Aprovação da nova holding é seguida por rumores de mercado e queda das ações da montadora na Piazza Affari, mas Marchionne se diz confiante na criação da Fiat Chrysler Automobiles
Sete meses após o anúncio da fusão entre um dos símbolos da indústria italiana, a Fiat, e a americana Chrysler, gerando temor pelo fechamento de fábricas e demissões em massa, continuam a surgir fatos novos antes da união definitiva. No dia 1º de agosto, havia sido confirmada a aprovação, pelos acionistas, por maioria, da fusão que dará origem à Fiat Chrysler Automobiles (FCA), cuja sede legal será a Holanda, enquanto a base fiscal ficará estabelecida no Reino Unido.
“Este é só o início. Quem permanecer como acionista, como eu, terá grandes satisfação”, chegou a dizer à imprensa o presidente da Fiat, John Elkann. Quando a fusão entrar em vigor, o conselho de administração da FCA deverá ser composto por Elkann, Sergio Marchionne, Andrea Agnelli, Tiberto Brandolini D’Adda, Glenn Earle, Valeria A. Mars, Ruth J Simmons, Ronald L. Thompson, Patience Wheatcroft, Stephen M.Wolf e Ermenegildo Zegna. Após a aprovação, Elkann afirmou que o objetivo da família é continuar sendo “protagonista ativo, na Itália e no mundo”. Ele também negou que a empresa possa ser vendida à alemã Volkswagen. “Jamais. Eu não comprarei nenhum Volkswagen e Peugeot; apenas carros da nossa empresa”, brincou.
Porém, apenas quatro dias depois da aprovação pelos sócios, em 5 de agosto, as ações da Fiat tiveram forte queda na bolsa de valores da Piazza Affari, em Milão, onde houve um recuo de mais de 7%. Segundo os analistas, as vendas foram provocadas pelo direito de recesso a partir da fusão com a gigante americana, fixado em 7,727 euros. O número de sócios que não concordam com a operação anunciada estaria em aumento. A possibilidade de um recesso superar a faixa de 500 milhões e a soma a ser paga aos credores contrários à criação da nova empresa são fatores que poderiam levar ao cancelamento da fusão, visto que a família Agnelli sempre afirmou que não colocaria um centavo a mais no processo. Os temores no mercado levaram Sergio Marchionne a declarar-se confiante que a cifra não será superada. No entanto, acrescentou que, caso o fato aconteça, a criação da holding seria reapresentada ao mercado em um segundo momento.
Promessas são vistas com desconfiança pelos sindicatos italianos
O fato é que, embora a maior fabricante da Itália esteja saindo de casa depois de 115 anos, o empresário nascido em Chieti, naturalizado canadense e residente na Suíça afirma continuamente que não quer abandonar o país de origem e que pretende manter as funções de administração e tecnologia da informação em Turim. Além disso, Marchionne prometeu manter abertas todas as fábricas italianas da Fiat e recontratar 30 mil funcionários da linha de produção que, em sua maioria, estão de licença — embora os líderes sindicais italianos encarem tais promessas com muita desconfiança. O empresário também anunciou que pretende montar na Itália o compacto Jeep Renegade e outros modelos da Chrysler, e expandir marcas de alta gama como Alfa Romeo e Maserati com o objetivo de competir internacionalmente com nomes como BMW, Audi e Porsche.
A partir do casamento da Fabbrica Italiana di Automobili Torino com uma montadora americana, será mais fácil sair da era das montadoras nacionais e concorrer com gigantes internacionais como General Motors e Volkswagen. A crise na economia italiana, com altos níveis de desemprego e estagnação, atingiu a montadora torinese na última década. Com a criação da holding, a Fiat planeja investir 55 bilhões de euros nos próximos cinco anos para aumentar em 61% as remessas, totalizando 7 milhões de carros até 2018. De qualquer forma, a cifra ainda é menor do que a meta da Volkswagen de vender 10 milhões de veículos neste ano.