O presidente do júri do Festival de Veneza, Sam Mendes, conta como os filmes italianos influenciaram sua carreira
A estreia dele no cinema, em 1999, foi com o pé direito: vencedor do Oscar de melhor diretor e melhor filme com Beleza Americana, Sam Mendes construiu, desde então, uma carreira primorosa. Atual responsável pela franquia 007, o cineasta britânico chega ao ápice de sua carreira como presidente da mostra cinematográfica mais antiga do mundo. Na edição 73 do evento, teve a missão de escolher o vencedor do cobiçado Leão de Ouro. Antes disso, porém, conversou com a Comunità sobre sua carreira e como o cinema italiano influenciou sua vida.
O diretor de 51 anos tem ascendência portuguesa — daí o sobrenome familiar aos brasileiros. Foi casado com a atriz britânica Kate Winslet. O estrondoso sucesso já em seu filme de estreia não assustou o cineasta que, até então, dirigia apenas peças de teatro.
— Não esperava pelo Oscar, mas isso não mudou minha vida. Claro que me abriu portas, mas também passei a ser mais exigente comigo mesmo — contou.
O que se diz nos bastidores da sétima arte é que Mendes não começou no cinema sozinho, nem por acaso: por trás de seu sucesso, está Steven Spielberg, que, ao ver as peças dirigidas pelo britânico, apostou nele como diretor de cinema. Sam Mendes não confirma nem desmente o fato, mas lembra de sua estreita relação com o mundo cinematográfico e com a arte em geral.
— Quando eu ainda era estudante, trabalhei por três meses na coleção Peggy Guggenheim, que fica em Veneza. E a melhor lembrança da minha carreira como diretor de cinema vem dessa cidade, quando, em 2002, meu filme Estrada para Perdição passou no Festival. Foi uma sensação única toda aquela atmosfera no Lido — detalha o diretor.
Ele fala com carinho de sua relação com a Itália e com o cinema do Belpaese.
— Como qualquer jovem que gosta de cinema, sempre tive referências dos filmes italianos. Não sei dizer ao certo qual foi o primeiro que vi, mas assisti a todos os clássicos. Isso foi fundamental para formar minha carreira e me fazer ser o cineasta que sou. O cinema italiano é uma das maiores referências no mundo.
Para Sam Mendes, a importância da indústria cinematográfica italiana se reflete no Festival de Veneza.
— Acho errado quando dizem que o Festival de Veneza já esteve decadente. Se você for olhar o line up do Festival nos últimos 20 anos, os principais filmes que chegaram ao Oscar foram lançados aqui. Inclusive o meu Estrada para Perdição. Acredito que há uma diferença de contexto e conceito entre os festivais, mas Veneza jamais foi decadente. E nunca será.
Por conta do respeito e admiração que tem por tudo que envolve o cinema italiano, Mendes encarou como um grande desafio ser presidente do júri do Festival de Veneza.
— Fico feliz que pensaram em mim porque eu tenho relação profunda com a Itália. O último filme do 007 que dirigi foi rodado no país. É uma responsabilidade grande avaliar os filmes de tantos cineastas maravilhosos, mas também uma satisfação poder ajudá-los a terem divulgação.
O cineasta acredita que, embora a indústria cinematográfica viva uma crise criativa e financeira, os festivais de cinema não deixarão de existir.
— Os festivais são eventos que podem alavancar filmes, lançar novos nomes e dar oportunidades para que essas produções sejam vendidas para outros países. Muitos filmes chegam num festival sem ter distribuidora. O mercado precisa desses eventos e os eventos precisam, cada vez mais, focar em novidades. Veneza está no auge de seus 73 anos de existência, e espero ter contribuído para essa história de sucesso — conclui.