Mario Cucinella participa da Bienal de Arquitetura de São Paulo e defende projetos sustentáveis que priorizem a funcionalidade para o povo e a cultura locais, e não apenas o custo
Com 20 anos de carreira, o arquiteto italiano Mario Cucinella é reconhecido pela sua arquitetura contemporânea voltada à sustentabilidade e urbanização. Convidado a participar como representante da Itália da 10ª edição da Bienal de Arquitetura de São Paulo — evento mais importante do setor na América do Sul, que acontece até 30 de novembro — Cucinella expõe ao público brasileiro o projeto de reurbanização do bairro San Berillo, em Catânia, na Sicília. A Bienal tem como tema este ano Cidade: Modos de Fazer, Modos de Usar — através do qual discute o espaço público contemporâneo e a mobilidade urbana. Exposto na seção Espaço Público, o projeto do arquiteto nascido em Palermo aborda a revitalização de uma grande área urbana que esteve por mais de 50 anos em processo de degradação. A área foi transformada em nível estrutural e também cultural, repensando a relação dos moradores com o município.
— O caráter sustentável está muito mais ligado à forma de usar materiais simples do que a processos tecnológicos. É preciso ter atenção ao meio ambiente, à cultura de cada povo — defende Cucinella em entrevista à Comunità.
Ele trabalhou como responsável de projeto com Renzo Piano em Gênova, cidade onde se formou, e em Paris. Desde 2004, é professor honorário da britânica Nottingham University. Em 2012, fundou a Building Green Futures, instituição sem fins lucrativos que tem por objetivo consolidar tecnologia e cultura ambiental. Este ano, passou a lecionar na Technische Universitat de Mônaco como professor especial de tecnologia emergente. Atualmente, é diretor da comissão científica internacional da Plea (passive and low energy architecture), organização empenhada em promover arquitetura sustentável e projeto urbano no mundo. Ensinar aos jovens arquitetos de hoje a importância de projetos sustentáveis, para ele, é fundamental.
— A arquitetura sustentável é feita em todo o mundo. Existe muito este tipo de arquitetura na Europa. Na Itália, um pouco menos, por causa da crise. Os Estados Unidos pensam muito na questão da energia. Temos que dar mais atenção às áreas públicas, e assim conseguiremos melhorar a vida nos edifícios, na vida privada. O modelo atual de arquitetura valoriza o contrário.
Italiano vai abrir escritório em São Paulo, onde “o caos é evidente”
Sediado em Bolonha, o escritório do arquiteto siciliano, Mario Cucinella Architects (MCA), desenvolve projetos na China, África e Oriente Médio, e terá uma sede em São Paulo, que deve começar a funcionar em 2014. Sobre a arquitetura no Brasil, Cucinella ressalta o caos, evidente no tráfego das grandes cidades.
— Conheço um pouco da arquitetura brasileira, como a construção de Brasília, o trabalho de Oscar Niemeyer. Em São Paulo, gostei do Mube, do prédio da faculdade de arquitetura na USP, mas faltam espaços públicos e áreas verdes. E isso é fundamental para o bem-estar da população. A cidade não teve um crescimento planejado, isso fica evidente em seu trânsito, em sua forma, que é um caos — avalia.
Sobre o fato da arquitetura sustentável ainda ser considerada cara, ele acredita que o mais importante é pensar no custo-benefício.
— Não é que seja caro, vai compensar depois de pronto. Um projeto para uma cidade grande, por exemplo, é difícil, mas é preciso pensar em obras sustentáveis para essas cidades. Porque, sem elas, surgem as favelas. Então acho errado pensar só pelo custo, tem que pensar também o quanto vai trazer de benefício — pondera.
Cucinella aponta também que a ideia do projeto pode ser global, mas tem que pensar localmente, e que “é preciso ter empatia com o projeto, pensar em uma modernidade que funciona”:
— O projeto tem que funcionar para aquele lugar, aquela cidade, aquele povo especificamente. Porque a arquitetura é para o homem, não para o arquiteto — conclui.
Mario Cucinella já recebeu vários prêmios, como o Arquitetura Ance (Catania, 2012) e o Mipim Green Building Award (Cannes, 2011). Entre os seus projetos, estão o Centre for Sustainable Energy Technoligies em Nigbo, na China; a sede da prefeitura de Bolonha; e a estação Villejuif – Leo Lagrange do metrô de Paris.