Comunità Italiana

Tenacidade de armador

Estaleiros italianos desafiam os ventos da crise e apresentam obras-primas no Salão Náutico de Gênova

O Salão Náutico de Gênova reduziu este ano seu tempo de duração de nove para cinco dias. O vento da recessão, que sopra com a constância de um alísio, provoca e testa a criatividade, a competitividade e a resistência de estaleiros pequenos, médios e grandes. Mesmo que as “ondas” na superfície tenham diminuído um pouco, a corrente de fundo é forte, condiciona e arrasta o mercado para um marasmo a perder de vista. Ainda assim, os armadores não se abatem e desembarcaram em Gênova com uma força-tarefa capaz de levantar o moral da tropa.
A nave-mãe que roubou a cena é o mega-iate Chopi Chopi, com 80 metros de comprimento, ancorada na marina mais externa. Recorta a linha do horizonte com os seus cinco andares — sendo um apenas para o uso exclusivo do proprietário, que não é italiano. O colosso hospeda até 30 tripulantes e 12 convidados. O portal da popa, uma vez rebaixado até a linha d’água, cria uma praia de cem metros quadrados. Cada metro quadrado deste mega-iate, obra-prima do estaleiro italiano CNR, está avaliado em cerca de um milhão de euros.
A frota naval do salão, realizado no início de outubro, trouxe cerca de mil embarcações. As novidades chegam a uma centena, apesar da queda de 4% nas vendas do setor, em comparação com 2012. O total acumulado chega a quase 60% desde 2008. Por isso, todos seguem a rota das antigas caravelas de Vasco da Gama e Cristóvão Colombo, para não falar de Marco Polo. Para o Velho Mundo, o Novo Mundo e as Índias continuam sendo o Eldorado da redenção. A exportação está, a duras penas, mantendo o “ barraco em pé”, como diz o ditado italiano, pois o prestígio do Made in Italy é o selo de qualidade de um produto que os concorrentes tentam imitar.

Litoral catarinense se afirma como o Eldorado dos produtores italianos
A última terra prometida é a foz do rio Tijucas, em Santa Catarina, onde os estaleiros estrangeiros poderão contar com um grande desconto para vender seus produtos sem as tarifas alfandegárias que dobram ou triplicam o preço final de um iate estrangeiro comprado no Brasil. O projeto Cidade do Mar prevê a construção de marinas privadas e trapiches públicos. Sessa Marine, Ferretti (sob o guarda-chuva de um fundo de investimentos da China) e Azimut, três dos principais estaleiros italianos, já estão presentes, mas outros também devem desembarcar, atraídos pelos incentivos. Isto explica a participação da secretária de Indústria, Comércio e Turismo de Santa Catarina no Salão de Gênova. A realização dos molhes e o desassoreamento do rio são condições fundamentais para dar largada ao projeto, que traz na planta uma universidade náutica e estaleiros. Ainda é uma miragem, mas se os investidores forem convencidos, a força política se encarrega de abrir os caminhos para a obra.
Enquanto o projeto não sai do papel, os italianos seguem produzindo iates como o novo Pershing 62 — uma das lanchas mais visitadas do salão. O interior vem dividido em três cabines. Como a personalização ao extremo é a última fronteira do luxo, o cliente pode substituir uma das cabines por um living room. As grandes vidraças permitem iluminação natural e integração total da paisagem. Da concorrência, chega o Magellano 53, de Azimut-Benetti, um iate tipo “explorer” que faz o armador sentir-se um Jacques Costeau. Também não passa sem ser notada a Honert Tender 1.300, do estaleiro francês Couach. Com capacidade para transportar até 12 pessoas, é uma da principais opções para rápidos passeios entre ilhas. O casco em Kevlar e fibra de carbono garante a leveza e a resistência. Em águas territoriais “inimigas”, é preciso admitir que, no campo das regatas, os franceses são imbatíveis.
Todos os iates estão equipados com acessórios com tecnologia de ponta. Um relógio de pulso a bordo não indica apenas as horas: age também como um salva-vidas, desliga o motor e emite um sinal de alerta na sala de comando caso o portador caia no mar. Já as novas sondas de rastreamento do fundo do mar trazem imagens muito próximas da terceira dimensão. Se estivesse vivo, Julio Verne reescreveria a história do Nautilus. Afinal, a realidade tem superado a ficção científica sem nenhuma cerimônia.