela digital, atualmente liderada pelos mostradores a led. Nas horas vagas da aposentadoria, nas pequenas garagens e oficinas, os ex-funcionários continuaram a produzir os relógios que fabricavam na linha de montagem da empresa, ainda operando no setor, mas com menos influência no mercado.
Note-se bem que ainda não são vistos por aqui nem por aí relógios digitais nas torres das igrejas. E estes velhinhos que passam o tempo pela vida realizaram 14 obras-primas.
— Eles deixaram a fábrica, mas trouxeram o amor e a paixão por aquele trabalho — diz Amanzio Solari. 
Uma das obras-primas chama muito a atenção, pois são 12 bacias montadas na calçada de acesso ao burgo. Elas vão se enchendo à medida que as horas passam: uma bacia para cada hora.
— Este relógio existia antes do advento do mecânico. Para quem trabalha com o tempo, acho que não o conhece bem, não faz cálculos, não pode ver o tempo passar. Vejo alguns jovens que cultivam este ofício; esperamos que a tradição não morra. Sabe, a eletrônica é fria; a mecânica é mais quente — reflete Amanzio Solari, diante de uma réplica de um relógio de água, com um moinho que gira, marcando o tempo.
Junto com as estrelas e o sol, a água também era usada para dar a noção do tempo aos homens. O planisfério noturno também é um ancestral do relógio. A linha vermelha que une a estrela Polar com a constelação da Ursa Maior marca as horas, levando em conta o céu no momento da observação, claro, com a permissão das nuvens.
Se o relógio de pulso fez a Suíça ganhar o mundo, são os relógios das torres dos sinos das igrejas, com origem em Pesariis, que acertam as horas de quem está sempre correndo atrás delas, em qualquer fuso horário e em quaisquer latitudes e longitudes.

Comunità Italiana

A revista ComunitàItaliana é a mídia nascida em março de 1994 como ligação entre Itália e Brasil.