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Por justiça ambiental e social

23 de julho de 2012 - Por Comunità Italiana

{mosimage}Na Cúpula dos Povos, a ONG italiana A Sud apresentou ideias sustentáveis baseadas em teorias de pensadores como Leonardo Boff, para quem a economia verde não questiona o atual modelo de desenvolvimento

A Cúpula dos Povos, em junho, deu voz a milhares de militantes que vivenciaram, nos acampamentos e nas tendas, debates sobre a construção de alternativas para o uso mais consciente dos recursos naturais. Entidades do mundo inteiro participaram do evento. Os italianos marcaram presença através da organização de cooperação mundial A Sud, que promove a defesa dos territórios, a conversão e a produção de energia limpa, e a luta por justiça ambiental e social. A organização também discute novos paradigmas de desenvolvimento e de democracia participativa, tratando o tema da ecologia em âmbitos político e econômico.
Na tenda Maria da Penha, os representantes da A Sud apresentaram, no quinto dia da Cúpula dos Povos, as ideias eloquentes de respeitados teóricos da atualidade. A mesa de debates, mediada pela militante da A Sud, Marica Di Pierri, contou com a presença do professor português do Centro de Estudo Social (CES), Boaventura de Sousa; de Giuseppe de Marzo, da própria A Sud; do teólogo brasileiro e defensor da Teologia da Libertação Leonardo Boff; de Joan Martinez Alier, da Universidade Autônoma de Barcelona (UAB); e do missionário italiano da comunidade dos Cambonianos Alex Zanotelli. O tema escolhido foi Os Novos Paradigmas da Civilização.
Assim como em outras atividades da Cúpula dos Povos, no local reinou a indignação para com o discurso oficial da Conferência Ambiental da ONU. Durante a Eco 92, a Cúpula dos Povos denunciou os riscos que a humanidade e a natureza corriam por causa da privatização e do neoliberalismo. Vinte anos depois, seu documento final afirma que houve retrocessos em relação aos direitos humanos e da Terra, e que “a Rio+20 repete o falido roteiro de falsas soluções defendidas pelos mesmos atores que provocaram a crise global”.
Nessa atmosfera de ávidas críticas à conferência oficial, Joan Martinez rechaçou a “economia verde”, a qual, segundo ele, transforma a natureza em mercadoria. Para o espanhol, a ideia de progresso e desenvolvimento é distorcida. A vida no planeta necessita de uma “prosperidade sem crescimento”, onde deveria reinar o conceito de sobrevivência e não de exploração desordenada dos recursos naturais. O economista afirmou que os grandes protagonistas das mudanças serão os movimentos sociais, em uma relação de poder horizontal e não vertical.
O ecologista italiano Alex Zanotelli acrescentou que a política hoje se faz nas comunidades locais. Ele vê a mudança acontecer nos pequenos centros de convivência para depois ganhar a forma global. Alex afirma que a destruição da natureza está ligada a uma crise de valores.
— Homens e mulheres esqueceram que a Terra tem direitos e que, sem esses direitos, ela não tem futuro. As comunidades devem reconquistar os valores da terra, da água, do ar e da energia. É uma “esperança de base” para sairmos da atual crise de valores — ressalta.

Leonardo Boff apresenta seu código de ética planetário
Assim como Zanotelli, o teólogo, filósofo e escritor Leonardo Boff acredita que a economia verde inclusiva, proposta pela Conferência Oficial, não muda a ideia de desenvolvimento vigente por não questionar a relação com a natureza, com o modo de produção, com o nível de consumo dos cidadãos e não levar em conta as grandes desigualdades sociais.
— Um crescimento ilimitado não é suportado por um planeta limitado — defende.  
Em seu discurso, Boff é partidário de uma coalizão de forças com o maior número possível de grupos, movimentos, igrejas e instituições ao redor de valores e princípios coletivamente partilhados, como os expressos na Carta da Terra; nas Metas do Milênio para um desenvolvimento sustentável; na Declaração dos Direitos da Mãe Terra; e no ideal do Bem-Viver das culturas dos povos das Américas, sobretudo os andinos.
Para Leonardo, o Bem-Viver não pode ser reduzido ao bem-estar ocidental e, além disso, se afasta do tipo de desenvolvimento europeu. O Bem-Viver constitui uma luta pela liberação dos espaços locais da cultura hegemônica e se apoia na visão de futuro dos povos indígenas, para a qual a luta por melhores condições sociais leva em conta o reconhecimento social e cultural, e o respeito pela conduta ética e espiritual na relação da sociedade com a natureza.
Boff considera a Carta da Terra um código de ética planetário, semelhante à Declaração Universal dos Direitos Humanos, só que voltado para a sustentabilidade, a paz e a justiça socioeconômica. O texto foi idealizado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas, em 1987, ganhou adeptos na Cúpula da Terra de 1992 e ficou pronto no ano 2000, sendo traduzido para 40 idiomas. Atualmente, a Carta da Terra é apoiada por 4,6 mil organizações de vários países, inclusive do Brasil. Segundo Boff, o documento reúne os princípios básicos da boa convivência dos humanos com o meio ambiente.
— A Carta da Terra é um dos mais belos documentos, se não o mais belo do começo do século XXI. Ela nasceu do grito da Terra e não veio das burocracias estatais. Veio de baixo, dos grupos quilombolas, negros, indígenas, religiosos e centros universitários, de todos os tipos de gente. O século XX foi o século dos Direitos Humanos, e o século XXI será o século dos Direitos da Mãe Terra, dos direitos da natureza, das plantas, dos animais — acrescenta Boff.  
O escritor e ex-membro da Ordem dos Franciscanos enfatizou que a Terra demora um ano e meio para se refazer. Daí a necessidade do uso consciente dela e da cooperação e solidariedade entre os povos. De acordo com esse pensamento, criou um ensaio civilizatório baseado em quatro virtudes que devem ser seguidas para garantir uma maior longevidade do planeta e de seus frutos.
— Hoje, é necessário que os povos pratiquem a hospitalidade, o direito de ser acolhido e o dever de acolher; a boa convivência, aceitar a pluralidade cultural; a tolerância, o reconhecimento do direito de ser e pensar do outro; e de se aprofundar a comensalidade, para que todos os seres humanos tenham direito de comer e fazer isso como rito, como celebração de vida — ressaltou o teólogo.
O ecologista italiano Giuseppe de Marzo acrescenta ao discurso de Boff a urgência em reconstruir outra ética, uma ética da Terra, a partir da justiça participativa, e não distributiva, porque, no caminho do capitalismo, todos os bens são privatizados.
O professor português Boaventura de Sousa fechou o ciclo de debates, retratando a Conferência Ambiental da ONU como um evento que deixou em evidência a capital fluminense, porém sem apresentar soluções em âmbitos social e ambiental.
— O Brasil está trabalhando no photoshop para fazer bonito para o mundo, e a Cúpula dos Povos é o Cavalo de Tróia da economia verde — resumiu.
Boaventura acredita que a agenda socioambiental apresentada pela Conferência Oficial é vaga. Ele propõe duas agendas para o Brasil. A primeira seria a única, segundo ele, capaz de articular a luta rural e urbana — como foi o caso da Colômbia, contra a privatização da água e com a campanha contra os agrotóxicos. Já a segunda mudaria a base de tudo: a forma como a sociedade se mobiliza.
— Os movimentos sociais têm de parar de olhar para os próprios interesses e devem começar a abrir o campo de visão: alterar o sistema político e melhorar as ferramentas participativas disponíveis para a sociedade. Para que haja um ponto de encontro. E qual é o único espaço público que ainda não foi capitalizado? A rua. Movimentos sociais ou organizações não são o único modo de fazer política. Há essa gente que não está organizada, mas que não é apolitizada — como é o caso dos Indignados, na Espanha, e do Ocupy, em Nova York — conclui Boaventura.  

 

Comunità Italiana

A revista ComunitàItaliana é a mídia nascida em março de 1994 como ligação entre Itália e Brasil.