Comunità Italiana

Parada antecipada

Itália interrompe projeto de usinas nucleares. O referendo, porém, será aplicado para todos os cidadãos, dentro e fora do país

{mosimage}Em 19 de abril, o governo italiano decidiu cancelar a retomada da utilização de energia nuclear no país. Após a tragédia no Japão, em 11 de março, a Itália aprovou uma moratória de um ano para o início das construções. O parlamento, entretanto, apresentou uma emenda cujo objetivo é derrogar as normas previstas para essas construções, além de modificar o artigo 5 do decreto que determinava a moratória aprovada em março.

O Ministro da Economia, Giulio Tremonti, abordou a questão financeira, uma vez que, em 2010, o país aprovou um plano de cortes de gastos de aproximadamente 24 bilhões de euros. 

— Foi realmente feita uma contabilização da energia nuclear? Há um cálculo do risco de radiação? Sabemos que os benefícios são locais, mas os malefícios são gerais — argumenta.

Todavia, as pesquisas continuam. De acordo com a Ministra do Meio Ambiente, Stefania Prestigiacomo, a Itália é um país cercado por usinas nucleares e o desenvolvimento das pesquisas independe da decisão do governo quanto à interrupção das construções. Paralelamente, o referendo aprovado em janeiro se mantém marcado para os dias 12 e 13 de junho, momento em que a população opinará sobre o futuro da nação.

O tema é complexo porque afeta diretamente a economia e a manutenção do país. A maior parte da energia consumida na Itália é importada. Qualquer desequilíbrio vindo dos países fornecedores desestabiliza toda a Itália. Logo, o governo visa à busca de alternativas que minimizem essa dependência. Apesar de compreender essa necessidade, o jornalista italiano e autor do livro “La nuova guerra mondiale – Terrorismo e intelligence nei conflitti globali”, Gianni Cipriani, é contra reativar o uso das nucleares.

— Não há dúvida que a Itália tenha um problema de energia, em que deve comprar no exterior para poder atender seu consumo interno. O problema é que o programa nuclear apresentado pelo governo é muito caro e as usinas de energia nuclear estariam prontas apenas depois de muitos anos. Assim, a Itália continuará com os problemas de energia. Em contrapartida, o elevado custo das usinas (cerca de 6 milhões de euros para cada estação) será pago pelos italianos. E, em dez anos, os estudos sobre energias renováveis serão muito mais avançados e talvez a tecnologia nuclear esteja ultrapassada — defende.

Outro fator que fomenta a discussão é a atual situação da Líbia, um dos principais fornecedores de gás da Itália. Para Cipriani, o cenário, apesar de delicado, não afetará tanto o país e aposta numa parceria com o Brasil para a questão energética.

— A crise não vai mudar a economia italiana. Talvez a Itália redimensione a sua presença nos próximos anos na Líbia. O Brasil é considerado um país com elevado crescimento crucial para a recuperação econômica após a crise. Pessoalmente, apesar de estarmos em continentes diferentes, eu acho que é importante para a Itália reforçar os laços com o Brasil, um país onde a maioria da população tem pelo menos um parente distante, onde a comunidade italiana e ítalo-brasileira mantém uma forte ligação.

Enquanto isso, pouco mais de um mês depois dos terremotos e da tsunami que destruíram o Japão, a operadora da usina de Fukushima, Tokyo Electric Power, afirmou que três meses serão necessários para conter os vazamentos e nove meses para o resfriamento completo dos reatores.

Como votar no referendo?

Segundo o Consulado da Itália em Belo Horizonte, os cidadãos italianos residentes no exterior ou algumas categorias de compatriotas temporariamente no exterior devem visitar o site www.esteri.it para verificar a lista de países que possuem acordos com a Itália. Tanto o voto dos cidadãos italianos residentes e inscritos no AIRE (Anagrafe degli Italiani Residenti all’Estero) quanto os que estão no exterior será realizado exclusivamente por meio de correspondência. Os eleitores temporariamente no exterior pertencentes às categorias supracitadas e os seus familiares, para votarem, deverão apresentar ao Consulado de competência uma declaração para fins eleitorais até o dia 8 de maio de 2011. Os eleitores residentes, mesmo que temporariamente, receberão do Consulado da Itália competente, no próprio domicílio, um envelope contendo as cédulas de voto e as instruções sobre as modalidades de votação. O eleitor que não receber o envelope eleitoral até o dia 29 de maio deve dirigir-se ao Consulado da Itália competente para verificar a sua situação eleitoral.