Sem representantes da América Latina na mostra competitiva, Festival de Veneza coloca o cinema americano e o europeu no topo do mundo
Mais uma vez o cinema brasileiro ficou de fora da festa italiana. Privilegiando o cinema americano e, especialmente, o europeu, a 71ª edição do Festival de Veneza, o evento cinematografico mais antigo do mundo, aconteceu de 27 de agosto a 6 de setembro, no Lido di Venezia. Já na coletiva de imprensa, antes da abertura do evento, o diretor da Mostra, Alberto Barbera, tentou justificar a ausência da America Latina no festival.
“Apesar de nossos desejos não encontramos nenhum filme que pudesse estar dignamente no Festival de Veneza”, disse Barbera.
Antes da cerimônia de abertura, uma manifestaçao tomou conta do Lido e chegou à porta do Festival. Com a presença do presidente da República Giorgio Napolitano e do ministro dos Bens Culturais Dario Franceschini no evento, os manifestantes protestavam sobre as atuais condiçoes politico-social da Itália. A polícia precisou intervir para que os convidados conseguissem chegar ao tapete vermelho.
Coube ao diretor mexicano Alejandro González Iñárritu (Babel) e seu sarcástico Birdman a responsabilidade pela abertura desta edição de Veneza. O longa conta a história de um astro decadente do cinema, interpretado por Michael Keaton, que se esforça para dar a volta por cima em sua carreira. Keaton, que nos anos 1990 viveu o Batman de Tim Burton nos cinemas, tem atuação memorável e o filme fez tanto sucesso no Lido que saiu como um dos mais fortes concorrentes ao Oscar 2015.
Ainda na mostra competitiva, um dos destaques na corrida pelo Leão de Ouro foi o filme Pasolini, de Abel Ferrara (O Rei de Nova York), cinebiografia sobre as 24 horas que antecedem ao assassinato do cineasta Pier Paolo Pasolini, um dos mais emblemáticos diretores italianos, responsávél por obras como O Evangelho Segundo São Mateus. O ator americano William Dafoe interpreta Pasolini.
Duas vezes Al Pacino
Outra presença marcante no Festival foi Al Pacino. Depois de ser homenageado em 2011, o ator retornou a Veneza com dois trabalhos: The Humbling, de Barry Levinson, exibido fora de competiçao, e Manglehorn, de David Gordon Green, concorrente ao prêmio principal.
Também exibiram seus novos trabalhos durante o Festival de Veneza nomes como Fatih Akin,com The Cut, e Andrew Niccol,com Good Kill, ambos com temática de Guerra. Entre os italianos, o cineasta Francesco Munzi apresentou um relato da máfia calabresa em Anime Nere (Almas Negras, em tradução literal), estrelado por Marco Leonardi, o galã do clássico Cinema Paradiso.
“Na verdade quis sair do clichê e fiz um filme que trata de uma tragédia em família, mais que um filme de gângsters”, revelou Munzi durante a coletiva de imprensa do longa.
Ao todo, 20 filmes concorreram ao Leão de Ouro e a seleção criteriosa teve como objetivo surpreender, segundo Alberto Barbera. “São 55 filmes inéditos, 20 deles na mostra principal, e todos vão causar surpresa. A guerra e a recessão são os temas mais recorrentes. É triste, mas estamos vivendo um momento no qual o espectro da guerra mais uma vez cresce dramaticamente”, revelou Barbera.
Nas mostras paralelas, cineastas consagrados como Manoel de Oliveira (Singularidades de Uma Rapariga Loira), Peter Bogdanovich (A Última Sessão de Cinema), Joe Dante (Gremlins) e Amos Gitai (O Dia do Perdão) apresentaram seus novos filmes.
O encerramento da 71ª edição do Festival de Veneza ficou com o chinês The Golden Era, de Ann Hui. O vencedor do Leão de Ouro foi decidido por um júri presidido pelo compositor francês de trilhas sonoras Alexandre Desplat. Na coletiva do júri, antes do festival começar, Desplat disse que os prêmios em festivais ajudam a carreira dos cineastas. “Espelhado em minha biografia, eu sei que as possibilidades de continuar trabalhando, às vezes, dependem fundamentalmente dos prêmios conquistados”, concluiu.