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Pontes em vez de muros

14 de setembro de 2015 - Por Comunità Italiana
Pontes em vez de muros

Pontes em vez de murosDiretor do ICE no Brasil analisa a crise da economia,fala de seus reflexos nas atividades das empresas italianas presentes no país e alerta que, para crescer, a solução no comércio exterior é construir pontes, “e não muros”

À frente da agência para a promoção no exterior e internacionalização das empresas italianas do Brasil desde 2013, Federico Balmas já ocupou o mesmo cargo no Japão (entre 2006 e 2013) e na Argentina (de 1997 a 2003). A rede do ICE, como é conhecido o ente pelo seu nome anterior, conta com 79 unidades operativas em todo mundo, e todas oferecem assistência e consultoria às empresas que querem expandir seus mercados em outros países, de forma a promover o Sistema Itália nos cinco continentes, o que mostra que o made in Italy é uma das prioridades do Estado italiano. Em entrevista à Comunità, Balmas analisou a crise da economia brasileira, causada por fatores como a dependência das commodities, tornando o país mais sensível ao desaquecimento da China, sem falar nos nós estruturais venuti al pettine nos últimos meses, quando as expectativas de quem acreditou que o Brasil estivesse nos trilhos de uma estrada virtuosa acabaram frustradas. O especialista alerta que a retomada do país depende das escolhas econômicas que serão tomadas daqui em diante e que a solução para o comércio exterior não é construir muros — e sim pontes — uma filosofia que, segundo Balmas, a Itália sempre seguiu durante suas crises, enfrentadas desde o pós-guerra.

ComunitàItaliana — A crise econômica e a queda do consumo e da produção industrial este ano têm afetado a atividade das empresas italianas presentes no Brasil?
Federico Balmas — Mais do que a crise econômica, nesse momento, eu falaria também de uma conjuntura negativa que pode, dependendo das ações que serão tomadas, ser superada ou provocar uma crise. Todas as conjunturas nas quais o consumo, os investimentos e a produção industrial mostram uma queda acentuada, influenciam negativamente, e não apenas as empresas italianas aqui presentes, como também — e de forma generalizada — o inteiro tecido empresarial do país, os serviços ligados, e não por último, o capital externo.

CI — Quais são os setores mais e os menos atingidos?
FB — Os mais atingidos são obviamente aqueles do “oil & gas” e da indústria automobilística: setores “drivers” e estratégicos da economia brasileira, com atividades conexas de enorme dimensão e importância. Em seguida, consequentemente, vem o setor das máquinas-ferramentas (no qual a Itália, como se sabe, é líder mundial), atingido pela queda vertical de investimentos nos dois setores anteriormente mencionados. Já os produtos menos atingidos são aqueles inelásticos em relação ao preço: desde a alta tecnologia de nicho aos produtos de consumo para as classes A e B. No momento em que se assiste a uma aceleração do consumo no mercado dos Estados Unidos, a uma retomada — ainda que tímida — na Europa e à abertura de novos mercados, é natural que as empresas italianas, principalmente as pequenas e médias (as chamadas PMI), desloquem a atenção e a prioridade geográfica. Uma das características positivas das nossas PMI é justamente a rapidez com que conseguem colher novas oportunidades no mercado mundial graças à sua “lean organization”, ao alto grau de flexibilidade e à velocidade de decisões, derivadas da sua dimensão. Em relação ao Brasil, 2015 representa para as PMI italianas um ano de observação, de uma espera, para ver se a atual conjuntura econômica negativa se tornará estrutural, ou se vai se transformar em um crescimento inferior ao potencial (o chamado voo da galinha), ou, ainda, se o país vai voltar a ritmos constantes de crescimento.

CI — A crise é mais política do que econômica?
FB — Todas as crises são constituídas por um cruzamento de causas endógenas (de natureza tanto econômica quanto política) e de causas exógenas. No caso do Brasil, chegaram a um pente fino, todos juntos, nós estruturais que ficaram sem solução por demasiado tempo. Juntou-se a isso o desaquecimento de algumas economias, como a chinesa, decisiva para o Brasil, ainda muito desequilibrado e dependente da exportação das próprias commodities.

CI — Como a flutuação do câmbio e a alta do dólar influenciam as empresas italianas?
FB — A desvalorização do real penaliza fortemente tanto a importação dos nossos bens de consumo quanto à venda dos produtos destinados à indústria brasileira. Não a flutuação, e sim a estabilidade do câmbio favorece o fluxo comercial. Não é correto pensar que uma valorização do euro favoreça um aumento de investimentos no Brasil, pois a primeira condição avaliada pelo capital externo é a estabilidade político-econômica do mercado, sem a qual não se consegue programar com segurança o retorno econômico do investimento.

CI — Qual a atual imagem do Brasil na Itália, principalmente para os investidores, após anos de boom econômico e ascensão da classe C, seguidos por uma queda vertiginosa que alguns economistas descrevem como o “voo da galinha”?
FB — Os últimos anos, quando aconteceu um processo de abertura do Brasil ao mundo exterior, nos fizeram crer que o país estivesse caminhando rumo a uma estrada virtuosa, despertando enormes expectativas. Infelizmente estamos constatando que, pelo menos até agora, o país não conseguiu dar uma resposta adequada a um irrefreável processo de globalização em ato e ainda está excluído da cadeia global de valor.

CI — O senhor acredita que a situação econômica brasileira melhore em 2016?
FB — Tudo depende das escolhas econômicas que serão tomadas. Acho importante ressaltar que a questão de fundo não é em quanto tempo pode-se sair de um ciclo negativo, e sim, como construir um crescimento em um ritmo sustentável, ritmo que, no caso do Brasil, não pode ser de 2 a 2,5%. Em outras palavras, a questão é como lançar as bases e promover um crescimento sustentável ao longo do tempo, capaz de explorar todas as potencialidades que o país não expressa de forma plena. Em minha opinião, se o país continuar com uma política de fechamento e isolamento das dinâmicas econômicas mundiais, não vai se desenvolver com ritmos sustentáveis e vai continuar condicionado às commodities: em outras palavras, vai permanecer às margens e frágil. Uma abertura gradual poderá, sem dúvida, causar vítimas, mas seria uma competição saudável capaz de pôr fim em antigos problemas e comportamentos repetitivos, perpetuados como um “déjà vu”.

CI — A Itália se recupera lentamente de uma grave crise. Há alguma vantagem no comércio entre dois países em crise?
FB — A crise faz parte do crescimento, não apenas na economia e na sociedade, mas até nos organismos que vivem. O importante é “como” é enfrentada. Na Itália, já passamos por numerosas crises, desde o pós-guerra até hoje, mas sempre nos recusamos a resolver as coisas fechando as portas ao mundo. Em 1957 (quando foi assinado o Tratado de Roma, que instituiu a Comunidade Econômica Europeia), éramos um país frágil na Europa, mas decidimos aceitar o desafio da competição e de nos colocarmos no jogo, entrando no primeiro núcleo da futura União Europeia. Bem, após essa decisão, veio o chamado “boom econômico italiano”, que representou um crescimento do número de empresas e um aumento da qualidade de vida em geral. Vieram outras crises: a dos anos 1970, a da invasão dos produtos chineses, e essa última e longa crise, da qual parece que estamos finalmente saindo, reafirmando a exigência de uma integração europeia mais forte (e com o mundo). As possibilidades de crescimento das relações entre os dois países são ditadas pelas suas intrínsecas características e complementaridades; porém, para desenvolvê-las, é necessário construir pontes — e não muros. A Itália faz parte da UE, e deve trabalhar, nesse sentido, para uma forte aceleração do processo de negociação com o Brasil, que ainda luta para decolar e que, levando em consideração todos os aspectos, seria muito mais beneficiado do que a Europa. Nós, do ICE, sob a direção da Embaixada italiana, tentamos criar programas de colaboração em setores estratégicos a médio e longo prazo, e não nos deixamos condicionar por conjunturas momentâneas desfavoráveis. O Brasil é e será sempre um país estratégico para a Itália.  

Comunità Italiana

A revista ComunitàItaliana é a mídia nascida em março de 1994 como ligação entre Itália e Brasil.