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Relações metálicas e eletrônicas

25 de maio de 2015 - Por Comunità Italiana

Quanto mais as pessoas expandem freneticamente a rede de relacionamento social, mais ampliam a solidão coletiva

Há pessoas metálicas. Evitarei as celebridades mais próximas para não gerar polêmicas. Um certo atual presidente americano é um exemplo. Não conseguimos “ler” na sua mímica facial ou corporal qualquer expressão de sentimentos humanos. Difícil distinguir nuances emocionais entre o anúncio de um covarde ataque terrorista e o lançamento da nova coleção da Barbie. 
As pessoas metálicas falam de forma cadenciada, articulando as palavras como se as estivessem escrevendo, tom frio, entre agudo e esganiçado, sem pontuações de emoção vocais, faciais ou corporais. Em vez de eventualmente “comerem” um s, pronunciam Bonsucesso com 6 esses.  No caso de autoridades, dão um protocolar tom austero, o que os metaliza ainda mais. Há os monossilábicos, uns chatos, e os verborrágicos, mais chatos ainda. Se possível, cumprimentam apenas com a cabeça. Aperto de mão, só rápido, e empurrando o braço à frente para bloquear a distância. Um inevitável abraço? …já “desabraçando”, como um bate-volta. Não costumam sorrir. Se necessário, um esgar mais para o sarcástico. Quando lhes convém, uma risada estridente que compromete o áudio da audiência. São pessoas que, por mais que conversemos ou até mantenhamos alguma aproximação, sentimo-nos sempre excluídos.
Assim também são as relações eletrônicas.
Não vou falar da saudade das cartas, apesar de lembrar emoção de esperar e receber a carta da namoradinha de adolescência na volta das férias. Mas preferiria voltar a elas do que trocar manifestações de afeto por emoticons.
O discutido Marshall McLuhan revive hoje nas suas premonições sobre a internet através da sua clássica “o meio é a mensagem” e a Aldeia Global. A informação escrita como evolução da oral, transmitida por histórias e tradições, potencializada pela imprensa de Gutenberg, e exponenciada pela televisão, trazendo o conceito de Aldeia Global. “Toda tecnologia gradualmente cria um ambiente humano totalmente novo”, disse McLuhan, promovendo mudanças na organização social. Daí ele antecipar o meio como uma mensagem independente do conteúdo.
É verdade? É. Ou deve ser. Não tenho facilidade de seguir linhas de pensamento. Todos os pensadores terão pensado muito mais e melhor do que eu. Por isso, prefiro desenvolver o meu próprio olhar sobre a vida, respaldado nas minhas experiências e visão de futuro. A qualidade não será a mesma dos pensadores, mas a atribuir culpa a eles por tê-los seguido, prefiro falar, fazer e responder eu mesmo pelos meus acertos e erros. Portanto, o meu telhado está à disposição dos amigos e inimigos para atirarem flores ou pedras.
Evidentemente a internet é uma grande parceira. Trata-se de uma ferramenta instantânea e atualizada, fundamental para pesquisas, atualização de notícias e resenhas on line, leituras, estudos, desenvolvimento de trabalhos, mensagens informativas etc. Mas não para substituir o relacionamento humano, olho-no-olho, falar e ouvir, ver e sentir as pessoas.
Ouço muito que o WhatsApp – rebatizado afetivamente de zapzap pela interturma – não é invasivo como o telefone: “mande um zapzap e, quando eu puder, respondo!”. Penso diferente. Se eu não tiver liberdade de ligar para alguém, não ligo. Aí, a mensagem é inevitável. Mas se eu tiver, ligo, sem dúvida. A pessoa atende se puder. Não podendo, me retornará oportunamente. Simples assim. Enquanto o zapzap, ao contrário, me sugere a tal invasão: uma cobrança imediata de resposta ou deixar a bola parada no campo de quem recebe. E o curioso é que as pessoas não atendem o telefone mas respondem o WhatsApp, evidência de que estão ocupadas, …mas não numa cirurgia cardíaca.
Observo hoje mesas de jantar com casais que não se falam e nem se olham. Apenas o telefone interessa. Trocam – e esquecem – as pessoas que lhe fazem companhia presencial pela companhia de pessoas eletrônicas. Quanto mais expandem freneticamente a rede de relacionamento social, mais ampliam a solidão coletiva. Estou fora. O dia que eu não conversar com a minha mulher em um jantar, terei perdido a memória ou estarei tentando resgatar alguma. Mas de mãos dadas com ela. E não com o telefone.
WhatsApp, Facebook, Instagram, Twitter etc tornaram-se os melhores amigos do homem, os cachorros eletrônicos. Perdi amigos para um telefone. É a vida. Moderna. E assim procuro compreendê-la e respeitar a diversidade de opiniões. Mas sem embarcar.
Vejo amigos que se afastam por meses e, de repente, vem a mensagem “Como vai? Saudades!”.  Será que esse amigo realmente está preocupado como eu estou? E com saudades? “Bem. Também.”, respondo, entendendo que além de moderna a vida está muito mais rápida.
Certa vez liguei para um grande e querido amigo e mestre para dizer que estava com saudades. Ele me respondeu que, na idade dele, do alto dos seus 85 anos, não aceitava abraços por telefone. Precisava recebê-los pessoalmente. É desses amigos que eu preciso e quero manter por perto para eu chegar feliz à idade do meu mestre.

Ary Grandinetti Nogueira é formado em administração de empresas e trabalhou por 40 anos na TV Globo, onde implantou modelo de gestão e chefiou a área de Desenvolvimento Artístico.

Comunità Italiana

A revista ComunitàItaliana é a mídia nascida em março de 1994 como ligação entre Itália e Brasil.