BIANUAL

BIANUAL

A partir de
Por R$ 299,00

ASSINAR
ANUAL

ANUAL

A partir de
Por R$ 178,00

ASSINAR
ANUAL ONLINE

ANUAL ONLINE

A partir de
Por R$ 99,00

ASSINAR


Mosaico Italiano é o melhor caderno de literatura italiana, realizado com a participação dos maiores nomes da linguística italiana e a colaboração de universidades brasileiras e italianas.


DOWNLOAD MOSAICO
Vozes: Cinco <br>Décadas de Poesia Italiana

Vozes: Cinco
Décadas de Poesia Italiana

Por R$ 299,00

COMPRAR
Administração Financeira para Executivos

Administração Financeira para Executivos

Por R$ 39,00

COMPRAR
Grico Guia de Restaurantes Italianos

Grico Guia de Restaurantes Italianos

Por R$ 40,00

COMPRAR

Baixe nosso aplicativo nas lojas oficiais:

Home > Sobriedade

Sobriedade

16 de agosto de 2015 - Por Comunità Italiana
Sobriedade

DomenicoDeMasiDomenico De Masi,
um dos mais importantes sociólogos italianos, é conhecido pelo conceito de “ócio criativo”, título de um de seus livros mais vendidos no Brasil. É professor de Sociologia na Universidade La Sapienza de Roma, onde atua como diretor da faculdade de Ciências da Comunicação

 

 

 

DomenicoDeMasiAs necessidades exclusivas da espécie humana condicionam a inteira dinâmica das sociedades, entre as quais a de introspecção, amizade, amor e convivência

Cleóbulo era considerado um dos sete grandes sábios da Grécia Antiga. Convidado para sintetizar toda a sua sabedoria em uma só expressão, escreveu: “Ótima é a medida!”. Mas qual é a medida? “É o homem a medida de todas as coisas”. De fato, cada um de nós bem conhece a sua própria medida: quantos alimentos ou quantos cigarros seu físico pode aguentar, quantas pessoas seu coração pode amar, quantas coisas sua mente pode entender. Ou seja, cada um de nós é portador de necessidades que pedem para serem satisfeitas. Disso nasce a tentativa, por parte de muitos psicólogos e filósofos, de classificar as necessidades: das mais materiais às mais espirituais, das mais potentes às mais fracas.
A classificação mais persuasiva, em minha opinião, é aquela enunciada por Agnes Heller, uma genial filósofa húngara que, juntamente ao seu grande mestre György Lukács, enfrentou com coragem a hierarquia comunista e foi mandada para o exílio. No seu livro Sociologia da vida cotidiana, Heller observa que todos os seres vivos — plantas, animais ou homens — têm em comum necessidades existenciais, ligadas à sobrevivência física: ar, alimento, repouso, metabolismo. Mas há necessidades exclusivas da espécie humana, que condicionam a inteira dinâmica das nossas sociedades. Algumas dessas necessidades apresentam um próprio caráter quantitativo, ou seja, referem-se à aquisição de coisas que podem ser medidas. Trata-se, principalmente, da necessidade de riqueza, que pode ser satisfeita mediante o dinheiro acumulado; da necessidade de poder, que pode ser satisfeita mediante o consentimento e a obediência que se consegue dos outros; da necessidade de possuir coisas, que pode ser satisfeita com a aquisição e a disponibilidade de objetos, casas, terrenos, alimentos e informações.
Estas necessidades, sendo quantitativas, nunca acabam, e são estimuladas pela comparação com os outros. A grama do vizinho é sempre mais verde, e a inveja que decorre disso leva a cuidar do próprio campo até ultrapassar o campo limítrofe. Os intermináveis rankings publicados em revistas superficiais (Forbes, por exemplo) sobre quem seja o homem mais rico, ou o mais elegante, o mais fascinante, não fazem nada além de estimular esta necessidade de ter e de superar os outros. Aqui é útil usar o conceito de “medida”: ou seja, a via intermediária certa entre as desvantagens do excesso e as desvantagens do pouco; entre a dolorosa falta do necessário e a embaraçante opulência do supérfluo.
As filosofias grega e latina tentam se voltar para a direção da sobriedade, partindo da convicção de que a vida é um néctar raro e precioso, que precisa ser degustado, não entornado.
Heller, que se tornou mais precavida pela explosão consumista dos nossos tempos, considera difícil evitar os excessos aos quais somos levados pela atual competitividade desenfreada, a menos que as pessoas não dirijam a maior parte de seus impulsos e de seus desejos na direção de necessidades de tipo completamente diferentes, marcadas por qualidade e não por quantidade. Agnes Heller as chama de necessidades “radicais”, ou seja, que se referem à profunda raiz humana de cada um de nós.
Quais são estas necessidades? Heller aponta cinco delas, mas eu acrescentaria duas. A necessidade de introspecção pede que, de vez em quando, nos isolemos do mundo para nos recolhermos e refletirmos sobre o nosso destino. A necessidade de amizade pede que uma parte de nós possa realizar-se através de pessoas confiáveis e prezadas, capazes de completar nossa vida com a deles. A necessidade de amor exige um relacionamento exclusivo, incandescente, penetrante, com pessoas que pareçam diferentes de quaisquer outras e, mais que as outras, dignas de nossa dedicação incondicional. A necessidade da brincadeira dá lugar ao menino que está dentro de nós, com seus assombros, suas curiosidades, suas aventuras, suas ingenuidades. A necessidade de comunismo ou índole de convivência exige a nossa identificação em uma coletividade étnica, geográfica, política e ideológica, de qualquer maneira capaz de nos fazer sentir parte de um todo, pelo qual possa valer a pena comprometer-se.
A essas necessidades radicais indicadas por Heller eu acrescentaria a necessidade de beleza, que exige ao nosso redor um universo de signos e de objetos coerentes com nossa sensibilidade, que nos agrada contemplar. E acrescentaria a necessidade de serenidade, que exige o respeito mútuo e a consciência da fugacidade, escrita no nosso humano destino.  

Comunità Italiana

A revista ComunitàItaliana é a mídia nascida em março de 1994 como ligação entre Itália e Brasil.