Evento reuniu expoentes do setor empresarial da Itália e representantes do governo brasileiro para discutir planejamento dos megaeventos esportivos de 2014 e 2016
{mosimage}Interessado nas oportunidades trazidas por competições como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, o governo italiano, por meio do Ministério do Desenvolvimento Econômico e do Ministério das Relações Exteriores da Itália, apoiou a missão empresarial “Grandes Eventos Esportivos”, realizada pelo Instituto Italiano para o Comércio Exterior (ICE) em colaboração com a Confederação Nacional da Indústria Italiana (Confindustria) em maio, nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.
A missão aconteceu de 16 a 19 de maio. Os dois dias iniciais foram realizados na capital paulista, e incluíram um seminário sobre as necessidades do Brasil para a Copa de 2014 e as possibilidades de investimento em áreas como infraestrutura e construção. No Rio, o seminário Grandes eventos esportivos ofereceu um panorama dos investimentos previstos para setores como transportes, infraestrutura e hotelaria para 2014 e 2016.
A iniciativa faz parte do projeto Italy for Sport, que pretende aumentar a participação da Itália nos principais eventos esportivos mundiais.
Fortalecimento da economia
Em São Paulo, o seminário aconteceu na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e reuniu cerca de 120 empresários italianos. O evento foi conduzido pelo vice-presidente da Fiesp, José Carlos de Oliveira Lima, e teve a participação de representantes dos ministérios dos Esportes e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil, além da Secretaria de Economia e Planejamento do Estado de São Paulo e especialistas da área da construção.
Em seu discurso no início do seminário, o vice-presidente de relações internacionais da Confindustria, Paolo Zegna, declarou que o fortalecimento da economia brasileira traz muitas oportunidades interessantes, que podem ser aproveitadas pela indústria italiana.
— Os empresários devem ver não só as oportunidades imediatas, mas pensar a longo prazo. O PIB do Brasil cresceu 7,5% em 2010 e a previsão para 2011 é de 4,4% de crescimento, o que fará a economia brasileira superar a italiana. O Brasil saiu da crise econômica mundial antes e talvez muito melhor do que qualquer outro país e sua população tem crescido e consumido cada vez mais. O potencial do país é enorme e nós, italianos, queremos fazer do Brasil um país maior do que ele já é — disse Zegna.
Ambição
O vice-presidente da Confindustria classificou a missão empresarial como intensa e ambiciosa e disse ser um evento mais focado do que as missões organizadas anteriormente pela confederação italiana.
— É uma missão mais específica, com visitas a empresas brasileiras e muitos contatos com empresários, através de seminários e mesas-redondas. A programação é bastante intensa, mas muito produtiva — resumiu.
Já o presidente do ICE, Umberto Vattani, considera que nos últimos anos a relação entre Itália e Brasil tem se tornado mais estreita, e que a Fiesp tem acompanhado esse crescimento no intercâmbio entre os dois países.
— Em 2006, tivemos a primeira missão empresarial Brasil-Itália, no ano passado teve a participação do primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, e este ano discutimos a Copa do Mundo, um evento que atrai a atenção de todo o planeta — lembrou — O Brasil passa por uma verdadeira revolução econômica, com crescimento sem freios. A economia tem alcançado resultados incríveis e a Itália, com sua indústria avançada nas áreas de infraestrutura, construção, hotelaria e transporte, pode contribuir ainda mais para esse crescimento — disse Vattani, citando que o número de empresários italianos presentes mostrava o apreço que “temos pelo Brasil”.
Com uma economia focada nas pequenas e médias empresas, a Itália pretende fechar cada vez mais negócios com o Brasil.
— Só no ano passado, as importações para o Brasil cresceram 32% e agora já estão em 43%. Posso dizer que em nenhum lugar as importações italianas cresceram tanto. As empresas da Itália chegam no país oferecendo seu patrimônio de tecnologia e inovação, são como pequenas Fiat, carregando a tradição italiana do produto de qualidade — afirmou o embaixador Gherardo La Francesca.
— Recentemente, fizemos missões empresariais no Espírito Santo, Pará e Maranhão. Essa nova imigração italiana está se expandindo no Brasil e acredito que essa nova etapa nas relações dos países terá muito êxito — continuou o embaixador.
Habitação
Do lado brasileiro, o vice-presidente da Fiesp lembrou que o Brasil possui atualmente um déficit habitacional de 5,8 milhões de moradias, especialmente nas regiões Sudeste e Nordeste, e que os empresários italianos do setor da construção têm nessa demanda uma grande oportunidade de negócios.
— Como empresário e líder do setor da construção, acredito muito no potencial do Brasil e convido todos a investirem no país, pois o lucro é certo — enfatizou Lima, lembrando que a Itália ocupa hoje a 18ª posição no ranking dos maiores investidores no Brasil e tem ainda muito espaço para aumentar sua participação.
Além de atrair investimentos em infraestrutura e turismo, a Copa do Mundo e as Olimpíadas movimentarão diversos outros setores da economia brasileira. O assessor especial do Ministério dos Esportes do Brasil, Joel Benin, prevê que os eventos esportivos terão um impacto econômico de R$ 183,2 bilhões até 2019. Desse total, R$ 47 bilhões virão da geração de empregos, aumento do turismo e do consumo, investimentos em infraestrutura e impostos arrecadados pelo governo. A expectativa é de que as competições atraiam 600 mil turistas internacionais e 3 milhões de turistas brasileiros.
Com tantas oportunidades e necessidades de investimento, o maior desafio agora é realizar todos os preparativos da Copa até 2014. O vice-presidente de Arquitetura do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco), Leon Myssior, alertou para o estado crítico em que muitas cidades-sede se encontram e para as dificuldades que terão para se adequar ao evento.
— Ainda em 2006, o Sinaenco realizou a vistoria de estádios em cidades candidatas a sediar a Copa e o que vimos foi um quadro de total desolação: equipamentos obsoletos, cidades despreparadas e governos que não se dão conta dos desafios do evento.
Para o arquiteto, a Itália pode contribuir para reverter essa situação. Ele lembrou que construções industrializadas e estruturas pré-fabricadas foram implantadas com sucesso nas cidades italianas, e podem ser usadas no Brasil.
— Não dá para progredir do jeito que precisamos à base de tijolo empilhado. O Brasil tem agora a oportunidade de implantar soluções que a Itália já adota com sucesso — defende.
Momento brasileiro
No Rio de Janeiro, o seminário sobre grandes eventos esportivos reuniu, na sede da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), representantes do governo e do empresariado brasileiro e italiano. Na abertura, o cônsul geral da Itália no Rio, Umberto Malnati, destacou o “momento brasileiro internacionalmente reconhecido”.
— O Brasil é o país que reúne as características mais interessantes para o empreendedorismo. Em especial, trata-se de um momento “carioca”. A cidade tem mostrado uma forte expansão social e econômica nos últimos anos — afirmou.
O vice-presidente da Firjan, Carlos Gross, chamou atenção para a identificação cultural entre os dois países, e afirmou que os investimentos italianos, além de serem muito bem-vindos, servirão para fortalecer mais ainda os laços antigos entre Brasil e Itália.
O vice-presidente de Infraestrutura de Confindustria, Cesare Trevisani, lembrou a importância do seu setor para a missão empresarial.
— A área de infraestrutura oferece boas possibilidades. As empresas brasileiras desse setor são muito fortes, mas, com a nossa tecnologia, temos muito a oferecer.
O diretor do ICE, Giovanni Sacchi, que fez parte do painel de abertura, deu as boas-vindas a todos os presentes e desejou aos empresários “ótimos negócios”.
Panorama
O segundo painel ofereceu um panorama sobre os investimentos previstos nos setores de transporte, hospedagem e infraestrutura do Rio para a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.
Ruy Cezar, secretário especial 2016 da Prefeitura, apresentou números sobre os planos de investimentos e o impacto econômico dos eventos. A previsão é que a cidade receba, em 2016, um milhão de turistas, e que 120 mil empregos adicionais sejam criados ao ano entre 2009 e 2016. Pedro Casotti, da Agência Rio Negócios, deu detalhes sobre os projetos de transporte, nos aeroportos e na indústria hoteleira. Roberto Kauffmann, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Rio, explicou aos empresários italianos como poderiam investir no programa habitacional “Minha Casa Minha Vida”.
Luiz Fernando Reis, presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada, exibiu projetos que preveem a criação de estruturas como o centro internacional de radiofusão, o centro de mídia e mais postos médicos na cidade. Alberto Gomes Silva, do Consórcio Porto Maravilha, falou sobre os projetos de reformulação da zona portuária carioca, enquanto Ícaro Moreno Junior, presidente da Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro, entidade responsável pelas reformas no Maracanã, deu detalhes sobre as obras que estão sendo realizadas no estádio.
À tarde, uma rodada de negócios permitiu a troca direta de ideias entre os empresários e representantes de órgãos públicos dos dois países.
Segundo o presidente da Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio e Indústria do Rio de Janeiro, Pietro Petraglia, o evento na sede Firjan foi importante para dar uma visão real do que acontecerá no estado nos próximos anos.
— Tivemos aqui os principais players da nova fase do Rio que deram a justa relevância do que acontecerá daqui para frente. O mais importante é que constatamos um nível elevado de satisfação do empresariado italiano após os encontros b2b e o término da missão.
Vanessa Corrêa, de São Paulo,
e Cintia Salomão Castro, do Rio de Janeiro