{mosimage}Exposição em Milão faz um retrospecto do movimento da chamada arte pobre, que produz ricas e criativas obras com material como pedras, carvão e pedaços de ferro
Um arquipélago de exposições transforma oito museus e teatros em “ilhas” conectadas entre si pela arte e, ao mesmo tempo, espalhadas pela Itália, de norte a sul. O projeto faz parte das comemorações dos 150 anos da Unificação italiana e consegue, através da expressão artística — pobre no material e rica na criatividade — unir as cidades de Bari a Turim, passando por Roma, Bolonha, Bérgamo, Nápoles e Milão. A grande mostra recebeu o nome de Arte Pobre, termo criado pelo crítico e histórico Germano Celant, em 1967, durante uma exposição em Gênova e, não por acaso, curador desta megaexposição. O termo foi usado para definir os trabalhos artísticos que rompem com tradições, ignoram as fronteiras de um território natural e artificial, corporal e mecânico e, acima de tudo, resgatam elementos originais, como o ferro, a madeira e a terra.
O visitante pode conferir mais de 200 peças de artistas que vão de Giovanni Anselmo a Giuseppe Penone, Pino Pascali a Alighinero Boetti, Andy Warhol a John Baldessari, passando por Mario e Marisa Merz, Michelangelo Pistoletto e Gilberto Zorio. A mostra cobre um arco de tempo que vai de 1967 até 2011. Fundações, museus, galerias e colecionistas privados emprestaram obras para a exposição, que acontece no Museu da Triennale, em Milão, templo máximo do design italiano.
O percurso convida o visitante a refletir e a interagir com obras, aparentemente, simples, cruas e nuas. Os cúmulos de pedras, e os pedaços de carvão e de telas em estado bruto compõem as instalações de Jannis Kounnelis. Portas muradas e uma sequência de superfícies metálicas, atravessadas por flores e velas, algodão e ferro, refletem a busca pela imortalização do tempo e dos gestos primitivos.
A meta de encontrar o “objeto de menos”, combustível do príncipio e força motriz deste movimento, obriga aos artistas a apoderarem-se de tudo ao redor. Naquela época, a luz de neón, os tubos florescentes e os fios de nylon eram novidades. Os adeptos do movimento não perderam tempo em descobrir outras utilidades para tais materiais. Assim, um guarda-chuva apoiado no chão e transpassado por uma lâmpada de neón serve de modelo para a representação da ação da queda de um raio.
Uma das obras de maior impacto é o iglu de Mario Merz, feito de estilhaços de vidro, lascas de madeira e pedaços de ferro. Os adeptos do movimento não perderam tempo em descobrir outras utilidades para tais materiais. A forma de casas dos esquimós traduz a ideia de adaptação. Ali, uma grande mesa em espiral serve de “ voz” para o artista denunciar a possibilidade da coexistência de dois mundos distantes, assim como o dramático confronto entre estas duas realidades, representadas pelo artesanado e pela indústria.
— O que nós tentamos fazer, com a cumplicidade dos artistas e das instituições culturais, foi dar uma dimensão internacional. Assim, seria possível dar um “respiro” para a Itália, como aconteceu com o movimento do futurismo, que marcou a modernidade no mundo — explicou o curador Germano Celant.
A “arte pobre”, ao contrário do que afirmam alguns críticos, criou um filão que ainda hoje faz a história e a performance da arte contemporânea. Como negar a influência de artistas como Pistonetto que, na Bienal de Artes de Veneza, encantou o mundo ao destruir, com um martelo, os espelhos da sua obra de arte? Com a resposta, os visitantes e sonhadores em descobrir na pobreza absoluta dos materiais a riqueza das ideias e das mensagens. Um exercício de tenacidade, paciência, sensibilidade e, claro, ironia, muita ironia.
A exposição Arte Povera 1967-2011 vai até 29 de janeiro, na Triennale de Milão.