“No Brasil temos um ditado que diz: no fim tudo vai bem, e se não vai bem, é porque ainda não chegamos ao fim”. Com esta frase bem-humorada, o embaixador Ricardo Neiva Tavares deu o recado para aqueles que duvidam da organização carioca nas Olimpíadas. Ele fez o discurso de abertura do Seminário “100 dias dos Jogos Olímpicos Rio 2016, da cidade maravilhosa à cidade eterna”, promovido pela associação de amizade Itália – Brasil. A conferência partiu das Olimpíadas para abordar aspectos mais amplos, como a transformação da arquitetura e urbanística, o impacto na sociedade e os benefícios deixados ao país.
O evento aconteceu em 27 de abril, na Embaixada do Brasil em Roma, e foi moderado por Francesco Orofina, vice-presidente nacional da Inarch (Instituto Nacional de Arquitetura), contando com a participação de Luca Pacalli, vice-presidente do Comitê Roma 2024; Carlo Mornati, vice-secretário-geral do CONI (Comitê Olímpico Italiano) e chefe da missão Rio2016; Fabio Porta, deputado ítalo-brasileiro e presidente da Associação Itália Brasil; Domenico De Masi, professor e sociólogo; e Paolo Carbone, advogado da Carbone & Vicenzi; entre outros.
O embaixador Tavares recordou que a amizade entre os dois países é mais antiga que as Olimpíadas modernas, pois a primeira edição dos Jogos ocorreu em Atenas, em 1896, enquanto os primeiros navios a vapor que deixaram os portos de Gênova e Nápoles com milhares de imigrantes atracaram no Brasil 20 anos antes, em 1870.
O deputado Fabio Porta destacou a importância da primeira Olimpíada na América do Sul — continente que reúne milhões de imigrantes italianos. Por sua vez, o escritor e sociólogo Domenico De Masi fez uma análise social sobre a cultura brasileira:
— O Brasil não é um país para principiantes. Como dizia Nelson Rodrigues, o Brasil é o pior inimigo do Brasil. Eu acrescentaria que a Itália é a pior inimiga da Itália — resumiu.
O arquiteto Francesco Orofina chamou atenção para o legado em áreas degradadas da cidade.
— Os Jogos representam uma ocasião extraordinária para a cidade que hospeda requalificar seu tecido urbano, melhorando significativamente áreas degradadas. Barcelona, Londres, Sidney e outras cidades foram beneficiadas. Depois do evento esportivo, a qualidade de vida dos habitantes mudou positivamente — avaliou.
Os participantes expressaram a torcida por Roma na candidatura à sede olímpica de 2024.
— As Olimpíadas são uma extraordinária ocasião para chamar a atenção cultural para as pessoas que são consideradas fisicamente frágeis. Representam também uma oportunidade para aqueles que sofrem de defeitos físicos de mostrar com orgulho a força de vontade, conquistando respeito e admiração — Luca Pacalli, vice-presidente do Comitê Roma 2024, referindo-se às olimpíadas e às paraolimpíadas.
O vice-diretor da Rai Sport, Sandro Fioravante, lembrou que o evento não representa apenas uma competição esportiva: histórias de atletas e de países são contadas com empenho pela TV italiana. Já Carlo Mornati, vice-secretário geral do CONI, comentou com otimismo que as agitações da última hora são passageiras:
— Os cariocas já vivem a cidade de maneira esportiva. Basta ver as pessoas na praia jogando vôlei de praia, futebol ou correndo. Tenho certeza de que o Rio será o lugar ideal e um exemplo para o mundo — afirmou.
Marco de Ponte, secretário-geral da Action Aid, destacou o papel social do esporte, lembrando que no Brasil a organização usa a capoeira como forma de agregação de jovens, e em Bangladesh, país onde acontecem grandes enchentes, ensina as crianças a nadarem.
Alberto Pacchione, da Technogym, lembrou que a empresa italiana, líder mundial na fabricação de aparelhos de ginástica, é, mais uma vez, a fornecedora oficial dos Jogos.
— Ser o fornecedor oficial das Olimpíadas é uma grande responsabilidade para a nossa empresa porque nada pode dar errado. O fato de sermos escolhidos pela sexta vez demonstra que somos capazes. O evento representa também uma oportunidade de evolução dos nossos produtos. Os atletas nos dizem como podemos melhorar e esse é o nosso objetivo: sempre melhorar — ressaltou.
Após o seminário, os participantes assistiram, na Piazza Navona, ao espetáculo de luzes e música que iluminou a fachada do Palácio Pamphili. Naquela noite, todas as embaixadas brasileiras no mundo foram iluminadas para lembrar que faltavam cem dias para a abertura das Olimpíadas Rio 2016.