Enquanto a aprovação do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff recebeu um fervoroso destaque nos telejornais, rádios e jornais, o novo governo de Michel Temer ficou limitado às páginas internas dos diários e foi pouco mencionado na TV italiana. Temer não é visto pela imprensa do país como o “salvador da pátria brasileira”. O que mais chamou atenção em seu governo foi a ausência de mulheres e negros, que representam a maioria da população nacional. Outro fato ressaltado foi a demissão dos ministros Fabiano Silveira (da Transparência, Fiscalização e Controle) e Romero Jucá (do Planejamento).
O jornal independente Il Fatto Quotidiano publicou, em 14 de maio, um artigo de Luigi Spera que diz:
“O presidente interino, ex-vice de Dilma Rousseff, investigado por corrupção e lavagem de dinheiro, falou do seu Executivo como ‘de salvação nacional’: é composto apenas por homens, brancos, oligarcas, ricos e heterossexuais, e sete deles terminaram investigados pela operação Mãos Limpas brasileira. O Estado vai cuidar só das questões de saúde e educação — disse o chefe de Estado — o resto vai passar às mãos privadas”.
A matéria comentou também que a saída de Dilma e a entrada de Temer “poderiam passar para a história como a mais rápida virada política de um país democrático” e que, em pouco tempo, o Brasil saltou de uma “forte identidade de esquerda para uma direita conservadora, sem passar por eleições”.
O Il Sole 24 ore, diário econômico ligado à Confindustria, analisou diversamente a situação brasileira.
“Depois de cinco meses de montanhas russas jurídicas, o Brasil vira a página. O novo presidente interino, Michel Temer, apresentou a sua equipe: de impostação liberalista, dois homens com experiências em gabinetes-chave, José Serra, nas Relações Exteriores, e Henrique Meirelles, nas Finanças. Na estrutura do governo não há uma mulher sequer. Os programas sociais serão mantidos” escreveu Roberto Da Rin.
O artigo do Corriere della Sera, assinado pelo correspondente Rocco Controneo, intitulado “Ordem, progresso e zero mulheres”, destaca:
“O novo presidente com um Executivo só de brancos. Missão impossível: salvar o país da corrupção. No programa, o corte dos gastos públicos”.
Cotroneo prossegue, explicando ao leitor italiano o significado do novo lema:
“O lema do novo governo (cada novo presidente no Brasil pode escolher um slogan) é o caro e velho ‘ordem e progresso’, o que está escrito na bandeira, emblema positivista do final do século XIX. É como se dissesse que até agora prevaleceu a desordem: a ocupação do poder, a distribuição das poltronas, o dinheiro para os movimentos sociais às margens da legalidade. Temer garante que não vai fazer nada para impedir a investigação dos juízes em matéria de corrupção, embora o novo governo tenha mais investigados do que aquele que acabou de cair”.
Por sua vez, o La Repubblica aponta para os investigados e condenados que fazem parte do governo Temer. O artigo de Omero Ciai, especialista em América Latina, publicado em 12 de maio, tem como título a frase “A vitória do ex-vice Temer no governo sem mulheres”. E continua:
“Dois ministros investigados, que negam tudo; outro ministro, o de Transportes, ex-condenado; e um líder da oposição, Aécio Neves, que leva o seu partido (PSDB) ao governo, pela primeira vez depois de 13 anos, mas que acaba em apuros por uma conta bancária secreta em Liechtenstein, onde ele escondeu fundos ocultos. Começa assim a aventura de Michel Temer, ex-vice de Dilma, que, desde ontem, é o presidente interino do Brasil. Mas a verdadeira surpresa é que o audaz Temer, ‘o diretor do golpe’, segundo Dilma, conseguiu convencer os mais tenazes adversários da presidenta a colaborar com ele”.
Sobre as primeiras medidas do novo governo, a Rainews destacou que uma das promessas do presidente interino não foi cumprida:
“O governo brasileiro revogou um decreto da presidente suspensa Dilma Rousseff para a construção de 11.250 habitações sociais. O anúncio foi feito pelo novo ministro de Cidades, Bruno Araújo. As unidades faziam parte do programa social Minha casa, minha vida, o qual o presidente interino Michel Temer, em seu discurso de posse, disse que não mudaria. O decreto tinha sido publicado no jornal em 11 de maio, o dia em que Senado começou a votar pela suspensão”.