Um pedido de amizade no Facebook pode esconder um sistema para subtrair dados e falsas identidades virtuais podem influenciar orientações políticas de uma comunidade. O Google conhece cada um de seus usuários através de interesses e curiosidades, além de guardar imagens que muitos serviços secretos do passado não conseguiriam jamais obter. Essas verdades absolutas de nossos tempos são utilizadas por grupos de piratas informáticos ou hackers, coordenados em nível planetário, que trabalham neste momento seguindo um modelo hierárquico-militar para estruturas de governos e para diversos grupos de poder.

A quantidade de informações, a rapidez na difusão e a distância ilimitada criam a sensação de uma anarquia no mundo da Rede que influencia diretamente no mundo real. De um momento a outro, uma avalanche de notícias muda o cenário político interno de alguns países e os rumos da política internacional. Havia já acontecido no caso Wikileaks, quando em 2010 se obteve dados secretos dos diplomatas e militares americanos. Em 2013, Edward Snowden revelou que a National Security Agency realizava controle em conversas telefônicas e caixas de mensagens de milhões de pessoas pelo mundo.

A fonte anônima que revelou o conteúdo de arquivos do escritório de advocacia Mossack Fonseca, no Panamá, se apropriou de quase três terabytes de material. Doze milhões de documentos que envolvem líderes e personalidades dos mais diversos países.

Na Itália, grandes discussões sobre a invasão de privacidade por conta das interceptações repercutiram nos últimos dias na mídia. O impasse é em torno de onde começa e onde termina o bom senso e a responsabilidade sobre as investigações. A utilidade para fins de descobrir os culpados por malfeitos não é contestada, mas sim a forma como são utilizados os dados que muitas vezes entram em questões familiares e fofocas. O tema será discutido e o governo italiano analisará reforma de lei para por fim aos abusos.

Nesta edição, uma exclusiva com o amigo e ex-sócio de Umberto Eco, o professor da Universidade da Calábria, Nuccio Ordine, traz análise do papel fundamental da Escola como meio de resistência às falsas mensagens da sociedade. Aos jovens a todo o momento é passado que dignidade é proporcional ao dinheiro. Nuccio, que é de uma das regiões menos desenvolvidas da Itália, é enfático: “Eu vivo na Calábria, onde há máfia, e sei muito bem que a delinquência e também a corrupção não se combatem com boas leis. Boas leis ajudam, mas para lutar contra a corrupção e o crime é preciso educar os jovens aos grandes valores”.
Boa leitura!