Road show promove o Brasil na Itália

Cejana Montelo
A retomada do crescimento econômico brasileiro e a perspectiva de maior estabilidade política e institucional no país em 2018 criaram um ambiente favorável à volta de negócios e parcerias entre Brasil e Itália. Para apresentar esse novo momento econômico e cenário mais positivo, acontece, entre os dias 16 e 19 de abril, o road show “O Brasil e a Nova Tecnologia: necessidades e oportunidades, nas cidades italianas de Verona, Turim, Parma e Nápoles”. O evento é realizado pela Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio, Indústria e Agricultura Italiana de Minas Gerais, Federação da Indústria do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Infraero, Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pela Agência de Promoção de Investimentos e Comércio Exterior de Minas Gerais (INDI). A promoção do road show conta também com a colaboração dos escritórios ítalo-brasileiros Guarnera Advogados, da consultoria GSA Advice e da revista Comunità.
O evento propicia o contato das empresas brasileiras com os setores tecnológicos de ponta da Itália, como a indústria aeroespacial, o agronegócio, a engenharia mecânica, a engenharia metal mecânica, as energias renováveis e as novas tecnologias aplicadas ao setor de serviços.
A programação do evento inclui a realização de painéis para expor aos investidores e a entidades da Itália as principais necessidades da indústria brasileira. Com foco em tecnologia e inovação, o conteúdo do programa está concentrado nas regiões com mais vocação para o agronegócio e para as indústrias automobilística e aeroespacial.
Os encontros serão uma oportunidade para as indústrias brasileiras que buscam parcerias tecnológicas e para as empresas italianas conhecerem o potencial brasileiro e terem acesso às possibilidades que o país pode gerar como fonte de negócios. A retomada de negócios entre os dois países tem acontecido principalmente nos setores de infraestrutura e energia, onde grandes empresas italianas estão investindo no Brasil.
A italiana Enel Energia, por exemplo, líder em energia renovável e uma das apoiadoras do evento, anunciou investimentos de sete bilhões de reais no país nos próximos três anos. Depois de adquirir a distribuidora de energia CELG, em Goiás, e a Hidrelétrica de Volta Grande, em Minas Gerais, a empresa instalou parques solar e eólico na Bahia e sinalizou que tem planos para novas aquisições. A empresa, que já é líder em energia renovável, adiantou que tem interesse também na aquisição da distribuidora Light e das concessionárias da Eletrobrás, que serão privatizadas.
Segundo dados da Câmara Ítalo-brasileira, somente nos últimos seis meses aportaram no Brasil 15 investidores italianos de grande porte. Entre os destaques, estão o grupo Fassa Bortolo, que terá uma fábrica na cidade mineira de Matozinhos para produzir material e equipamentos que atendam o setor de construção civil, e o Grupo Stevanato, que inaugurou uma fábrica de embalagens para indústria farmacêutica, na cidade de Sete Lagoas (MG).
E no rastro dessas gigantes do setor de energia e infraestrutura que aportaram no Brasil vem uma cadeia de fornecedores italianos interessados em atender a demanda gerada por essas indústrias. São empresas que se instalam no país, gerando mais oportunidades de negócios. Com a crescente abertura do mercado brasileiro por meio de privatizações e parcerias público-privadas, a indústria deve se tornar mais competitiva. Por isso, há a necessidade de os players locais investirem em práticas que aumentem a produtividade, a eficiência e a competitividade.

Giacomo Guarnera, sócio do Guarnera Advogados — escritório especializado em apoiar investidores estrangeiros no Brasil
Brasil tem que se inspirar na indústria 4.0
Giacomo Guarnera, sócio do Guarnera Advogados — escritório especializado em apoiar investidores estrangeiros no Brasil — ressalta a necessidade da indústria brasileira evoluir.
— A indústria italiana, por exemplo, se aperfeiçoou e incorporou o conceito de indústria 4.0, que é forte em automação, controle de qualidade e aumento de eficiência. Esse é o novo padrão que os operadores brasileiros devem buscar para se manterem competitivos no mercado internacional — afirma.
Para o especialista, a Itália pode ser uma boa plataforma de exportação para o Brasil na Europa. Para isso, no entanto, Guarnera ressalta que a indústria voltada à exportação tem que ter valor agregado e cita como exemplo o agronegócio. Segundo ele, a atividade agrícola brasileira pode se beneficiar muito da tecnologia desenvolvida na Itália.
Esse é um dos motivos do evento começar pelas cidades de Verona e Turim, com vocação para a agricultura, e que reúnem indústrias de equipamentos e insumos capazes de atender às demandas dos produtores brasileiros, enquanto Parma e Nápoles são mais industrializadas e se consolidaram como polos tecnológicos referência para os setores automobilístico e aeroespacial.
Além de conciliar os interesses nas áreas de tecnologia, inovação e pesquisa entre os dois países, o road show tem também o objetivo de melhorar a comunicação bilateral. A missão do evento é mostrar o que a Itália pode oferecer e o que o Brasil precisa. Em paralelo, é essencial que os italianos compreendam como podem oferecer seu know how e ser relevantes no processo de desenvolvimento da indústria brasileira.
Investidor deve conhecer a cultura local e estabelecer uma boa comunicação

Ivan Aliberti, sócio da GSA Advice, empresa especializada na gestão administrativa de multinacionais
Para o consultor Ivan Aliberti, sócio da GSA Advice, empresa especializada na gestão administrativa de multinacionais, são vários os exemplos de grupos que não conseguiram se estabelecer no Brasil porque não entenderam as particularidades do país e não conseguiram viabilizar parcerias. Entre os principais desafios para os investidores estrangeiros, ele destaca a complexidade burocrática e o erro recorrente de empresas internacionais que insistem em repetir metodologias de seus países de origem no Brasil.
— Falta a essas multinacionais o conhecimento profundo do mercado local e a adoção do conceito de “glocalização”. Diferente de globalização, a glocalização é justamente a compreensão do pensamento brasileiro, o respeito à cultura local e a compreensão de que os processos e metodologias do investidor devem ser tropicalizados — analisa.
O road show será estratégico também para apresentar os aspectos positivo do país. Segundo Aliberti, a informação sobre o Brasil que chega ao exterior é sempre muito negativa e alardeada por temas como corrupção e violência. Daí a necessidade de se fazer uma abordagem, mostrando que, apesar da crise moral, jurídica e econômica, também existem oportunidades de negócios e eventuais benefícios que os estrangeiros podem encontrar investindo no país. Na opinião dos organizadores, apesar da pouca informação disponível sobre o Brasil, algumas semelhanças entre os dois países podem ser favoráveis às relações comerciais. Desafios à parte, burocracia e escândalos envolvendo governo e empresas são problemas bem conhecidos na Itália também.
O evento será ainda uma oportunidade para explicar que o Brasil não se resume à crise e para reforçar aos investidores a importância de conceitos, como a customização do negócio e a necessidade de estudar o mercado para identificar oportunidades e parceiros, modelagem do negócio e construção de pontes. Para os promotores, os princípios da indústria 4.0 devem ser incorporados ao processo de produção brasileiro. O aumento de produtividade, a busca de pontos sinérgicos, a exploração de dados e a adoção de processos de inovação devem ser sempre seguidos.
Os organizadores acreditam que, depois da retomada econômica, verificada desde novembro de 2017, o mercado internacional voltou a prestar atenção no Brasil. A expectativa é que cerca de 150 empresas e entidades participem do road show nas quatro cidades que receberão os delegados do evento.
A programação inclui a participação de empresas de origem italiana que têm operações consolidadas no Brasil. O objetivo é que representantes dessas companhias relatem a sua experiência e estimulem os operadores a fazerem investimentos. Entre as empresas que apresentarão seus cases, estão Proma Automotive, Protom Aeroespacial e a Pieralisi Equipamentos Agrícolas.
Entre os palestrantes, estão o presidente da Câmara Ítalo-Brasileira de Minas Gerais e do Grupo de Empresários Italianos (GEI), Valentino Rizzioli; a diretora-presidente do INDI Cristiane Serpa; o responsável pela área internacional da Fiemg, Marcos Mandacaru; o presidente da Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg), Roberto Simões; o diretor da Infraero Marx Martins Marsicano Rodrigues; e a representante da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos Estela Testa (Abimaq), além de Giacomo, do escritório Guarnera Advogados, e Aliberti, da consultoria GSA Advice.
SERVIÇO
Onde e quando
Verona: 16 de abril às 14h30
Câmara do Comércio de Verona
Corso Porta Nova, 96
Turim: 17 de abril às 14h30
Centro Congresso Turim
Via Nino Costa, 8
Parma: 18 de abril às 14h30
Via Giuseppe Verdi, 2
Nápoles: 19 de abril às 14h30
União Industrial de Nápoles
Praça do Mártir, 58