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Tempo de alegria

17 de fevereiro de 2014 - Por Comunità Italiana
Tempo de alegria

Tempo de alegriaA vindima, que ocorre nos meses de verão, é o período de celebração da colheita da uva nos vinhedos da Serra Gaúcha

“Mérica Mérica Mérica” é o hino oficial desta festa, cantado aos quatro cantos por crianças, jovens e idosos. O dialeto talian é a língua oficial do povo que conserva vivíssima a cultura dos seus antepassados italianos, que colonizaram as encostas da serra do Rio Grande do Sul a partir de 1875. O vinho e a uva são os grandes protagonistas desta celebração. A famosa vindima, ou vendemmia, é a tradicional festa que celebra o período da colheita da uva, que no hemisfério sul ocorre entre os meses de janeiro e abril. Para os descendentes dos imigrantes no Rio Grande do Sul, é o momento de comemorar os bons frutos da terra, celebrar o sucesso da colheita que garante o sustento das comunidades ítalo-brasileiras residentes nessa mágica região conhecida por turistas do mundo inteiro e que abriga os principais produtores de uva, vinhos e espumantes do Brasil.
A festa abrange a maior parte dos municípios de colonização italiana com forte produção vitífera, como Bento Gonçalves, Garibaldi e a pequena Nova Roma do Sul, onde o período da colheita é também uma das melhores épocas para se conhecer a região, quando muitos eventos especiais e atrações esperam os visitantes. Não por acaso, milhares de turistas do Brasil e do exterior se aventuram pelas estradas sinuosas e montanhosas da Serra Gaúcha neste período em busca de experiências autênticas no seio das antigas colônias. Cânticos, passeios em meio aos vinhedos carregados de frutos, colheita e pisa da uva, aulas sobre vinificação, degustações de vinhos, refeições fartas e boas conversas com os anfitriões são apenas algumas das principais atrações da região, que a cada ano se prepara melhor para receber os visitantes neste período.
Os meses da vindima também se firmam como a alta temporada turística, principalmente do turismo voltado para o vinho. Segundo dados da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), o setor do enoturismo na região teve um aumento de mais de 500% nos últimos dez anos. Em 2001, registravam-se 45 mil visitantes ao ano. Em 2013, este número subiu para quase 285 mil. Destes visitantes, mais de um terço deles aparecem nos meses da colheita, confirmando a vindima como o segundo maior fluxo turístico do ano, atrás apenas do mês de julho, época das férias de inverno.

Programação inclui degustação de produtos feitos pela comunidade, como geleias de figo e queijos
Na cidade de Bento Gonçalves, a 120 km de Porto Alegre, a grande festa organizada pela prefeitura com apoio de entidades e associações locais tem como objetivo não apenas celebrar a colheita do principal produto turístico do município, como promover outras rotas turísticas menos conhecidas dos visitantes. Na área rural desta cidade está o famoso Vale dos Vinhedos, área que abriga mais de 30 vinícolas entre as melhores do Brasil e que se firma como um dos dez principais destinos do enoturismo mundial. Além dele, outros roteiros turísticos rurais abrigam surpresas para os visitantes. O secretário de Turismo da cidade, Gilberto Durante, explica que, neste ano, foram lançadas três novas rotas turísticas, cujas atrações são oferecidas por famílias que estão descobrindo o turismo como atividade econômica.
— Em qualquer uma das rotas, as vinícolas terão a sua festa em volta da colheita, com o tradicional merendin (lanche típico), a pisa da uva e oferecendo aos turistas até a possibilidade de produzir um vinho próprio para ser buscado no ano seguinte — explica Durante, salientando que a programação do Bento em Vindima, que se estende até meados de março, traz mais de 27 tipos diferentes de eventos.
Uma destas famílias empreendedoras que se prepara para receber os visitantes são os Cainelli, proprietários da vinícola homônima, integrante da Rota Vale do Rio das Antas, que para este verão já tinha quatro grupos de turistas agendados para participarem da colheita da uva. Conforme explica Bernadete Cainelli, o que os turistas querem é ver os parreirais de dentro, “como nós”. Por isso, o momento mais aguardado por todos é o famoso passeio de tuc-tuc, tratores com carretas adaptadas que levam até dez pessoas em roteiros por dentro dos vales forrados de parreiras. Os visitantes também recebem o merendin, servido com produtos produzidos pela comunidade, como pão colonial, queijo, salame, copa, geleias de uva e figo, polenta, torta tirolesa e vinho, e suco de uva à vontade. Um coral local de música italiana se encarrega da trilha sonora junto ao grupo. Após a colheita das uvas nos parreirais, os turistas voltam para a vinícola, onde completam o trabalho, realizando a pisa da uva.
— Mas essa é uma colheita simbólica. Aqui ocorre um fato muito interessante. Como somos todos pequenos produtores, os vizinhos se ajudam entre si. Ajudamos na colheita deles, depois eles vêm aqui e nos ajudam — conta Bernadete, ao explicar que a colheita propriamente dita ocorre sempre no verão, entre janeiro e março, e depende da cooperação entre vizinhos e familiares.
O trabalho todo, entre colheita e safra, nos 4,5 hectares da vinícola dura em torno de 45 dias e necessita da mão de obra de um grupo de cinco a seis pessoas.
— Além de colhermos as uvas, também elaboramos os vinhos. A primeira variedade a amadurecer é a Bordeaux; depois vêm as outras: Isabel, Niágara e Lorena — explica.  

Bento Gonçalves tem até colheita à luz do luar
A programação em Bento Gonçalves conta com muitas atrações tradicionais, como colheita noturna ao luar, cursos de degustação de vinhos, jantares harmonizados, eventos gastronômicos, caminhada ecológica e visita às vinícolas. Entre as novidades desta edição está a realização do Cine Via Del Vino, com projeções de cinema ao ar livre, e a exposição de telas pintadas com vinho, intitulada A Vindima em Vinho Tinta, do artista Assis Costa.
Entre os passeios culturais destaca-se o Ricordi d’Italia, que leva os visitantes para conhecer os elementos culturais italianos presentes até hoje em algumas comunidades rurais, através de visitas e conversas com os moradores.
— Estamos criando um produto para quem busca um período de férias mais tranquilo, com menos agito e com a experiência de participar da colheita da uva — resume Durante.
Nas décadas de 1940 e 1950, quando ainda não existiam estradas expressas para o litoral, a grande moda entre as famílias do Rio Grande do Sul era passar os meses de verão aproveitando o clima ameno das montanhas. A grande atração era a colheita da uva, sinônimo de fartura e alegria nas colônias italianas.
— Naquela época, as crianças iam de jipe para a colheita, enquanto as mães visitavam as artesãs para aprender a fazer os produtos coloniais — lembra o empresário Tarcísio Michelon. Ele é idealizador do evento Bento em Vindima, realizado pela prefeitura de Bento Gonçalves há cinco anos como uma tentativa de resgatar esta tradição.
— Esse hábito tem uma base histórica que nós temos o dever de saber aproveitar — salienta Michelon, proprietário de uma famosa rede de hotéis da região, considerada pioneira no desenvolvimento do turismo em Bento Gonçalves. Sua mãe foi hoteleira na cidade nas décadas de 1940 e 1950.
 — Quando perguntei a ela de que os turistas gostavam, ela respondeu com sabedoria: “eles gostam de tudo o que é nosso, nossa gastronomia, nossa paisagem, nossos costumes, nosso vinho, nossos olhos, nosso sotaque, nosso dialeto, nosso jeito de ser”. Assim nasceu o evento, uma comemoração da fartura nas colônias italianas.  

Garibaldi resgata o veraneio típico dos anos 1940 e 1950
Assim como a vizinha Bento Gonçalves, que recepciona os visitantes com um pórtico gigante em forma de pipa de vinho, em Garibaldi uma garrafa de espumante enorme explica aos desavisados qual é o principal produto desta cidade. Portanto, também ali, nos meses de verão, o cheiro de uva toma conta do município, que este ano organiza pela primeira vez uma programação especial para a vindima, chamado “Veraneio da Vindima”.
— Nós apenas organizamos todas as atividades que as comunidades, as famílias e os empreendedores locais já faziam desde 1875, ou seja, a colheita de forma festiva, e transformamos isso em um produto aberto para os visitantes — explica a secretária de Turismo e Cultura da cidade, Ivane Fávero.
O título “Veraneio” é fruto direto de um resgate histórico dos anos 1940 e 1950, quando muitos visitantes de outras partes do estado subiam a serra nos meses de verão com suas famílias.
— Esse costume se estendeu até os anos 1960, quando muitas famílias passavam um ou dois meses por aqui, participando de todas as atividades da comunidade, em busca da alegria que toma conta da Serra no período da colheita — afirma Ivane, salientando que a ampla programação dos mais de dois meses de festa visa trazer ao visitante “o aroma de uva, a alegria do espumante e o cheiro da infância, das nossas memórias de quando a moda era o veraneio na Serra”.   
Primeira colônia de imigração italiana no estado, Garibaldi é também um verdadeiro museu a céu aberto da cultura italiana. Passear de carro pelas áreas rurais da cidade é voltar no tempo e encontrar as raízes dos primeiros imigrantes. Casas de pedra com seus típicos porões, fornos para assar pão e polenta, parreirais circundando as casas, o dialeto italiano e a clássica celebração da vindima, período de extrema alegria para os produtores rurais, são um prato cheio para os visitantes.  
Em uma destas propriedades históricas, onde há mais de 100 anos se cultiva uva e se produzem vinhos e espumantes, alguns parreirais têm nada menos que 125 anos de idade. Vilmar Bettù, proprietário da pequena vinícola artesanal cujos vinhos são vendidos para o mundo inteiro a preços que passam dos R$ 1 mil por garrafa, se emociona ao lembrar que seus pais, hoje com quase 100 anos de idade, passaram a vida inteira deles se dedicando àquela terra. “Meus bisavós compraram esta propriedade quando chegaram da Itália”, conta Vilmar. No porão da vinícola, um pequeno museu abriga fotos familiares, passaportes originais do século XIX e até mesmo a escritura de compra da terra. A propriedade de Vilmar, no coração da Estrada do Sabor, uma das rotas turísticas de Garibaldi, oferece diversas atividades aos visitantes neste período da vindima, como passeios pelos parreirais, colheita e pisa da uva e degustações dos ótimos vinhos artesanais.
— A vindima é um evento que chama a atenção em qualquer lugar do mundo, pois é um momento de alegria para os agricultores, quando se recolhe o produto que é sinônimo da sobrevivência deles — explica Vilmar, ao levar os visitantes para assistirem como realmente acontece a produção de vinho na sua propriedade. A pisa manual da uva, hábito considerado ultrapassado pela maioria dos produtores de vinhos, ainda persiste na vinícola de Bettú, onde equipamentos modernos permitem a higiene e a produtividade deste processo.
— Talvez por isso nossos vinhos estejam sendo reconhecidos no mercado —afirma Vilmar, brincando que seleciona funcionários de acordo com o peso e o tamanho do pé.

Show de humorista divulga dialeto talian
Milhares de pessoas lotam o centro de eventos do pequeno município de 3,5 mil habitantes, encravado em uma região de vales e montanhas. Jovens, idosos e crianças cantam e dançam ao som de músicas italianas. De repente, sobe ao palco um famoso humorista regional, e todos se calam durante mais de duas horas para ouvir suas estórias. Muitas risadas depois, Edgar Marostica encerra seu show com poucas palavras pronunciadas em português. A cena descrita acima bem que poderia ter ocorrido na Itália, mas foi apenas mais uma apresentação do humorista brasileiro e um dos grandes difusores da língua talian, o famoso dialeto vêneto-riograndense falado com naturalidade até hoje nas principais cidades gaúchas de colonização italiana. Como na pequena Nova Roma do Sul, um paraíso encravado entre os vales dos rios das Antas e do Prata, circundado por cascatas, grutas e panoramas exuberantes, onde ocorreu a apresentação em questão.    
O show foi uma das diversas atrações “italianas” da 11ª La Prima Vendemmia, festa de celebração da vindima desta típica colônia italiana ocorrida entre 24 e 26 de janeiro deste ano. Esta pequena cidade, aonde os primeiros imigrantes chegaram em 1888 provenientes da região do Vêneto, no norte da Itália, além de ser uma das pioneiras no ensino do dialeto nas escolas municipais, foi também uma das primeiras da Serra Gaúcha a celebrar a vindima de maneira organizada. Em 1995, aconteceu a primeira edição da Prima Vendemmia, idealizada como forma de estimular o desenvolvimento do turismo como atividade econômica.
— Prima vendemmia, ou vindima, como o próprio nome diz, significa a primeira venda de uvas do ano, ou seja, significa vender aquilo que se produziu durante o ano inteiro. Por isso, é um aspecto cultural muito forte — explica o historiador João Panozzo, um dos idealizadores da festa.
Para ele, mesmo que as pessoas não percebam, os hábitos italianos permanecem vivíssimos no cotidiano dos moradores de Nova Roma do Sul.
— Isso não se apaga em um século. A gastronomia ainda é muito italiana, as “nonnas” ainda fazem aquelas comidas caseiras saborosas, as festas religiosas continuam e muitos ainda falam apenas talian — acrescenta Panozzo.
Os jovens da cidade conservam bem o dialeto, o que demonstra a sobrevivência da cultura. A religiosidade também se preserva fortemente, através das tradicionais festas em homenagem aos padroeiros e, principalmente, pelos muitos capitéis (pequenas capelas construídas pelos fiéis em agradecimento a graças alcançadas) vistos pelas ruas e estradas.
Este ano o evento da Prima Vendemmia trouxe algumas novidades, como a inclusão de passeios turísticos e culturais pelos bairros rurais da cidade. Três rotas mostravam as principais atrações do município, com muitas descobertas até mesmo para os moradores.
— Nosso principal objetivo é envolver as pessoas da comunidade e também aquelas que migraram para cidades maiores, a fim de explorar mais a questão do turismo e propiciar uma alternativa de negócios, até para os jovens permanecerem aqui — explica o secretário de Educação e Turismo da cidade, Roberto Comin.
Na Rota Histórica da Colonização, o Museo di Roma surpreende o visitante. No antigo sobrado da família, que abrigava os nove filhos do casal de imigrantes italianos, o empreendedor Alberto Peliccioli conservou móveis antigos, utensílios domésticos, roupas e muitos materiais de trabalho do seu pai, que era ferreiro de profissão. O resultado é um aconchegante museu localizado na Linha Castro Alves, uma área rural de Nova Roma, que surpreendeu até mesmo muitos membros da própria comunidade pela qualidade do material conservado. Já na Rota Uva, Vinho e Aventura, a visita ao Eco Parque Cia Aventura mostra por que motivo esta cidade está no mapa mundial do turismo de aventura, procurado principalmente por praticantes de rafting.  

Vinho de porão
Nas colônias italianas, não há casa sem porão. E não há porão que não tenha o seu próprio vinho. Hábito ainda muito difuso entre os descendentes de imigrantes, a produção para consumo próprio persiste em muitas famílias, mesmo que não sejam proprietários de vinícolas. É o caso dos Possamai, que transformou a casa da família, localizada em um distrito rural de Bento Gonçalves, em um espaço de eventos. A casa onde vivem até hoje foi construída em 1916 e já abrigou 18 pessoas. Hoje, vivem no local o produtor rural Jurandir Possamai, sua esposa e seu pai, com 92 anos.
— A nossa colônia está esvaziada — afirma Jurandir, explicando que suas três filhas pretendem abrir também uma pousada no local. Além da locação para eventos, a família produz vinhos e produtos coloniais, a maior parte para consumo próprio.

Um romano no Vale dos Vinhedos
“Minha maior surpresa ao chegar aqui foi conhecer pessoas com traços italianos, porém brasileiras, falando em dialeto comigo e esperando que eu as compreendesse”. Assim, Massimo Colaceci, um romano de 37 anos radicado em Bento Gonçalves há mais de três, definiu o impacto que sentiu ao sair da Itália para conhecer a terra natal da sua futura esposa. Colaceci, que em Roma atuava na área de informática, hoje trabalha com turismo e é um apaixonado convicto por este pedaço da Itália em solo brasileiro.
— Estas pessoas aqui, por terem uma história nova e se tratar de um povo jovem, têm muito a ensinar a nós ‘velhos europeus’ em termos de coragem, força de vontade e iniciativa — afirmou, destacando a mistura de paisagem tropical e povo acolhedor com as muitas semelhanças com a Itália, como a própria paisagem de parreirais. Colaceci, que trabalha como secretário-executivo de uma rota turística na cidade de Bento Gonçalves, explica que, da parcela de turistas europeus que visitam anualmente a região, boa parte são italianos, muitos deles procurando conhecer esta curiosa cultura dos imigrantes.
— Como a maioria dos italianos, eu ignorava que o interior do Rio Grande do Sul fosse assim. Acredito que todos deveriam conhecer esta região, porque é realmente surpreendente — afirma.

Comunità Italiana

A revista ComunitàItaliana é a mídia nascida em março de 1994 como ligação entre Itália e Brasil.