{mosimage}Dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) mostram que o Brasil investe 1,1% do PIB na produção científica
Nascido em Roma, Cláudio Fiocchi mudou-se para o Brasil em 1956 com seus pais, que vieram em busca de melhores oportunidades de emprego. Ainda jovem, ingressou na primeira turma da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, onde se graduou. Interessado em gastroenterologia (o mercado brasileiro não era reconhecido na época com excelência), Fiocchi mudou-se para os Estados Unidos, onde realizou especialização na Cleveland Clinic Foundation, em Ohio, região centro-oeste do país.
Hoje, Fiocchi é um reconhecido pesquisador mundial tendo como principais interesses científicos os mecanismos celulares e moleculares das doenças inflamatórias intestinais (DII: retocolitis ulcerative e doença de Crohn), área em que ele fez diversas contribuições por meio de seus estudos sobre a imunidade da mucosa, interações entre células imune e não imune, e sobre a doença inflamatória intestinal pediátrica.
Atualmente ele é professor de Medicina, Patologia e Pediatria na Case Western Reserve University School of Medicine, em Cleveland; Professor de Medicina Molecular no Lerner College of Medicine da Cleveland Clinic Foundation e também membro dos departamentos de Patobiologia e Gastroenterologia da Cleveland Clinic Foundation. Anualmente, Fiocchi vem ao Brasil para proferir palestras, participar de eventos ou pescar nos rios da Amazônia, um de seus hobbies.
Agraciado recentemente com o Prêmio Henry Janowitz Lifetime Achievement Award in IBD da Crohn’s and Colits Foundations of America, em reconhecimento por sua contribuição e dedicação contínua para o campo da DII, Fiocchi conversou com a Comunità diretamente de Cleveland sobre as pesquisas científicas realizadas no Brasil em comparação com o que os países desenvolvidos produzem.
De acordo com o doutor Fiocchi, o Brasil obteve uma nítida melhora na posição do ranking mundial de pesquisas científicas.
— Eu vejo uma série de artigos publicados em revistas direcionadas para o meio científico. É um exemplo de que o Brasil está entre os mercados mais ricos e, com isso, vem recebendo mais verbas para pesquisas médicas, bioquímicas e desenvolvimento de técnicas para a extração do petróleo e derivados — disse.
Para o pesquisador, os Estados Unidos ainda figuram entre os países que mais destinam investimentos para pesquisas científicas porque conta com grandes laboratórios e centros de estudos de ponta. Na Europa, após a criação da Comunidade Europeia, os incentivos aumentaram também. São investimentos individuais dos governos e de instituições privadas, com destaque para países como Alemanha, França, Dinamarca, Finlândia, Noruega e Suécia. Já Itália, Espanha e Portugal devem receber mais dinheiro para o direcionamento à pesquisa e desenvolvimento (P&D) nos próximos anos — constata.
Mesmo o Brasil figurando em uma posição melhor, os incentivos para pesquisas científicas ainda não são suficientes para trazerem de volta profissionais como o Dr. Fiocchi, que buscaram em outros países o reconhecimento de anos de estudo e dedicação.
Hoje, o Brasil ocupa o 13º lugar na publicação de artigos científicos. No ano passado, foram 26.482 publicados em todo ano, 11.300 mil novos doutores formados nas universidades brasileiras.
Dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) mostram que o Brasil investe 1,1% do PIB na produção científica. O que dá US$ 23 bilhões por ano. A soma é quase igual a países como Itália e Espanha. Mas ainda muito longe de Japão, Coreia do Sul e Estados Unidos.
— Percebo que é um momento lógico para o Brasil levar de volta seus talentos. A economia está aquecida e o país passa por um momento favorável de investimentos. Mas, para isso, o governo deve investir em educação — disse Fiocchi.
Um dos efeitos que mostra bem essa nova etapa do País é o registro de patentes. Enquanto em um ano as empresas brasileiras inventam e registram em torno de cem novos produtos, na China, por exemplo, foram mais de 1.650 em 2010. Mas para o pesquisador isso está mudando e os empresários brasileiros já começam a ver que investir em pesquisa pode ser um bom negócio também.
— Para se destacar entre os demais países, o Brasil precisa de um grupo bem maior de pesquisadores de alto nível. E, com isso, promover a troca de estudos. Como o médico e cientista brasileiro Miguel Ângelo Laporta Nicolelis, que lidera um grupo de pesquisadores da área de Neurociência da Universidade Duke, em Durham, Estados Unidos, no campo de fisiologia de órgãos e sistemas, na tentativa de integrar o cérebro humano com máquinas (neuropróteses ou interfaces cérebro-máquina) — completa.
Nicodelis é também um dos responsáveis pela criação do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS), em Natal, Rio Grande do Norte, do qual ele é diretor.