Comunità Italiana

Terra de perfumes e cores

Catálogo de arte a céu aberto e território de agroturismo de excelência, a Campânia reúne tesouros com os quais sonham os turistas do mundo inteiro, como Capri, Ischia, Sorrento, Costa Amalfitana e Pompeia

“Ver Nápoles e depois morrer”. Com estas palavras, na tradição napolitana, evidencia-se a sensação de melancolia que se sente quando se deixa a cidade do Vesúvio. Uma afirmação com certeza enfática que, no entanto, expressa com perfeição a intensa ligação que a capital cultural do Mezzogiorno é capaz de estabelecer com quem decide visitá-la. Seria melhor dizer “ver a Campânia e depois morrer”, pois a região abriga como um todo imensos tesouros que marcam a alma de todo viajante: as ilhas de Capri e Ischia, Sorrento e a Costa Amalfitana, o palácio de Caserta e os sítios arqueológicos de Paestum, Pompeia e Ercolano, sem esquecer as margens selvagens do Cilento. Lugares já conhecidos no mundo inteiro, que representam somente uma mínima parte das maravilhas desta terra, banhada pelo mar Tirreno, povoada por quase seis milhões de habitantes e com uma superfície de mais de 13 milhões de quilômetros quadrados.
Quem nos acompanha nessa viagem para descobrir a Campânia é o secretário regional do Turismo, Corrado Matera.
— Além das dezenas de metas universalmente conhecidas, a Campânia apresenta uma vasta rede de reservas naturais protegidas, entre as mais articuladas da Europa. Mais de 36% do território é protegido com a finalidade de preservar o ambiente, a história e as tradições que testemunham a capacidade do homem de desenvolver sistemas produtivos sem comprometer a tutela do patrimônio natural — resume.
Matera faz um breve resumo histórico, essencial para a compreensão da alma desta terra.
— A costa da Campânia é conhecida desde a aurora da civilização ocidental, pois era já descrita nos poemas de Homero como o lugar de encontro entre Ulisses e as Sereias — relembra o representante da administração campana.
Os romanos a chamavam Campania Felix e em seu litoral desenvolveram a primeira indústria turística de elite, construindo grandes estabelecimentos termais e dois dos maiores anfiteatros da era clássica, perdendo somente para o Coliseu. Em seguida, os viajantes do Grand Tour fariam a aristocracia e a nascente burguesia europeia descobrir, a partir da metade do século XVIII, a grandiosidade dos monumentos e a beleza da paisagem campana, relembra Corrado. Depois do fim da Segunda Guerra Mundial, graças à paz restabelecida, assistiu-se ao renascimento do turismo campano, com Capri e o Golfo de Nápoles tornando-se metas de artistas de fama internacional.
O território foi, por muito tempo, caracterizado por inumeráveis misturas de culturas.
— Desde sempre, a Campânia, justamente pelo clima ameno e a fertilidade do solo, atraiu povos de lugares distantes, que deixaram traços arquitetônicos e culturais de grande valor. Falamos de elementos que hoje definem um cenário único, um catálogo de artes e tradições que se extratificaram no tempo e que permitiram a assimilação e a reelaboração de modelos culturais diferentes, com o desenvolvimento de uma grande disponibilidade em acolher turistas e viajantes.
Beleza, variedade e abertura constituem as principais riquezas do território.
— A nossa região pode ser vista como o mais completo catálogo de arte e, portanto, de história do mundo ocidental, encerrado em um círculo desenhado em um raio de 50 quilômetros. Assim, visitar a Campânia permite unir, em uma estadia relativamente curta, a experiência de uma viagem de descoberta da Europa, do Mediterrâneo e dos testemunhos dos povos que passaram por esta terra — reitera Matera.
O turista pode começar pelas grandes cidades gregas e romanas, para depois passar à arte medieval lombarda, normanda, suábia, angevina e aragonesa, prosseguindo com a renascimental espanhola e francesa, até chegar à arte contemporânea, como o auditorium de Ravello, realizado a partir de um desenho de Oscar Niemeyer.

Cilento, capital mundial da dieta mediterrânea
A Campânia é também um território símbolo das excelências gastronômicas do Belpaese. A Unesco reconheceu a dieta mediterrânea como patrimônio cultural imaterial da Humanidade, indicando a área do Cilento como sua pátria natural, frisa Matera, destacando que, “desde sempre, a Campânia é conhecida no mundo pela pizza e pela massa, enquanto mais recentemente afirmaram-se, em nível mundial, a mussarela de búfala DOP e os vinhos DOC e DOCG, que unem todos os aromas da nossa generosa terra”.
Um quê a mais, portanto, também para o turismo: a enogastronomia local, além de estar entre as mais apreciadas, representa um chamado forte e constante para os turistas. Além disso, tantas pequenas produções de altíssima qualidade, como de alguns embutidos, queijos ou conservas, podem ser encontradas e saboreadas somente no lugar em que são produzidas, já que a limitação das áreas de produção não permite a comercialização.
Apesar da crise econômica que atingiu duramente a Itália e, em especial, o Sul, o fluxo turístico se intensificou.
— Se analisarmos os dados do Istat, relativos a 2014, observamos uma boa retomada em relação ao ano anterior, já que as chegadas aumentaram em 6,25%, e também as presenças, ou seja, o número global de pernoites, teve um leve aumento, 1,9%, chegando a 18.060.075.
Os números indicam que o que sustenta o turismo campano é, sobretudo, o mercado interno. As presenças estrangeiras cresceram de 8.115.338 para 8.176.727, mas o dado mais relevante diz respeito ao turismo interno, que marcou um crescimento das chegadas de 8% e um aumento das presenças de 2,9%. Existem ainda, portanto, amplas margens de crescimento no que diz respeito ao turismo estrangeiro, que inclui uma pequena cota de turistas provenientes do Brasil.
— O número de turistas brasileiros na Campânia aumentou tanto nas chegadas, que passaram de 38.711 em 2013 para 40.427 em 2014, quanto no número de presenças, que aumentaram de 119.992 em 2013 para 125.632 em 2014. Os primeiros dados de 2015 confirmam essa tendência de crescimento — informa.
O representante do governo campano delineia o perfil do turista que visita a região, analisado pelos escritórios de turismo locais.
— O perfil que emerge da análise das respostas define um turista consciente, interessado prioritariamente em nosso patrimônio cultural independentemente da idade e da classe social a que pertencem, desejoso de desfrutar o clima ameno para entrar no mar, mesmo que não seja verão, bom conhecedor e apreciador de nossa enogastronomia, que já teve a oportunidade de conhecer na infinidade de restaurantes italianos presentes nos países de proveniência. A nossa oferta diversifica-se para interceptar também segmentos de nicho, em forte crescimento nos últimos anos. Penso, por exemplo, na organização de casamentos em lugares de especial atração, no fornecimento de serviços de alta qualidade para o bem-estar do indivíduo, na assistência às compras de produtos da alta moda, da arte dos ourives e do artesanato artístico local — explica.
Com uma oferta tão ampla e com recursos artísticos e naturais de absoluta relevância, a Campânia pode ambicionar tornar-se uma espécie de museu a céu aberto. O peso do setor turístico na economia campana supera os 10%, em linha com a incidência evidenciada pelo setor no PIB em nível nacional.
Para dar um posterior salto de qualidade na valorização do turismo, a administração aposta em uma nova visão estratégica. Corrado afirma que o governo está trabalhando para organizar o ‘Sistema Campânia’, uma organização real, que coloque na rede pública e privada, oferta e demanda, serviços e bens culturais, transportes e segurança, eficiência e modernização, história e presente.
— É preciso virar a página e empenhar-se realmente para oferecer um território que tem belezas inestimáveis, mas que deve assegurar aos turistas as melhores condições para uma fruição agradável e segura.
Ele adianta que estão previstas atividades de prolongamento das visitas dos grandes sítios arqueológicos, com visitas guiadas noturnas e a organização de eventos culturais que aumentem a empatia do visitante. Além disso, foi ampliada a oferta cultural que, partindo da programação do Napoli Teatro Festival Italia, do Festival de Ravello e da temporada de concertos de verão do Teatro San Carlo, enriqueceu-se de uma oferta difusa nos territórios, com encontros de artistas e escritores, concertos e apresentações teatrais, “sem esquecer a gastronomia local, que se declina em ‘sagras’ e festas tradicionais”.
Também é verdade que a Campânia, e Nápoles em especial, correm risco de ter uma má fama, ligada a espisódios de pequena e grande criminalidade, e a fenômenos como o que aconteceu com a crise do lixo, que colocou na gilhotina a capital por muitas semanas. Fatos reais que, no entanto, não representam a verdadeira alma de uma região rica de atrações, cuja população é caracterizada por um grande senso cívico e de hospitalidade.
— No passado, as campanhas da imprensa que aumentavam as crises contingentes criaram não poucos problemas para a manutenção da imagem da cidade de Nápoles, mas de toda a região por reflexo — comenta o secretário. As crises ambientais foram superadas, porém, em algumas pequenas áreas, restam alguns problemas que estamos resolvendo. No entanto, a imagem geral da região recuperou o esmalte e a afeição dos turistas por Nápoles e pela Campânia, fato demonstrado pelo crescimento exponencial das chegadas aos aeroportos e pela explosão de atracagens dos cruzeiros nos portos de Nápoles e Salerno.

Terra de origem de milhões de oriundos, região quer incentivar o turismo de retorno
A Campânia, historicamente, sempre foi terra de emigração. Um fenômeno por um lado dramático que, no entanto, pode também transformar-se em uma vantagem. A Itália e cada um dos territórios de proveniência permanecem no coração, de geração em geração, e a crescente disponibilidade de conexões intercontinentais tornou menos episódica a frequência dos lugares de origem dos pais e dos avós.
O Brasil, deste ponto de vista, representa um interlocutor privilegiado:
— A comunidade brasileira de origem campana é muito numerosa, graças à histórica conexão naval com a escala napolitana, e boa parte do turismo brasileiro dos últimos anos foi incentivado pela vontade de restabelecer uma relação física com o território de origem.
Naturalmente, quem hoje volta à Campânia encontra condições profundamente mudadas.
— Às novas gerações propomos a redescoberta de um mundo que não se encontra mais nas condições de indigência que determinaram a emigração de seus antepassados, mas que agora é lugar de reagregação cultural, com a recuperação e a valorização de imóveis, cultivos e produções de altíssima qualidade, e com a presença de lugares da memória e do bem-estar físico e espiritual. Férias na Campânia podem ser uma experiência divertida, saudável e realmente formativa para os jovens que desejam reapropriar-se da memória da tradição familiar.
O representante da junta campana explica ter a intenção de construir uma ponte com o Brasil e já ter começado as primeiras iniciativas neste sentido.
— Os escritórios regionais, a partir de 2012, iniciaram a explorar o mercado brasileiro através da participação anual na Feira Internacional do Turismo Abav, primeiro no Rio de Janeiro, e em seguida em São Paulo, e os resultados para os nossos operadores turísticos foram muito interessantes. Além disso, através da colaboração com a sede da Enit em São Paulo, foram organizados encontros com operadores locais que deixam expectativa de bons desenvolvimentos. Pessoalmente, nos anos passados, tive a possibilidade de estabelecer contatos com representantes institucionais, como o governador de Minas Gerais, Antônio Augusto Anastasia, originário de Pisciotta. Junto com uma delegação proveniente de Belo Horizonte, ele veio em 2012 ao Cilento, onde foi recebido pelas autoridades locais para a apresentação de um projeto denominado Radici, dirigido a recuperar a lembrança do passado, reabraçar parentes distantes, reconstruir a história e iniciar novas relações e novos projetos culturais e econômicos — revela Matera, que finaliza a entrevista à Comunità com uma promessa: a de incentivar o turismo de retorno.
— Vou me empenhar pessoalmente para dar suporte, com ações concretas, ao turismo de retorno. Creio que as trocas que se estabelecerão entre os países, tanto em relação ao perfil cultural quanto a nível turístico, e poderão criar efetivas condições de desenvolvimento.