{mosimage}Economista-chefe do maior banco italiano confia que país se sairá vencedor da crise caso o governo desburocratize a abertura de empresas, promova a reforma trabalhista, combata a sonegação e venda o patrimônio imobiliário do governo em Roma
A especulação financeira mexe decisivamente com a Itália. No roldão da disputa pelos ganhos fáceis e difíceis no mercado, a economia sofre com as oscilações dos humores dos investidores e com as reais condições de empresários e trabalhadores do país, que precisa gerar medidas que contenham a dívida pública, mas que incentivem o crescimento. É como assoviar e chupar cana, ao mesmo tempo. No encontro com a imprensa estrangeira, em Milão, Gregorio De Felice, o economista-chefe da maior instituição bancária da Itália — o Intesa Sanpaolo, fruto da fusão dos bancos Intesa e Sanpaolo IMI, com mais de 11 milhões de clientes — ilustrou os possíveis cenários que se desenham no horizonte italiano.
— Um dos desafios é convencer os investidores estrangeiros a voltarem à Itália. A renovação da dívida italiana é fundamental. Uma consolidação fiscal e medidas de incentivo ao crescimento podem resgatar a confiança no sistema do país — afirmou De Felice.
De acordo com as análises do banco, se as principais medidas forem tomadas pelo governo italiano, as chances de o país sair da crise são grandes.
— Esperamos que, chegando a um equilíbrio de balanço com estratégias concretas, como as mudanças no ICI, na pensão, na taxação de operações financeiras e no aumento do IVA, o cenário possa melhorar. Qualquer estudante poderia garantir isso, com uma boa capacidade de acerto, como resultado de um equilíbrio de balanço — disse o economista graduado pela universidade Luigi Bocconi de Milão.
Medidas nas aposentadorias também são bem-vindas e fazem conta com o aumento da expectativa de vida da sociedade. A idade de aposentadoria para a mulher subiu para 62 anos e vai chegar a 66 para ambos os sexos em 2018. Para equilibrar as medidas de contenção de gastos, é importante calibrar bem aquelas de crescimento — a exemplo de taxas de incentivos para a população jovem, maiores espaços e salários para a mulher, e obras de infraestrutura.
— O investimento em pesquisa e desenvolvimento na indústria que transforma, inova e agrega valor à matéria-prima é um elemento fundamental para aumentar a competitividade — comentou o italiano.
O banco aponta ainda a desburocratização como uma peça importante para voltar a atrair investidores.
— A simplificação das regras e o menor tempo para se obter autorização para abrir uma atividade econômica é uma questão que precisa ser resolvida, até para diminuir o problema da corrupção. O italiano precisa mudar a mentalidade — alerta.
Qualidade do made in Italy como ponto de força
A instituição bancária espera que a estratégia do governo consiga ter sucesso na reforma das leis trabalhistas e do mercado do trabalho, na liberalização da economia, na luta contra a sonegação fiscal e na venda de patrimônio imobiliário do governo em Roma. Tudo isso, no entanto, depende das decisões tomadas pela União Europeia.
A Itália tem como ponto de força a alta qualidade dos produtos fabricados internamente, ressaltam os analistas. Depois da Alemanha, foi a nação que menos perdeu cotas no mercado internacional. Entre 2000 e 2010, a Itália perdeu 0,7%, contra 0,1% da Alemanha; 1,6% da França; 1,7% da Inglaterra; 2,3% do Japão; e 2,3% dos Estados Unidos.
— Isso mostra a importância que as nossas empresas deram ao direcionamento e à qualidade dos produtos propostos ao mercado. A perda de cota deveu-se, principalmente, ao avanço dos países emergentes e já industrializados — explica Gregorio De Felice.
Em um ranking de 189 nações, a Itália aparece em segundo lugar, atrás da Alemanha, em um índice composto por cinco quesitos: a diversificação da geografia dos mercados; a cota de mercado mundial; a balança comercial e exportação per capita; e a diversificação de cada setor macroeconômico. Nove regiões italianas integram a comissão de frente do comércio mundial: Emília-Romanha, Friuli Venezia Giulia, Lombardia, Marche, Piemonte, Valle d’Aosta, Toscana, Trentino Alto Adige e Vêneto.
— Neste momento de crise europeia, os países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) têm um papel importante na política internacional. Podem ajudar, mas precisam de reconhecimento de natureza política, o que significa maior poder de decisão em geopolítica internacional — conclui Gregorio De Felice.