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Posso levar o meu vinho?

14 de setembro de 2015 - Por Comunità Italiana
Posso levar o meu vinho?

AryGrandinettiNogueiraAry Grandinetti Nogueira
é formado em administração de empresas e trabalhou por 40 anos na TV Globo, onde implantou modelo de gestão e chefiou a área de Desenvolvimento Artístico.

 

 

 

Remédios caseiros, cuja prescrição não recomendo a nenhum amigo sem consulta prévia a um especialista

Meus 62 anos me permitiram chegar a algumas conclusões para a vida prática. Um aprendizado pessoal, como remédios caseiros, cuja prescrição não recomendo a nenhum amigo sem consulta prévia a um especialista.
Uma delas é que me recuso, hoje, a entrar em fila para gastar dinheiro. Consequentemente, não vou a restaurantes que não aceitem — e respeitem — reservas. Como almoço e janto fora frequentemente, aguardar em filas equivaleria a desperdiçar expressivo volume de tempo da minha terceira e última idade em espera para gastar dinheiro. Fila, de maneira geral, já é uma evidência de desapreço à civilidade. Pressupõe o abuso unilateral de subjugar o outro ao seu interesse. Isso vale para qualquer fila. A cada ano, aproveitar utilmente a vida torna-se uma moeda mais valiosa. Resolvi a minha vida selecionando criteriosamente excelentes restaurantes, que frequento assiduamente.
Outro aprendizado é que cumpro e brigo pelos direitos adquiridos pela idade — e outras prioridades. Exijo que os meus direitos de idoso sejam respeitados. Paro na vaga dos veinhos e reivindico a minha preferência. Como tenho imenso orgulho da minha trajetória e da minha idade, não faço a menor questão de simular, ridiculamente, que “farei 58 no ano que vem”.
Vivo o melhor momento da minha vida, nessa fase dela. Edifiquei a minha carreira profissional, construí uma família com filhos maravilhosos e, agora, vivo um segundo — e definitivo — casamento, após o (predestinado?) reencontro com a mulher de quem fui o primeiro namorado, ela com 14 anos, eu, 16. Reuni poucas e sólidas amizades. Mais ou menos aposentado, dono do meu tempo, dedico-me hoje, intensamente, a tudo que a vida nos faz abdicar enquanto estamos trabalhando: à minha companheira, à família, hoje aumentada pelas minhas netinhas, e aos amigos. Qualquer investida profissional terá que passar por uma longa fila (olha ela aí de novo) de prioridades da família e dos longos almoços e jantares com amigos e confrarias de vinho.
Há também os velórios. Ao amigo que me interpelar “não te vi no meu velório”, já tenho uma resposta pronta: eu também não te vi; nem no seu nem no meu…
Decidi que, doravante, não pretendo ir nem ao meu. Para me precaver dessa penitência, já tenho preparada, oficialmente, a autorização de cremação, e o pedido à família que não permitam velório. Se alguém não me disse tudo o que queria em vida, fica para a próxima… Amigo que é amigo jamais cobraria de um amigo a ausência ao seu velório. Aquilo ali é uma interminável e mórbida cerimônia, onde a família e o amigo vão para sofrer e os inimigos para se certificarem que o cabra morreu mesmo, definitivamente. Quanto mais a idade avança, chegará um momento em que eu precisarei anotar na agenda para não faltar a nenhum velório. Aproveito para reiterar, nessa oportunidade, o pedido para que os amigos sintam-se dispensados dessa cerimônia do adeus. Em vez disso, brindem à minha memória e me protejam contra a maledicência dos covardes.
E agora, o meu vinho. A polêmica entre clientes e restaurantes sobre aqueles levarem o próprio vinho me parece se aproximar, ajudada pela crise, de um consenso. Eu já havia me antecipado, não indo a restaurantes que me impeçam de levar. Não posso reivindicar essa cortesia em um restaurante que frequento bissextamente ou pela primeira vez. Mas sinto-me à vontade para fazê-lo onde marco presença habitual. Os restaurantes não cobram menos do que 100% sobre o preço de compra, sendo que alguns vão a 250%. A crise combaliu gravemente o hábito de comer fora, levando a uma rarefação de clientes. A nova taxação (a inexplicável ST – Substituição Tributária) sobre os vinhos, que elevou automaticamente o preço em 50% na ponta, alcançou também aqueles que ainda frequentam restaurantes, mesmo com menor assiduidade. Esses fatores proporcionaram uma acomodação de interesses para a sobrevivência. Muitas cartas foram reduzidas em opções e qualidade. E a aceitação do vinho pessoal já é política para a maioria. Evidentemente, a conta aparece por outros caminhos, como água de 10 a 25 reais e café de 6 a 10. Entendemos que os restaurantes tenham que ganhar dinheiro. Como ninguém pede o cardápio para ver quanto custa a água e o café, itens como esses viram um ambiente de alívio para as necessidades dos donos.
Voltando aos mimos da vida, minha mulher tem prioridade absoluta em tudo. Ou seja, por mais baixa, elegante e doce que seja a sua voz, para mim sempre será a definitiva. Concorrendo com 1.000, ela ganha de 1.001.
Meus filhos têm lá suas famílias, seus filhos e amigos. Pais e filhos são amigos para sempre. Mas eles têm a sua vida e eu não posso pretender — muito menos exigir — me alastrar pelo espaço que lhes pertence.
Aí entram os amigos, maior patrimônio que colecionamos na vida. Esses começam por compreender todas as respostas acima e mais as que não foram feitas. Qualquer pedacinho de tempo é suficiente para um querido amigo matar as saudades e nos trazer grande felicidade. Pena que, no meu caso, certamente por minha exclusiva inabilidade, colecionei tão poucos verdadeiros amigos, aqueles irmãos escolhidos. Mas eles são mesmo raros, e uma parábola do meio-amigo retrata, de forma muito comovente, a dificuldade de encontrá-los. Mas isso já é assunto para uma próxima coluna…  

Comunità Italiana

A revista ComunitàItaliana é a mídia nascida em março de 1994 como ligação entre Itália e Brasil.