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Reciclar com inventividade

28 de junho de 2016 - Por Comunità Italiana
Reciclar com inventividade

Reciclar com inventividadeNa 15ª Bienal de Arquitetura de Veneza, em cartaz até 27 de novembro, sustentabilidade é a palavra-chave

“A arquitetura significa dar forma aos lugares onde as pessoas vivem. E isso implica nos passos seguintes: inventar e agir. Agir contra a escassez, com inventividade; contra a abundância, com pertinência”. As palavras do diretor artístico da 15ª edição da Bienal de Arquitetura de Veneza, o chileno Alejandro Aravena, de 48 anos, explicam claramente o seu pensamento: reciclar é preciso. Ele colocou suas ideias em ação: cem toneladas de material usado na edição anterior, que incluem dez mil metros quadrados de plásticos e 14 quilômetros de tubos de metal, foram transformados num acolhedor espaço de recepção. Na sustentabilidade do ser, não foi à toa que o arquiteto brasileiro Paulo Mendes da Rocha, aos 87 anos, recebeu o Leão de Ouro por sua carreira na abertura, em 28 de maio.
Segundo as motivações citadas pelo Conselho de Diretores da Bienal de Veneza, com recomendação de Aravena, Paulo Mendes da Rocha é um desafiador anticonformista.
— Fico lisonjeado, porque o conformismo é uma das piores coisas que se possa imaginar. Não sou conformista com muito orgulho —resumiu à Comunità.
Em sua trajetória como arquiteto, Mendes da Rocha assumiu uma posição de destaque no Brasil e no mundo. Ele já recebeu vários reconhecimentos internacionais, entre eles o Prêmio Mies van der Rohe, em 2000, além do Pritzker de 2006, considerado o Nobel da arquitetura. Mas esta é a primeira vez que um brasileiro é homenageado com o principal prêmio do prestigioso evento italiano.
— Trabalhei com um contingente enorme de colaboradores; este é um prêmio também para eles. Se considerarmos o Brasil, é um prêmio para todos nós.
Para Mendes da Rocha, o papel do arquiteto em um mundo que sofre a depredação do ambiente é construir o habitat humano, preservando as virtudes do planeta.
— A natureza por si mesma não é habitável, ela tem que ser construída. Temos que demonstrar com a arquitetura e urbanismo que isso não significa destruir o planeta; ao contrário, ele terá que tornar-se mais humano e cada vez melhor. Esse é o grande desafio — resumiu.
Os critérios de sustentabilidade em suas obras são os espaços feitos para amparar a imprevisibilidade da vida, pois a transformação é permanente. Mas Mendes da Rocha discorda que arquitetura seja um campo em constante mutação. Para ele, a arquitetura como forma de conhecimento nunca mudou na história.
— O homem sempre desejou construir o espaço ideal para a sua condição na natureza. Por exemplo, neste momento, estou em Veneza, lugar onde se pensava que era impossível fazer uma cidade, mas onde o projeto humano da expansão das navegações fez construir esta fantástica cidade com ruas aquáticas no coração da Europa.
No entanto, o premiado arquiteto brasileiro não deixa de ser crítico sobre o que é feito na atualidade.
— A arquitetura vai mal no Brasil e no mundo. Estamos vivendo uma grande transformação sobre a nossa condição no universo e a nossa condição humana. A arquitetura deve absolutamente expressar um pensamento político e social. Não há outra expressão para a arquitetura que não seja esta — afirmou.

A atemporalidade caracteriza a obra de Mendes da Rocha
O Conselho de Diretores da Bienal explicou os motivos de atribuir o Leão de Ouro ao brasileiro:
“O atributo mais impressionante de sua arquitetura é sua atemporalidade. Muitas décadas depois de construídos, cada um de seus projetos tem resistido ao teste do tempo, tanto estilisticamente quanto fisicamente. Sua consistência surpreendente talvez seja consequência de sua integridade ideológica e seu gênio estrutural. Ele é um desafiador não conformista e, simultaneamente, um realista apaixonado. Seus campos de interesse estão além da arquitetura, nos reinos político, social, histórico e técnico”.
Nascido em Vitória (ES), Paulo Mendes da Rocha projetou o Museu Brasileiro de Escultura (MUBE) e foi responsável pela reforma do edifício da Pinacoteca do Estado de São Paulo, obra pela qual recebeu o Prêmio Mies van der Rohe. Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo desde 1959, a convite de Vilanova Artigas (1915-1985), representou o Brasil na Bienal de Arquitetura de Veneza de 2000.
Com o título Reporting from the Front, esta edição da Bienal conta com 88 participantes de 37 países e ainda com 62 representações nacionais — incluindo a do Brasil, sob a curadoria de Washington Fajardo.

O júri e os premiados por
obras de sustentabilidade
O conselho da instituição, presidido pelo italiano Paolo Baratta, decidiu há um ano nomear o chileno Alejando Aravena como diretor artístico da Mostra. O premiado com o Pritzker 2016 deu ênfase ao seu continente. Até mesmo na escolha do júri, composto por cinco membros, dos quais dois são latino-americanos: o colombiano Sergio Fajardo e a brasileira Marisa Moreira Salles.
Já Sergio Fajardo é professor de matemática na Universidade de los Andes em Bogotá, ex-prefeito de Medellín e governador do departamento de Antioquia, recebeu o Prêmio Américas de Excelência em Serviço Público em 2007. Já Marisa é editora, book designer, empresária e fundadora da Arq.Futuro, um think-tank concebido para estimular o debate sobre arquitetura e o futuro das cidades. Os outros três componentes do júri são o professor italiano Pippo Ciorra, arquiteto, crítico e curador de arquitetura do museu MAXXI em Roma; o plurigraduado professor libanês e americano Hashim Sarkis e a consultora americana de arquitetura, Karen Stein, professora de Design Criticism na School of Visual Arts de Nova York. O júri apresentou os vencedores da Bienal de Veneza 2016: Espanha, Japão, Peru, NLÉ e Gabinete de Arquitetura.
O Leão de Ouro para a Melhor Participação Nacional foi para a Espanha, com a exposição UNFINISHED. O júri citou a “concisa seleção de arquitetos emergentes, cujo trabalho mostra como a criatividade e o compromisso podem transcender as limitações materiais”, feita pelos curadores Carlos Quintáns e Iñaqui Carnicero.
O Leão de Ouro para Melhor Participação na Exposição Internacional Reporting from the Front foi para o Gabinete de Arquitetura. O prêmio foi concedido aos paraguaios Solano Benítez, Gloria Cabral e Solanito Benítez por “aproveitar os materiais simples, a engenhosidade estrutural e a mão de obra não qualificada para aproximar a arquitetura das comunidades carentes.”
Já o grupo nigeriano NLÉ recebeu o Leão de Prata como Jovem Promessa pela Escola Flutuante de Makoko, bairro na periferia de Lagos. O júri o destacou por ser “uma demonstração contundente, seja em Lagos, seja em Veneza, de que a arquitetura, às vezes icônica e pragmática, pode ampliar a importância da educação”. O projeto do NLÉ é simples e ao mesmo tempo sofisticado e genial, por ser um modo de enfrentar as imprevisíveis mudanças climáticas ao longo de comunidades costeiras vulneráveis no mundo. Trata-se de uma solução já corriqueira, a palafita. Porém, o uso de material reciclável tanto na construção quanto na produção de energia é uma tendência consagrada.
Peru e Japão obtiveram Menções Especiais na categoria Participantes Nacionais. A participação peruana foi destacada por trazer a arquitetura de um lugar remoto do mundo, a selva amazônica, fazendo de uma escola um local para a aprendizagem, como um meio para a preservação da cultura da Amazônia. Quanto ao Japão, o júri apreciou particularmente “a poesia da compacidade de outras formas de vida coletiva em um espaço urbano denso”.

Washington Fajardo assina a curadoria do pavilhão brasileiro
A Bienal consagra a criatividade, a versatilidade e a experiência dos arquitetos latino-americanos, capazes de combinar, com beleza, as novas tecnologias à ecologia e aos “materiais pobres”.
O curador escolhido pela Fundação Bienal de São Paulo, Washington Fajardo, apresentou a mostra “JUNTOS” no Pavilhão do Brasil. A proposta é mostrar a arquitetura social com projetos de norte a sul do país, que recordam o que aconteceu no passado e trazem de volta o conceito da arquitetura sustentável quando o termo ainda não era conhecido por este nome.
Mais uma vez, as escolas foram destacadas, como a Escola Vidigal, no Rio de Janeiro; Brenda Bello e Basil Walter (BWArchitects), projeto do artista Vik Muniz; e a Escola Novo Mangue na Comunidade do Coque em Recife.
Segundo o curador brasileiro, “o objetivo do pavilhão do Brasil é evidenciar histórias de pessoas que lutam e alcançam mudanças na passividade institucional das grandes cidades do país, conquistando arquitetura em processos lentos cujo vagar não é problema, mas um apontamento de soluções ao esfacelamento político do planejamento do território”.
Para Washington Fajardo, “a mostra é uma composição dessas trajetórias e parcerias, do processo do encontro do ativista, do lutador, com o arquiteto e com a arquitetura, tornando-se irmanados pela elaboração do novo espaço”. O pavilhão do Brasil relata a cultura negra, a população negra, as centralidades históricas, o acesso à cultura através da arquitetura e conteúdos de design na busca pelo entendimento do que seria estarmos “JUNTOS”.
A proposta estimula a participação interativa do público com vídeos, fotos, cartas, artigos, poesias, textos, fatos e desenhos — como explica o curador — “compondo um memorial para estas vidas imbricadas na melhoria do ambiente construído, nas suas comunidades, no resgate de um modo de ser e saber”.
Nos espaços do Arsenale, uma das alas principais da mostra, e dos Jardins da Bienal estão os projetos dos arquitetos colombianos Giancarlo Mazzanti e Simón Vélez. Mazzanti participa com “Trustitcs”, uma instalação que funciona como um jogo que reage ao público e conta, por meio de vídeos, como a comunidade se apropria de espaços públicos de bairros pobres de Medellín, Bogotá e Santa Marta. Vélez apresenta seu trabalho em bambu, “o aço dos pobres”, como ele define, com uma estrutura pendurada em um teto na zona central dos Jardins.
Já o Grupo Talca se afasta do luxo e do monumental. Formado na escola chilena de arquitetura da Universidade de Talca, o grupo apresenta seu mirante de madeira, um cubo desmontado e logo montado diante do lago de Veneza, idealizado e realizado pela comunidade para desenvolver o turismo ecológico em Pinohuacho, entre bosques perdidos dos Andes chilenos.
— Levamos a arquitetura aonde o arquiteto não chega — explicou Rodrigo Sheward.
O curador do Pavilhão do Chile, o professor Juan Román, diretor da Escola de Arquitetura da Universidade de Talca, selecionou 15 projetos de arquitetura rural.
— São projetos realizados por estudantes dessa zona para conseguir a graduação em arquitetura. A maioria usa recursos escassos, e eles não conseguiram nem mesmo ir a Veneza. Trata-se de estudantes que estão ligados cultural e economicamente à terra, o que fica expresso em suas obras — disse Román, premiado em 2015 com o Global Award de arquitetura sustentável, concedido pela Fundação Locus de Paris.
Uma cortina de bolsas de plástico transparente cobre as paredes do pavilhão chileno, onde é possível escutar os assobios dos ventos andinos, submergindo o visitante ao tema da Bienal: a urgência de uma arquitetura mais humana e sustentável.   

Aravena: ação para melhorar a qualidade de vida das pessoas
A  carreira do diretor artístico Alejandro Aravena se fez através de sucessivos projetos vistos como revolucionários, como quando desenhou as casas para os habitantes de Constitución, no Chile, após o terremoto e o tsunami que os desalojaram em 2010.
Sua proposta foi acatada por outros grandes arquitetos internacionais, como o britânico Norman Foster, que imaginou um “droneport” para a África, ou seja, um aeroporto para drones que também podem ser usados para combater a pobreza e a fome, transportando comida, água, medicamentos ou peças para reparação de carros e máquinas nas mais longínquas terras africanas.
A visão de Aravena vai além. Quando foi nomeado diretor artístico da Bienal, ele declarou:
— Há muitas batalhas que devem ainda ser vencidas e muitas fronteiras que devem necessariamente se expandir para melhorar a qualidade do ambiente construído e, consequentemente, para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Isto é o que gostaríamos que as pessoas vissem na 15º Mostra Internacional de Arquitetura: histórias de sucesso que merecem ser contadas e compartilhadas, e o que a arquitetura tem feito, está fazendo e onde fará a diferença nessas batalhas e por essas fronteiras. Nós gostaríamos de apresentar exemplos que, apesar das dificuldades, em vez de resignação e amargura, propõem agir.

Comunità Italiana

A revista ComunitàItaliana é a mídia nascida em março de 1994 como ligação entre Itália e Brasil.