Comunità Italiana

Posto do futuro

Autogrill sustentável com lojas de grife, espaço verde e painéis de energia solar faz do simples ato de abastecer o carro uma experiência multissensorial de lazer

As rodovias italianas são famosas no mundo inteiro pela qualidade da obra de engenharia. Atravessam lagos, colinas, montanhas, planícies, vales. Gigantescos viadutos apoiam estas enormes serpentes de asfalto. A rede de integração rodoviária nem de longe supera a malha ferroviária, porém ocupa um papel importante na vida do italiano desde a época do pós-guerra. A cultura do automóvel, endêmica e presente no DNA do país — basta pensar no mito da Ferrari e na popular e resistente Fiat — acelerou o desenvolvimento das obras de infraestrutura para o transporte de passageiros e mercadorias através das estradas. Longos e largos retilíneos, com até quatro faixas, cortam a Itália de ponta a ponta. À margem, algumas cidades cresceram, sem falar no surgimento dos postos de gasolina que, na verdade, são ilhas de repouso e tranquilidade, ao lado das passagens velozes dos carros. Pani e Tulipani, famoso filme de Silvio Soldini, conta a história de uma mulher “esquecida” num Autogrill da vida, um desses lugares criados para o motorista parar e descansar e partir depois de tomar um café, ou de tirar uma “siesta” dentro do carro. Estes enormes espaços, em muitos casos, existem em ambos os lados da rodovia, ligados por um viaduto comercial, quase um shopping center suspenso entre o céu e o asfalto. As bombas de gasolina e diesel são apenas um detalhe em meio ao complexo centro de consumo. A construção de um Autogrill requer visão e competência técnica. Um dos últimos traz a marca do terceiro milênio, ou seja, a preocupação com o meio ambiente. Em muitos casos, deturpam o paisagismo e a economia de energia. É o caso do Autogrill Villoresi Est, na rodovia Milano-Laghi (Lagos), a principal porta de entrada da Europa na Itália, com um fluxo anual de 30 milhões de veículos. A obra foi concebida pelo arquiteto e designer Giulio Ceppi, Phd no Politécnico de Milão, além de ser o fundador da Total Tool, uma empresa multidisciplinar que atua nos mais variados campos do design, presente em Milão, Tóquio e Buenos Aires.
O desenho, a atenção ao meio ambiente ao redor e o conceito de sustentabilidade deram direção ao projeto pioneiro. A estrutura surge na forma “conoide”: a torre chama a atenção pelo cilindro irregular, mas de traços suaves. Lentamente, atinge a altura de 27,5 metros e tem capacidade para abrigar 289 veículos. Enquanto a cobertura ganha “altitude”, o subsolo é perfurado para dar lugar a um sistema de 420 sondas geotérmicas, a 25 metros abaixo do nível da superfície. A fonte térmica de calor proporciona uma potência equivalente a 380 kw. O ponto alto do projeto, concebido com material 100% reciclável, é a interação entre a natureza e as condições de trabalho no interior deste grande centro de abastecimento, de combustível e de “víveres”.
A área construída de 2.500 metros quadrados, em um terreno com 78 mil e 19 mil de espaço verde, é totalmente acessível às pessoas diversamente hábeis e com amplas zonas de livre circulação. A iluminação é, em boa parte, natural e compensada com lâmpadas Led de última geração. A temperatura se mantém estável graças à combinação de diferentes fontes de calor: a geotérmica, que vem do fundo da terra, e a solar, dos painéis no lado externo. A conta final apresenta uma redução de 45% no gasto com o aquecimento interno, além da diminuição da emissão de CO2 em 85%. Há uso de água coletada da chuva e do lençol freático, equivalente ao consumo anual de 128 famílias, ou seja, 25.550 metros cúbicos, usada para diferentes contextos, da irrigação às máquinas coletivas de lavar roupa.
Em tempos de vacas magras, o anúncio da conclusão de uma obra desta envergadura, privada, ao custo de 15 milhões de euros e realizada dentro do prazo previsto, é recebido com otimismo. Ali mesmo foram criadas salas de conferência e zonas de gastronomia e de shopping de marcas de luxo. Tudo foi pensado para transformar um banal abastecimento em uma experiência multissensorial: uma “desculpa” para o viajante se conceder momentos de lazer. Só falta mesmo uma pensão para os motoristas sonolentos. Vista da terra, este novo modelo de posto de gasolina mais parece uma estação orbital.