Na capital fluminense e em seus arredores é possível encontrar os aromáticos e picantes pratos típicos da região de origem de milhares de oriundos
Rio de Janeiro – A Região da Calábria é a origem de boa parte dos descendentes de italianos que vivem no estado do Rio de Janeiro. A tradição chegou com os primeiros imigrantes que desembarcaram na capital no final do século XIX e perdura nas conservas de berinjela e abobrinha e nas iguarias temperadas com a pimenta calabresa, como a famosa linguiça calabresa, que caíram no gosto popular do carioca e são servidos em locais como o Da Carmine, comandado pelo premiado chef Bruno Marasco. Ele gosta de enriquecer o buffet de antepastos da casa com as conservas de vegetais típicas da região.
— A Calábria tem mais de 900 quilômetros de costa, mas a sua culinária é mista. Temos mare e monti. As receitas são simplicíssimas. Raramente temos intrusão de elementos, ingredientes ou temperos. Usamos ervas do Mediterrâneo, de influência moura e hispânica, como a páprica, a erva-doce, o alecrim e o tomilho em diversos tipos de pratos. Algumas coisas praticamente não existem aqui no Brasil, que formam a base da culinária calabresa, como a nduja, uma pasta feita com carne de porco da spalmare, ou seja, se passa no pão — explica Bruno, nascido em Sant’Agata di Esaro, uma pequena cidade da província de Cosenza.
Outro produto característico é o guanciale, um salame preparado com páprica, vinho tinto e pimenta-do-reino, diferente da sopressata vêneta, que leva só a pimenta. A variedade calabresa é mais intensa e aromática, esclarece Marasco. Já o lado da gastronomia regional voltado para o mar oferece massas à base de scampi (lagostim). Uma massa muito apreciada nas festas regionais é o fusilo calabrese, preparada à mão com fermento artesanal. O spaghetto con la Mollica é também muito preparado na região, e leva anchovas, alcaparras e miolo de pão crocante.
— A Calábria fez parte do Reino das Duas Sicílias e fica entre a Campânia e a Sicília; então temos muito em comum com a cultura napolitana e com Palermo — lembra Bruno Marasco, que abriu há pouco uma filial do Empório del Gusto em Copacabana, onde os clientes podem comprar pães, massas artesanais de marca própria e conservas.
Na Tijuca, bairro tradicional da zona norte do Rio, uma nonna calabrese vende deliciosas conservas de berinjela sott’olio, além de caponata e molhos típicos. Há 57 anos no Brasil, Concetta Tripicchio foi a chef das gravações de Terra Nostra, novela exibida em 1999 que trazia como tema a imigração italiana. O elenco deliciava-se com as suas pizzas e polpette di melanzane.
— Lembro-me que o ator Antonio Fagundes não gostava de berinjela, até que o Thiago Lacerda resolveu fazer uma brincadeira: o fez provar a polpetta sem saber do que era feita, e o Fagundes adorou. Só depois ficou sabendo que era feita de berinjela — conta a simpática Concetta, que trabalha junto à conterrânea Filomena Scopano na cantina ao lado da Igreja Nossa Senhora do Líbano.
Ela chegou ao Rio no navio a vapor Contegrande, que fazia sua última viagem, em 1957. E não esquece os doces típicos da Calábria, como os turdichi e o salame de chocolate.
— Os turdichi são fritos e levam vinho, mel na massa, óleo e farinha. Já o salame de chocolate é diferente da palheta italiana: é mais incrementada e mais fina — explica Concetta, cuja filha herdou o talento da mãe. Maria Cristina Fantauzzo decidiu cruzar o oceano no caminho inverso dos pais e foi ainda mais longe: hoje comanda um restaurante italiano na Áustria.
Maccarruni cù Sucu du Caprietto
Ingredientes:
1,2 kg de pernil de cordeiro; 750 ml de molho de tomate;
1 cebola grande; Meio litro de vinho tinto; 1 copo de vinho branco; 1 ramo de alecrim; 2 folhas de louro; Azeite extravirgem; Sal e pimenta-do-reino.
Modo de fazer:
Corte os pedaços de cordeiro em cubos e deixe-os marinando no vinho tinto por 1 hora e meia. Nesse intervalo, refogue a cebola cortada em cubos bem pequenos em três colheres de azeite até que fique bem dourada. Retire os cubos e seque todo o excesso de vinho. Na mesma panela, junte os cubos à cebola dourada, acrescente o vinho branco e ferva. Junte o molho de tomate, o louro, o alecrim, um pouco de sal e a pimenta, e deixe cozinhar em fogo brando até que fique completamente cozido, com a textura bem macia. Corrija o sal e a pimenta-do-reino. Sirva bem quente, acompanhado de uma ótima pasta. Pimenta fresca dedo-de-moça e ricota defumada são os complementos perfeitos para este típico prato do domingo calabrês.
Serviço
Cantina da Igreja Nossa Senhora do Líbano
Rua Conde de Bonfim 638 – Tijuca – Rio de Janeiro (RJ)
Tel. (21) 2208-4846
Da Carmine
Rua Mariz e Barros 305 – Icaraí – Niterói (RJ)
Tel. (21) 3602-4988
Empório Del Gusto
Av. Nossa Senhora de Copacabana, 195 – LJ B
Copacabana – Rio de Janeiro (RJ)
Tel. (21) 2542-5452