Comunità Italiana

Slow Food chega ao Cerrado

{mosimage}Nascida na Itália, organização promove encontros, visitas e oficinas em Brasília para celebrar o alimento bom, limpo e justo. A líder da organização explica à Comunità como esse movimento chegou ao Brasil

Bom, limpo e justo. Essa é a filosofia do Slow Food. O alimento que comemos deve ter bom sabor; ser cultivado de maneira limpa, sem prejudicar a nossa saúde, o meio ambiente ou os animais; e seus produtores devem receber o que é justo pelo seu trabalho. Com esses princípios, a organização Slow Food nasceu na Itália em 1989 para se contrapor ao fast food e ao fast life, ao desaparecimento das tradições alimentares locais e à diminuição do interesse das pessoas pelo alimento que consomem. Fundada por Carlo Petrini, visa melhorar a qualidade das refeições e a existência de uma produção que valorize o produto, o produtor e o próprio meio ambiente. A cidade natal do fundador, Bra, revelou-se o berço perfeito para o movimento: está situada no Piemonte, região italiana famosa pelos vinhos, trufas brancas, queijos e carne de vaca. 
 
Não por acaso, o caracol, caracterizado por movimentos lentos e pela calma durante o ato de comer, é o símbolo da organização. A filosofia do grupo defende a necessidade de informar o consumidor e de proteger identidades culturais ligadas a tradições alimentares e gastronômicas, além de salvaguardar produtos alimentares e comidas, processos e técnicas de cultivo e processamento herdados por tradição, e de defender espécies vegetais e animais, domésticas e selvagens.
Atualmente, o Slow Food contabiliza mais de 100 mil membros, espalhados em 132 países. Está organizado em grupos locais, que recebem o nome de convivium — que, em latim, significa festim, entretenimento ou banquete. Os líderes locais organizam, periodicamente, uma série de atividades, como oficinas de educação alimentar, palestras, degustações, cursos e roteiros de turismo enogastronômico. Também apoiam campanhas lançadas pela associação em nível internacional.
O convivium Slow Food Cerrado iniciou suas atividades em novembro de 2009, a partir do desejo e da necessidade de valorizar o Cerrado, que representa um dos mais ricos biomas do mundo. E nada seria mais prazeroso do que fazê-lo através da ecogastronomia, conforme explica a líder do grupo e cientista de alimentos, Roberta Marins de Sá.

ComunitàItaliana – Qual é a particularidade do Slow Food Cerrado e quando nasceu?
Roberta Sá – Acredito que a particularidade do Slow Food Cerrado é a diversidade de seus associados. Alguns são gastrônomos, profissionais da área de gastronomia e gourmets, enquanto outros são ambientalistas, estudantes, jornalistas, acadêmicos e pesquisadores. O convívio é formado por um grupo de pessoas de diversas áreas da sociedade do Distrito Federal e entorno. Juntos, formam um conjunto bem equilibrado.

CI – Quando e como o Slow Food chegou ao Brasil?
RS – O primeiro convívio Slow Food do Brasil foi o Slow Food Rio de Janeiro, que iniciou suas atividades no final da década de 1990.

CI – Quantas pessoas estão envolvidas?
RS – Hoje, temos 80 associados (pessoas que se associaram ao Slow Food e que têm carteirinha de sócio). Muitos outros simpatizantes também participam ativamente de nossas atividades.

CI – O Slow Food Cerrado engloba quais cidades do Brasil? 
RS – Nossos associados estão principalmente em Brasília, Taguatinga, e outras cidades do entorno do Distrito Federal. No entanto, temos associados que moram em Brazlândia, Cidade Ocidental e Goiânia, no estado de Goiás. Não existe uma regra específica, e as pessoas podem se associar ao convívio que mais lhes agrada. O ideal, no entanto, é que se associem ao convívio mais próximo, para poder participar das atividades locais com mais facilidade.

CI – Quais são os produtos típicos do Cerrado que vocês querem difundir?
RS – Em primeiro lugar, estamos interessados em mostrar o valor gastronômico, social e ambiental dos alimentos nativos do Cerrado e, para isso, precisamos ter contato, degustar e conhecer os produtos, e também as pessoas que estão envolvidas com a extração, coleta, processamento e produção destes alimentos. Os alimentos produzidos localmente e de forma sustentável, não necessariamente nativos do Cerrado, mas importantes para a nossa alimentação diária, também estão na nossa pauta. 

CI – Quais são as dificuldades para difundir esse movimento?
RS – Uma dificuldade é a de que os brasileiros, em geral, não possuem o hábito de se associarem, de pagar uma anuidade para fazer parte efetivamente de uma associação, influenciando nos rumos tomados pela associação. Outra dificuldade é o entendimento de que o Slow Food é um movimento feito pelas próprias pessoas, e que cada um que se associa a um convívio pode propor, liderar e coordenar a realização de atividades, sem necessariamente passar por uma hierarquia, ou esperar pela liderança, desde que estas atividades estejam dentro dos princípios do grupo e que promovam o alimento bom, limpo e justo. 

CI – Há alguma ligação com outros movimentos sociais no Brasil? 
RS – Pouco a pouco, os movimentos sociais estão compreendendo o que queremos dizer quando falamos em ecogastronomia, e tem se aproximado. Ao mesmo tempo, os gastrônomos envolvidos com o Slow Food estão percebendo a importância dos movimentos sociais e a rede vai crescendo e se fortalecendo. A Rede Terra Madre, promovida pelo Slow Food, é fruto desta aproximação maior entre o movimento Slow Food e outros movimentos sociais.

CI – Quais são os projetos para o próximo ano?
RS – Vamos continuar realizando a Quinta Slow, um encontro mensal que fazemos na primeira quinta-feira de cada mês, no restaurante Panelinha, e realizando eventos, oficinas e visitas aos produtores locais de alimentos. Queremos estreitar os laços com os produtores orgânicos do Distrito Federal e entorno, e realizar mais atividades educativas envolvendo crianças.

CI – Quais são os restaurantes em Brasília que promovem o Slow Food Cerrado?
RS – Atualmente, o restaurante parceiro do Slow Food Cerrado é o próprio Panelinha, situado no final da Asa Norte. Temos também uma parceria com a Central do Cerrado, a cooperativa de comercialização de produtos oriundos do Cerrado produzidos por diversas comunidades, e com a Arca do Sabor Gastronomia Infantil, uma escola de gastronomia para crianças.