O turismo de retorno, ou seja, as viagens ao país dos antepassados rumo à descoberta das próprias origens é o foco de projeto que está prestes a tornar-se realidade. O projeto-piloto é destinado por enquanto somente aos descendentes de campanos para facilitar o reconhecimento da cidadania italiana diretamente na cidade onde nasceu o ascendente italiano, além de simplificar o acesso aos arquivos públicos da região a quem quiser consultar suas raízes. Comunità conversou com o conselheiro da Câmara Ítalo-brasileira de Indústria e Comércio de Santa Catarina e presidente da Fundação Nacional Ítalo-brasileira (FNBI), Diego Mezzogiorno, após uma recente visita à Itália, durante a qual se reuniu com os representantes da prefeitura de Nápoles e do governo da Região Campânia para discutir sobre o projeto piloto de turismo de retorno e outras parcerias econômicas e culturais com o Brasil.
O prefeito de Nápoles, Luigi de Magistris, relatou, através de um comunicado, o encontro que teve com Mezzogiorno no Palácio San Giacomo, com o qual conversou sobre a maior comunidade italiana fora da Itália: são cerca de 32 milhões de italianos e ítalo-descendentes residentes no Brasil, inclusive numerosos oriundos da Campânia e em particular de Nápoles. Mezzogiorno disse que o prefeito apoiou com entusiasmo o projeto e que inclusive já tinha em mente um projeto similar de reencontro familiar após uma viagem a Nova York, onde se encontrou com o prefeito norte-americano de origem campana. O governo da região demonstrou interesse no projeto através da secretária de internacionalização, Valeria Fascione.
— Eles não sabiam da quantidade de campanos e napolitanos que há no Brasil. Expliquei para eles como é o tratamento hoje para tirar a cidadania italiana e que também existe a máfia de cidadania. Existem informações que não chegam a eles porque a mídia italiana não trata disso — afirmou Mezzogiorno, que se inspirou em sua experiência pessoal: o seu avô era de Cercola, cidade perto de Nápoles.
Após vários anos e gerações, ele foi encontrar sua família.
— Hoje, tenho uma família em Nápoles, que me recebe. Passamos tempo juntos e temos até um grupo no WhatsApp para conversar. Criei um laço com a minha família que, durante gerações, simplesmente não sabiam da minha existência — relatou o conselheiro.
Projeto pode ser estendido para outras regiões italianas
Mezzogiorno frisou que a proposta foi escrita em conjunto com “várias mãos”, entre as quais as do sociólogo e presidente do Comites italiano da região nordeste, Daniel Taddone, o funcionário da Embaixada italiana em Brasília, Pasquale Matafora, que tem origem napolitana, e o advogado Fábio Vicenzi. Todos foram candidatos à Câmara dos Deputados nas últimas eleições para o Parlamento italiano, alguns por chapas diferentes.
De acordo com o projeto, a região e a prefeitura poderiam facilitar o acesso à documentação para agilizar o processo de cidadania, além de ajudar no reencontro com os parentes italianos.
— Isso vai gerar um turismo frequente. A pessoa vai voltar para ver a família dela, vai ter interesse em aprender a língua e conhecer o território. Assim, seria dada uma cidadania de verdade à pessoa e não só um livrinho vermelho para ela ir a Miami — frisou o ítalo-brasileiro. A ideia é que seja um projeto piloto não apenas para os residentes no Brasil, mas também para outros países, e que seja levado para outras regiões da Itália.
Segundo Mezzogiorno, existiram projetos antigos que morreram porque não existia operacionalidade regional: eram de municípios muito específicos e acabavam caindo um pouco no esquecimento.
— A Campânia é uma região populosa e economicamente ativa. Além disso, São Paulo em primeiro e Buenos Aires em segundo são as cidades com mais napolitanos do mundo — concluiu Mezzogiorno, que considera o projeto como o primeiro passo para terminar com o mercado ilegal das cidadanias italianas e dar um tratamento digno aos oriundos.