{mosimage}Turistas italianos e setor hoteleiro reclamam do novo decreto que limita o prazo do visto para 90 dias improrrogáveis
O Brasil tem se destacado no cenário internacional como importante roteiro turístico. Por ser um país de clima tropical, de belas paisagens e por ser um terreno fértil para investimentos, a demanda é grande. De acordo com o Banco Central, no acumulado dos sete primeiros meses de 2011, os estrangeiros gastaram em serviços turísticos US$ 3,859 bilhões, ou seja, 14,48% a mais em comparação com o mesmo período do ano passado. Os números são animadores. E a Itália, nos últimos anos, se consolidou como um dos principais mercados emissores de turistas para o Brasil, mas essa situação pode mudar com a nova política de vistos adotada pelo Ministério das Relações Exteriores. Os turistas italianos poderão permanecer no país até, no máximo, 90 dias por ano, improrrogáveis, ao invés dos 180 anteriores. A informação está no Quadro Geral de Regime de Vistos, do Ministério das Relações Exteriores, atualizado em 20 de julho deste ano.
A política de concessão do visto praticada pelo Ministério tem como fundamento jurídico e ideológico a reciprocidade. Hoje, de acordo com o Estatuto do Estrangeiro (Lei 6.815 de 1980), o Brasil deve aplicar o princípio e exigir o visto dos indivíduos de países que tornam obrigatório o visto dos brasileiros. A assessoria do MRE alega que a reciprocidade é a base do respeito entre diferentes nações que buscam manter um equilíbrio de hospitalidade. “A igualdade de tratamento afasta as relações de subordinação. A reciprocidade implica na identidade ou na igualdade de direitos, de obrigações e de benefícios”, informaram à Comunità, os assessores do Ministério.
Antes da medida, o turista italiano recebia um prazo de estada de até 90 dias, no final do qual se podia pedir à Polícia Federal uma prorrogação por mais 90. Para a concessão da prorrogação, o turista interessado devia apresentar passagem de volta e demonstrar possuir os meios econômicos para sustentar-se no país, uma vez que o mesmo não pode trabalhar. Agora,
o prolongamento da estada no Brasil não pode ser requerido.
Reclamações
Muitos italianos ficaram indignados com a medida. Eles afirmam
que as exigências não são as mesmas cobradas dos brasileiros que chegam à Itália. O italiano Eduardo Magaldi, colaborador nas escolas de samba Beija-Flor de Nilópolis e Salgueiro, se sente muito afetado com a decisão do MRE. Ele, que tem uma companheira brasileira há doze anos e necessita vir ao Brasil de tempos em tempos, acredita que o MRE levou em consideração o caso Cesare Battisti ao adotar a medida.
— O caso Battisti acirrou os ânimos nas relações políticas entre Brasil e Itália. Houve um desconforto por parte do governo italiano, diante da concessão do status de refugiado político ofertado pelo Brasil a Cesare Battisti através do Ministro da Justiça Tarso Genro. Battisti foi condenado por um ato de terrorismo contra a extrema direita italiana, e o Brasil de certa forma teria contrariado a decisão do outro país — opina.
Mercado
Empresários italianos vêem o país como um mercado em potencial, investindo principalmente em pequenas empresas de alta tecnologia. Além disso, os turistas italianos representam uma fonte de renda para o ramo hoteleiro e de entretenimento.
O general manager do Resort La Torre de Porto Seguro, o italiano Luigi Rotunno, ressalta que a mudança prejudica o turismo de longa permanência. Ele afirma que os mais afetados são os homens acima de 60 anos “que procuram fugir do frio da Itália”. Rotunno conclui que, para a economia da cidade turística da Bahia, a vinda de italianos representa um bom aporte de divisas.
— Essa medida tem, sem dúvida, um efeito negativo para o mercado do turismo entre Itália e Brasil. Existe um aspecto pouco acolhedor que toca unicamente a Itália entre os países da Europa. Estamos perdendo uma fatia de turistas da melhor idade que costumavam passar de quatro a cinco meses no verão brasileiro para fugir do inverno.
Esses clientes são importantes para a economia do litoral brasileiro, já que gastam não só nos segmentos turísticos, mas também nos produtos de necessidades do dia a dia, diz Luigi. Eles também investem facilmente em imóveis já que, no período de alta temporada, os preços dos aluguéis são altos, portanto convém ter a casa própria.
— Infelizmente, não se sabe exatamente o motivo dessa decisão além da “reciprocidade”. Espero por outro lado que essa medida possa ser revista — completa.
O italiano ressalta outra medida que pode afetar ainda mais o turismo da melhor idade, que é o decreto nº 95, que prevê visto de permanência para os turistas aposentados que ganham na faixa de R$ 6.000,00 mensais de aposentadoria.
— Os aposentados italianos dificilmente ganham essa quantia. Essa é mais uma medida que freia a entrada de turistas italianos no país — enfatiza Rotunno.