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Resultados recordes do Brasil

25 de março de 2019 - Por Cejana Montelo
Resultados recordes do Brasil

Referência em recrutamento e gestão de profissionais temporários e terceirizados, a italiana Gi Group comemora os bons resultados e atribui a boa fase da empresa no país à capacidade de gerir a burocracia brasileira e à ampla cobertura geográfica 

Líderes e colaboradores da empresa italiana de Recursos Humanos Gi Group se reuniram em São Paulo no final de fevereiro com o staff da matriz para apresentar os resultados de 2018 e as metas definidos para 2019. Na ocasião, a diretora global de RH Maria Luisa Cammarata reiterou que a operação brasileira é estratégica para a companhia.

— Os desafios aqui são enormes e temos uma bela aventura pela frente. Mas estamos contentes com os resultados conquistados pelo nosso time. O mercado profissional brasileiro está amadurecido e continuaremos investindo no Brasil. Confiamos no potencial do setor de RH no país — afirmou.

A expectativa da multinacional para 2019 é alta e não poderia ser diferente. A empresa cresceu cerca de 40% em volume de negócios no ano passado, consolidando uma carteira de 40 mil novas contratações. O resultado de crescimento superou países da Europa e foi maior inclusive que o da Itália, que é o principal mercado do Gi Group no mundo. Em segundo lugar aparece o Reino Unido. O Brasil agora ocupa a terceira posição, depois de superar a Alemanha.

Os resultados foram reconhecidos pela matriz durante o Gi Group Global Awards, que conferiu ao Brasil o prêmio “País do Ano”. O título foi conquistado pelo cumprimento de metas e pelo apoio prestado aos países vizinhos na América Latina. A premiação foi entregue em Turim durante o congresso internacional realizado neste último mês em janeiro.          

A crise econômica poderia então ser favorável ao setor de Recursos Humanos? Para o CEO da Gi Group Brasil, Paulo Canoa, a estratégia da empresa para minimizar os efeitos da crise foi trabalhar de forma intensa e aproveitar as oportunidades comerciais.

— Aliado a esse forte trabalho comercial, nós temos vantagens competitivas que construímos durante anos. Como experiência na redução de riscos trabalhistas, administrativos e fiscais. Outra vantagem é o nosso modelo de gestão que não se limita a conectar pessoas e empresas, mas se dedica à construção de uma relação saudável e segura entre nós, o cliente e o profissional. Além disso, somos referência na gestão de trabalhadores temporários e terceirizados — afirma Canoa.

Para o executivo, a empresa se notabilizou sustentada por vários pilares, mas, principalmente, pelo conhecimento e capacidade de gerenciar a complexidade da burocracia brasileira.

— O Brasil está entre os países mais complexos do mundo em nível administrativo, fiscal e jurídico. É um ambiente difícil para multinacionais que começam a atuar no país. E, nesses casos, o apoio especializado pode definir a sobrevivência ou não de uma operação estrangeira no país.

A afirmação do executivo de que o Brasil está entre os “países mais complexos” se baseia no relatório “Doing Business – Medindo a Regulamentação do Ambiente de Negócios”, desenvolvido pelo Banco Mundial. Realizado em 190 países, o estudo classifica as economias de acordo com a facilidade que elas oferecem para abertura de empresas, realização de negócios, acesso ao crédito, pagamento de impostos, entre outros. No último relatório, divulgado em 2018, o Brasil ocupou a fatídica 109ª posição. Para alguns especialistas, a agenda liberal e os recentes anúncios do novo governo podem mudar esse cenário. Há a expectativa de que o Brasil alce posições mais favoráveis no ranking de países mais abertos aos negócios. No Fórum Econômico Mundial, o presidente Bolsonaro anunciou que sua equipe econômica está trabalhando para colocar o Brasil entre os 50 países mais atrativos para novos negócios até o ano de 2022.

Confiante nesse ambiente econômico mais dinâmico, o Gi Group estabeleceu metas ambiciosas para 2019 e projeta fechar o ano com crescimento de 20%, além de acreditar que pode superar essa meta. Para isso, é necessário que o ambiente econômico mantenha o clima de otimismo que vigorou nos primeiros meses do novo governo.  

“Procurar emprego dá trabalho e exige disciplina”

O CEO do Gi Group, Paulo Canoa, especialista em liderança pela IMD School de Lausane (Suíça), assumiu a operação da multinacional no Brasil, em 2017, com o objetivo de aumentar a rentabilidade da empresa. Com uma estrutura capilarizada, forte presença geográfica e conhecimento sobre a burocracia do país, a empresa conseguiu atingir as metas estabelecidas. Canoa falou com exclusividade à Comunità sobre crise econômica, desemprego e ambiente de trabalho brasileiro.

ComunitàItalianaO Brasil tem cerca de 12 milhões de desempregados e essa taxa está entre as piores da história do país. Ainda assim, o Gi Group anunciou investimentos. O senhor está otimista com a perspectiva de melhoria do emprego no Brasil?
Paulo Canoa — O Brasil é um mercado com mais 200 milhões de pessoas e tem potencial para retomar uma curva positiva de crescimento. Estamos confiantes porque esse novo governo tem dado sinais a favor da retomada da economia e do emprego também.

CIQual recomendação o senhor daria para quem está buscando emprego?
PC
— Eu diria que o candidato que está buscando uma nova oportunidade precisa ser persistente porque procurar emprego dá muito trabalho. Esse momento exige disciplina e transpiração de quem está em busca de uma nova colocação. É preciso estabelecer uma rotina de contatos com colegas de profissão que possam recomendá-lo para novos empregadores. É comum a pessoa sentir vergonha de dizer que está procurando emprego. Mas é preciso ser objetivo e informar o recrutador de que forma ele poderia ser aproveitado.Outro aspecto importante é considerar as opções de trabalho temporário. Essa é uma forma de se manter ativo no mercado e até de ser efetivado. Em média, cerca de 30% dos contratos temporários evoluem para uma relação de trabalho permanente.  

CIAs multinacionais que planejam investir no país se queixam do custo Brasil. Qual o maior gargalo?
PC — A cultura litigante e a legislação trabalhista protecionista são fortes entraves para as empresas que querem investir no país. Apesar da redução de algumas distorções nas relações trabalhistas após a reforma, ainda tramitaram na Justiça cerca de 2,6 milhões de processos. Isso só no ano de 2017. Para efeitos de comparação, um escritório de advocacia, localizado na região metropolitana de São Paulo, recebe o mesmo número de processos em um único mês que o Japão inteiro recebe no período de um ano.

CIO mercado brasileiro tem algumas particularidades?
PC
— O trabalhador brasileiro é muito agradável, mas tem dificuldade de ser direto em relação às coisas e usa expressões como “veja bem”, “então”… Esse é um receio natural de enfrentar os problemas com clareza. Mas como características positivas, eu destacaria o otimismo, a criatividade e o sorriso que também ajudam a superar situações difíceis.

CIComparando com a Europa, o senhor avalia que a jornada de trabalho no Brasil é maior?

PC — Sim aqui, se trabalha mais horas. A jornada é mais longa porque a produtividade é mais baixa e algumas tarefas demandam mais tempo para serem cumpridas. Seja porque algumas áreas ainda não foram automatizadas ou porque o acesso à tecnologia ainda é mais restrito em comparação com outros países. Outro motivo para essa produtividade mais baixa é que aqui se gasta mais tempo com tantas obrigações burocráticas e administrativas.

CIComo reter talentos e estimular os jovens da geração millenium a permanecer mais tempo no emprego?
PC — A liderança nas empresas deve investir para conciliar o que ela precisa com o interesse e as habilidades dos jovens. É preciso ter fit. Esse é um dos principais desafios para o RH hoje. As gerações mais jovens são imediatistas e querem resolver tudo com um touch. Mas os projetos de carreira e a realização profissional demandam mais tempo de amadurecimento.


Uma empresa global
O Gi Group atua nas áreas de terceirização do trabalho para empresas, recrutamento de trabalhadores temporários, seleção de profissionais de nível operacional e executivo, de treinamento e desenvolvimento de talentos. O grupo atua também com marketing promocional, consultoria empresarial na área de desenvolvimento organizacional e programa de estágios. Presenteem mais de 50 países, deu um salto expressivo com a compra da Worknet — a empresa de RH do grupo Fiat, em 2004.A diretora global de RH Maria Luisa Cammarata ressalta a relevância dessa aquisição, uma vez que 70% dos postos de trabalho na Itália estão concentrados no setor manufatureiro e o segmento automotivo é a principal atividade industrial do país, que ainda é predominantemente industrial, diferente do Brasil, onde as oportunidades de trabalho apresentam um equilíbrio entre indústria (50%) e serviços (50%).     

Um aspecto positivo do mercado italiano de RH é um nível de estabilidade bem superior ao do Brasil. Enquanto o turn over brasileiro é de 75% ao ano, a média italiana de permanência do funcionário numa mesma empresa é de cinco a sete anos. A executiva ressalta que a Itália passou por várias reformas que mudaram as regras de contratação e aposentadoria. Mas as mudanças ainda não mudaram o “perfil generoso” da previdência do país. Como a Itália tem a segunda maior população de idosos do mundo, a fatura da previdência é um peso para a população, segundo a executiva.

— Apesar do número elevado de idosos, eles param de trabalhar cedo, as mulheres aos 60 e os homens aos 65. Só como referência, o tempo médio de trabalho em outros países da Europa é de 70 e 75 anos — analisa Cammarata.

Outro aspecto que pesa nessa conta é a existência dos superaposentados, que ganham entre três a quatro mil euros, enquanto a aposentadoria média na Itália oscila em torno de 1.200 euros.

Gi Group – um gigante italiano
Distribuição: 600 filiais
Cobertura geográfica: 50 países na Europa, América, Ásia e África
Faturamento: 2 bilhões de euros
Clientes: 20 mil
Funcionários: 3 mil

Gi Group Brasil
Distribuição: 20 filiais
Cobertura geográfica: 11 estados (AM, CE, PE, BA, MG, SP, RJ, PA, PR, SC e RS)
Faturamento: 350 milhões de reais
Funcionários: 400 a 15 mil (dependendo da sazonalidade)
Unidades de negócios mais rentáveis: terceirização de processos de negócios e de mão de obra; recrutamento e seleção para trabalho temporário e marketing promocional

Comunità Italiana

A revista ComunitàItaliana é a mídia nascida em março de 1994 como ligação entre Itália e Brasil.