Comunità Italiana

Sustentável e sem fome

{mosimage}Agência da ONU, FAO traz à conferência relatório sobre a transição para agricultura sustentável e defende a integração de duas agendas: a do desenvolvimento e da erradicação da fome

O desenvolvimento sustentável não pode ser alcançado sem a erradicação da pobreza. Esta é a visão da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação. Afinal, a alimentação, o respeito, a inclusão social e o ambiente estão diretamente ligados. A FAO, agência das Nações Unidas, é um dos grandes alicerces da Rio+20. Para o diretor-geral, o ítalo-brasileiro José Graziano Silva, este grande encontro mundial que trata da saúde do planeta no presente e no futuro não é uma apresentação de utopias. Segundo ele, trata-se de uma oportunidade de ouro para que o mundo se empenhe em terminar com a vergonhosa fome que ainda aflige mais de 900 milhões de pessoas e faça a transição para uma agricultura sustentável. Identificados os problemas, é preciso caminhar para a solução: um objetivo possível, mas que encontra muitos obstáculos.
A FAO elaborou o relatório para a Rio+20 intitulado Na direção do futuro que queremos – Terminando a fome e fazendo a transição para uma agricultura sustentável e sistemas de alimentação. Trata-se de um documento detalhado com 42 páginas que apresenta as possíveis linhas de conduta para acabar com a desnutrição, com a aplicação de recursos que preservem a saúde da Terra.
O documento sacode as consciências por mostrar a que ponto a humanidade chegou, usurpando os recursos naturais. Afinal, alguns países adotam modelos de agricultura e de desenvolvimento enganosos, uns por ganância, outros por necessidade. Entre os vários problemas, o relatório aponta a exclusão social. Por consequência, a pobreza acaba sendo o inimigo da preservação do planeta.
— Nós não teremos o desenvolvimento sustentável enquanto tivermos fome e pobreza extrema. A fome tem se revelado uma grande inimiga da natureza, pois um homem faminto não tem nenhuma racionalidade na sua busca pela sobrevivência. Para ele, a sobrevivência é uma luta desesperada, na qual não poupa nenhum dos recursos naturais que estiverem em seu alcance. Não se pode pedir a uma pessoa em extrema pobreza e com fome que não derrube uma árvore para fazer carvão ou que não passe uma rede de arrasto na praia para pescar os peixes que ele necessita para comer — disse Graziano à ComunitàItaliana, durante um encontro na sede da FAO, em Roma.
Segundo Graziano, a paz está relacionada à erradicação da fome e ao desenvolvimento:
— Vemos na Rio+20 uma oportunidade de integrar duas grandes agendas importantes necessárias para o futuro da humanidade: a do desenvolvimento e da erradicação da fome. Acreditamos que estas duas agendas são fundamentais para a sobrevivência e para e paz da humanidade no futuro, porque preserva os seus recursos para as gerações futuras e incorpora os excluídos da atual geração.
Graziano disse também que a entidade vai levar para a Rio+20 propostas com basicamente duas dimensões:
— A primeira é que a agricultura, a pesca e o reflorestamento não são apenas parte dos problemas que nós temos hoje, mas podem ser parte da solução. No entanto, esta transição para uma agricultura sustentável tem um grande custo e é preciso saber quem financia.

Técnicas de agricultura sustentável predominam nos trópicos
A segunda linha da FAO é mostrar que já existem, hoje, as tecnologias disponíveis para aplicar esta agricultura sustentável. Tais tecnologias devem respeitar a diversidade das áreas, por exemplo, os países tropicais devem aplicar suas próprias técnicas e não copiar dos países temperados porque acabam por danificar a terra.
— As tecnologias de agricultura sustentável estão predominantemente nos países de agricultura tropical, que são países em desenvolvimento, como os da América Latina e da África. Nós já temos práticas conservacionistas, como o cultivo direto em que não se revolve o solo. O revolvimento do solo em áreas tropicais é uma imitação muito perversa do que fazem os agricultores nas áreas temperadas, que usam o gradeamento do solo e essa aração superficial para acelerar o degelo na primavera. Como os países tropicais não têm gelo e nem o congelamento do solo, não há sentido fazer esta escarificação do solo no início da primavera, o que só acelera a erosão – explicou o diretor geral.
Graziano cita outro exemplo característico de tecnologia dominante nas culturas tropicais: os insetos.
— Os países tropicais têm grandes quantidades de insetos, enquanto os países de clima temperado procuram matar os insetos para que eles não voltem a se reproduzir na primavera. No entanto, nos países tropicais, os insetos se reproduzem diariamente e todas as ações preventivas têm que ser repetidas em uma enorme quantidade que, além de encarecerem o produto, afetam significativamente o meio ambiente e as águas, que constituem o recurso mais escasso para a expansão da agricultura no mundo. Nós temos desenvolvido práticas de controles biológicos na África e no Brasil, através da Embrapa, e em outros países tropicais, muito mais eficientes nos controles das pragas e outras enfermidades.
Esses tipos de tecnologias que a FAO está levando para a Rio+20 — publicadas no livro Save and Grow (Preservar e Crescer) — propõem  um menor uso de insumos e maquinários para aumentar a produtividade e manter a conservação dos recursos naturais. O modelo de produção preserva e reforça as reservas naturais, graças a uma série de práticas agronômicas que permitem uma melhor gestão do solo, limitando os efeitos negativos na sua composição e contribuindo a reduzir a necessidade de água e os custos energéticos. O rendimento dos agricultores que seguiram em via experimental a técnica, aplicada em 57 países de baixa renda, aumentou cerca de 80%. 
A FAO também pretende incentivar o cooperativismo. Segundo Graziano, a união entre os pequenos pode dar grandes resultados.
— A América Latina e a África são dois continentes onde a expansão do cooperativismo é necessária, pois nestas áreas a agricultura de subsistência ainda é predominante entre os pequenos produtores. Portanto, promover a união entre os pequenos agricultores é muito importante.
Por trás do arroz, do feijão e do bife existe uma cadeia de produção, distribuição e consumo com impacto direto nos recursos planetários. Por incrível que pareça, a causa principal das mudanças climáticas está ligada à nossa comida. Segundo os estudos da FAO, estima-se que 30% dos gases poluentes estão relacionados ao modo com que produzimos, distribuímos e consumimos os alimentos. Já os transportes que não estão ligados ao setor da alimentação provocam 17% de poluição. O papel da FAO é proporcionar conhecimento, através de estudos e análises, fornecer assistência técnica e realizar projetos juntamente com os 192 países membros, de acordo as necessidades e com um programa detalhado. O vasto campo de ação abrange pecuária, pesca, florestas, reservas hídricas, biodiversidade e desenvolvimento sustentável, além de tratar de problemas como doenças, pragas e mudanças climáticas.