Comunità Italiana

Relações restauradas

Após 18 anos da última visita de um chefe de governo italiano à Argentina, Matteo Renzi se reúne com Mauricio Macri em Buenos Aires com o objetivo de restaurar a relação entre os dois países

Menos de quatro meses depois da última visita ao Chile, Peru, Colômbia e Cuba, o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, voltou ao continente e visitou a Argentina nos dias 15 e 16 de fevereiro. Em seu primeiro discurso no país, na escola Cristoforo Colombo, na capital portenha, onde se encontrou com os jovens italianos e ítalo-argentinos, Renzi pediu desculpas “por chegar com 18 anos de atraso”, desde a última vinda de um primeiro-ministro italiano”. De fato, a última visita aconteceu em 1998, com o então premier Romano Prodi, do mesmo partido político de Renzi.
— Argentina e Itália são duas nações próximas, eu diria até mais. Podemos ser primos dos franceses, mas, com a Argentina, diria que somos irmãos — declarou Renzi, que diz sentir-se em casa no país.
Assim que chegou à cidade, Renzi colocou uma coroa de flores no monumento ao general San Martin, um dos pais da independência argentina, numa cerimônia da qual participaram a chanceler argentina Susana Malcorra e o prefeito da cidade, Horacio Rodriguez Larreta. Este último considerou a visita do premier “um símbolo, um gesto, uma abertura importante para o mundo que a Argentina está realizando nesta fase”.
A agenda de Renzi foi cheia de compromissos não apenas institucionais, mas também de encontros com a expressiva coletividade italiana.
— Embora a visita tenha sido breve, foi uma viagem muito intensa, tanto pelo calor com que a comunidade italiana recebeu o premier quanto pela grande empatia que foi estabelecida entre Matteo Renzi e Mauricio Macri, o presidente recém-eleito da Argentina — relatou à Comunità o deputado Fabio Porta, que acompanhou Renzi na viagem.
Na tarde do dia 15, o líder italiano visitou o antigo e tradicional Teatro Coliseu, propriedade do Estado italiano; a sede da sociedade Dante Alighieri; a faculdade de ciências econômicas da Universidade de Buenos Aires, onde proferiu uma Lectio Magistralis. Ele destacou que a Argentina, com os seus 900 mil cidadãos italianos, é a maior comunidade italiana no exterior e que, em Buenos Aires, residem mais italianos do que na cidade de Bolonha.

Renzi e Macri, dois prefeitos que se tornaram chefes do governo
A amizade entre o premier italiano e o presidente argentino eleito em dezembro de 2015, Mauricio Macri, não nasceu agora: os dois se conhecem desde a época em que Renzi era prefeito de Florença e Macri era prefeito de Buenos Aires. O italiano foi um dos primeiros a parabenizar Macri — que decretou o fim do longo parêntese peronista do governo argentino que se afastou dos Estados Unidos e da Europa — pela vitória.
A questão dos tango bonds foi uma espinha na relação entre ambos os países por muitos anos. Porém, duas semanas antes da chegada de Renzi, o governo argentino anunciou que deve pagar nos próximos meses os credores italianos que não receberam após comprarem títulos da dívida argentina, no começo dos anos 2000.
Renzi foi o primeiro chefe de governo europeu a visitar o país após a eleição de Macri. Segundo Porta, há uma grande expectativa na Europa em relação à recuperação econômica da Argentina.
— A Itália intensificará as relações institucionais e comerciais com o país. Em março, vai chegar a Buenos Aires o ministro da Cultura Dario Franceschini e, em junho, uma grande “missão de sistema”, provavelmente liderada pelo ministro das Relações Exteriores Paolo Gentiloni, levará 300 empresários à Argentina para revitalizar as relações econômicas entre os dois países — analisou Porta, que representa os italianos que vivem na América do Sul na Câmara dos Deputados de Roma.
No dia 16 de fevereiro, após visitar o local de construção da linha ferroviária Sarmiento, Renzi foi ao estádio do Boca Juniors, La Bombonera, onde foi recebido pelo presidente do time, Daniel Angelici, pelo vice-presidente, Royco Ferrari, e pelo titular da Fundación Boca Social, Enzo Pagani, que mostrou os programas da instituição destinados a crianças e adolescentes, em parceria com a Fundação Enel Cuore e a comunidade italiana de Sant’Egidio. Macri já foi presidente do Boca Juniors, time fundado por filhos de italianos e vizinhos do bairro La Boca, formado por trabalhadores imigrantes, a maioria de Gênova.

Macri e Renzi discutiram sobre projetos nos setores energético, agroalimentar e  de infraestrutura
A renovação das relações políticas — e, sobretudo, econômicas — é um dos objetivos da visita do líder do Partido Democrático, que se reuniu com empresários de companhias italianas presentes no país, entre as quais Pirelli, Finmeccanica, FCA e Cassa Depositi e Prestiti. No encontro oficial entre o chefe de governo italiano e o dirigente argentino na sede da presidência, a Casa Rosada, estavam os executivos da Enel, companhia italiana de geração de energia e distribuição de gás natural já presente na Argentina, e a Eni, multinacional petrolífera com interesse em atuar no país.
Nos primeiros meses do seu governo, Macri anunciou mudanças de caráter mais liberal nas áreas econômicas. Tal abertura pode favorecer as relações com a indústria italiana, através do programa de liberalização e incentivo a investimentos da nova política de redução de impostos sobre mercadorias. Após o encontro, Renzi se dirigiu aos empresários italianos e disse que a Argentina é um dos lugares mais sólidos e estáveis para investimentos, lembrando que as portas estão abertas na Itália para os empresários argentinos que queiram investir no país. Os dois líderes destacaram a vontade de trabalhar juntos em diferentes setores, como na área de energia, infraestrutura, agroalimentar e na luta contra o tráfico de drogas e o terrorismo global.
— Queremos que a Argentina volte a abrir suas portas para que outros italianos venham nos ajudar a crescer e para que, juntos, possamos gerar oportunidades — ressaltou Macri, após a reunião.

Possível visita de primeiro-ministro durante a abertura dos Jogos do Rio
Na viagem de retorno, o avião que transportava Renzi foi obrigado a efetuar uma escala técnica em Recife devido a uma janela que parecia trincada. O primeiro-ministro permaneceu apenas algumas horas em solo brasileiro, mas demonstrou que está pensando numa próxima visita oficial ao Brasil. Segundo Porta, a visita não deve demorar muito para acontecer.
— O Brasil continua a ser um grande parceiro para a Itália, bem como o país com o maior peso econômico e político nesta área do mundo. A confirmação disso foi a recente visita do ministro Paolo Gentiloni ao Brasil, e até mesmo a intenção de Renzi de viajar em breve para Brasília. Provavelmente, a primeira ocasião será a abertura dos Jogos Olímpicos no Rio, no dia 5 de agosto. Sei que Renzi gostaria de estar presente a esta importante ocasião — revelou o deputado.  

Em Roma, Macri encontra o papa e Mattarella
Menos de duas semanas após a visita do primeiro-ministro italiano a Buenos Aires, Mauricio Macri esteve em Roma nos dias 26 e 27 de fevereiro para reunir-se com o papa Francisco no Vaticano, aproveitando para encontrar o seu homólogo italiano Sergio Mattarella e reencontrar Matteo Renzi. O presidente argentino destacou que essas reuniões significam um “relançamento das relações entre os dois países depois de muitos anos de frieza”. No Palácio Chigi, foi recebido com honras por Renzi, com o qual revisou os compromissos estabelecidos entre os dois países durante a recente visita. Macri, acompanhado da esposa Juliana Awada, e o resto da delegação argentina, almoçou com Mattarella e sua filha Laura no Palácio do Quirinale. O chefe de Estado italiano prometeu visitar Argentina em julho.