{mosimage}A escola de samba Tradição Serrana desfila com o enredo que conta a história dos imigrantes italianos no Espírito Santo
Fevereiro começa dando as boas-vindas à maior festa brasileira: o carnaval. De norte a sul do país, foliões dançam e cantam ao ritmo de frevo, marchinhas, samba e axé. Nessa diversidade carnavalesca, também há espaço para a tarantela, dança típica italiana. Marcada pela troca rápida de casais, é celebrada coletivamente, pois, de acordo com a crença popular, dançar sozinho traz má sorte. A Tradição Serrana, agremiação do município da Serra, no Espírito Santo, estreou no dia 1º de fevereiro deste ano no grupo especial ao desfilar no Sambão do Povo com o enredo Os sonhos dos imigrantes viraram realidade. A Tradição na passarela canta a tarantela. Ao som da concertina, instrumento musical que se assemelha à sanfona, a comissão de frente, formada por 14 bailarinos, dançaram a tarantela, abrindo o desfile para 1800 integrantes divididos em 17 alas coreografadas e quatro carros alegóricos. Porém, nem tudo foi tranquilo para a escola. A apenas dois meses do carnaval, a agremiação sofreu com a renúncia do presidente Jasson Gomes por motivos de saúde. Quem assumiu como coordenador foi o carnavalesco Rogério Carlos Orsi.
— Não descarto a possibilidade de assumir a presidência da escola. Mas ainda é um caso a pensar, pois sou profissional do carnaval e como presidente ficaria impossibilitado de exercer minha função em outras agremiações, no trabalho de construção do enredo e no desenvolvimento da estrutura das fantasias, e também não teria tempo para meu atelier. No entanto, continuarei apoiando a escola, que sobrevive com o esforço da comunidade e com verba privada. O governo do estado apenas fornece uma carta de crédito, e a prefeitura da Serra, uma ajuda em dinheiro — explica o carnavalesco.
Não é a primeira vez que a agremiação fundada em 2000 trata de temas italianos em seus desfiles. Em carnavais anteriores, agraciou o público com a história do mestre italiano da pintura, Michelangelo. Em outro momento, celebrou na avenida a bebida do deus Baco, o vinho, e também já explorou a culinária do Belpaese.
Uma ala inteira foi dedicada à gastronomia para lembrar massas, molhos e pães italianos
Em 2013, a Tradição Serrana fez uma retrospectiva da imigração, desde a chegada dos italianos no Espírito Santo até os dias atuais: o navio La Sofia, que trouxe os primeiros imigrantes, foi representado no carro abre-alas; e a escola também mostrou no desfile as adversidades pelas quais passaram esses recém-chegados. Também foi retratado o trabalho nas lavouras de café com pessoas trajadas como camponeses. Personagens que povoam esse universo como os barões do café e as sinhazinhas foram representados pelos membros da bateria e pelas passistas.
Outra temática tratada na apresentação foi a religiosidade do povo italiano, que tem o Vaticano como representante máximo do catolicismo, bem como foi lembrada a miscigenação e as trocas culturais dos oriundi com os brasileiros. Quanto à gastronomia, uma ala inteira dedicou-se ao assunto retratando as massas, molhos, pães e outras iguarias da Itália. Música e dança também tiveram destaque no desfile com a tarantela: palavra originada na crença de que o veneno produzido pela aranha tarântula induziria à dança frenética. A porta-bandeira Janaína representou a tarântula na avenida, acompanhada do mestre-sala Eduardo Belo.
Uma das alas que fugiu do padrão, segundo o carnavalesco, foi a que representou os escravos africanos, cuja mão de obra foi substituída no Brasil pelo trabalho dos italianos. Nesse trecho do desfile, a Tradição Serrana homenageou Chico Prego, símbolo da resistência negra no município da Serra. Também foram lembrados na avenida, os municípios capixabas onde a cultura italiana até hoje é muito presente, como Santa Teresa, Nova Venécia, Jaguaré, Colatina e São Gabriel da Palha.
— No primeiro carro, a escola procurou retratar a fauna e a flora capixabas que tanto encantaram os imigrantes no final do século XIX e início do XX. O segundo carro representou as fazendas de café. A terceira alegoria mostrou a cultura da uva, e a Festa do Morango em Domingo Martins, que valoriza a produção do fruto, importante atividade econômica de Pedra Azul e localidades vizinhas. Também falamos da Festa da Polenta, evento de Venda Nova do Imigrante que promove a eleição da Rainha da Festa. Na última alegoria, foi exaltado o agroturismo com as belas paisagens e o clima ameno da região — acrescenta Orsi.