Sinergia entre centros médicos de excelência e hotéis incrementa um mercado que cresce na Itália e movimenta 100 bilhões de dólares no mundo
O turismo hospitalar está incrementando a economia de algumas cidades no norte da Itália, comprovadamente com um nível de atendimento superior ao da média nacional. Ou seja, o italiano tenta curar-se até mesmo fora das suas regiões e, indiretamente, fomenta um movimento que cria um efeito colateral junto a restaurantes e hotéis. A região da Lombardia lidera as estatísticas nacionais. A cada ano, cerca de cem mil italianos e residentes de outras regiões viajam para cá em busca de uma cura que não encontra perto de casa. Segundo uma pesquisa da Bloomberg, todos os anos, cerca de 1,5 milhões de pessoas entram nos hospitais lombardos, sendo 125 mil do estrangeiro e, destes, um em cada três era africano, seguidos por outros europeus, asiáticos e americanos. No mundo, este mercado movimenta cerca de 11 milhões de pacientes e acompanhantes, com um volume de negócios de 100 bilhões de dólares, segundo a Associação Italiana dos Hospitais Privados. Este “filão” nem é tão novo na Europa. França e Alemanha já atuam neste mercado. Nos Estados Unidos, 24% dos pacientes curados no sistema privado é de origem europeia. Na Itália, os setores mais requisitados são oncologia, neurologia, cardiologia e transplante de órgãos.
O raro trabalho de sinergia entre o setor hoteleiro e hospitalar acaba sendo virtuoso para todos. O doente e o seu acompanhante podem, através do site do hospital San Gerardo, em Monza, ter acesso diretamente ao portal de turismo do município. A cidade do autódromo corre na frente, com 1.361 pacientes no San Gerard e suas 8.160 noites durante a convalescência e que, talvez, pela doença, tenham sido mal dormidas e transcorridas num quarto de hotel em um dormitório coletivo.
Efeito colateral no comércio
O negócio também chama a atenção de agentes imobiliários e cidadãos ricos que, eventualmente, colocam imóveis à disposição e fazem filantropia com discrição. Por outro lado, há os exploradores de pessoas frágeis, que devem pagar o pernoite, tudo de maneira informal, sem recibos ou contratos, para sonegar os impostos e, alegam, baixar os custos. Segundo a Secretaria de Turismo, 1.791 pessoas declararam como motivo da viagem a busca pela cura. No mesmo período, foram registrados 5.666 acompanhantes. Somente o centro altamente especializado em leucemia infantil, Centro Maria Letizia Verga, interna 1.400 crianças. Isso para não citar o centro de fecundação artificial e a cardiologia do Policlínico de Monza ou a ortopedia da Clínica Zucchi.
Os hospitais tornam-se chamarizes para investimentos. Três moradias do tipo “residence” surgiram em frente ao hospital San Gerardo, em Monza. Na rua Amati, perto do Policlínico, nasceu outro imóvel com 41 apartamentos. Em dez anos, Monza passou a ter, de três, dez hotéis de luxo. Campânia, Piemonte, Sicília e Puglia são as principais terras de origem dos viajantes particulares.
Porém, a história mais interessante, além da cura com um atendimento imaculado, seria hospedar-se no Complexo de San Gerardino, onde nasceu o santo monzese Gerardo, que transformaria a própria casa em hospital. A iniciativa correu em 1174 e, graças a uma organização impecável, atendia pobres e órfãos. As “vítimas” de seus poderes mágicos acabariam ficando boas, enquanto a fama o elevava aos céus e ao panteão dos santos.
Agendamento online
O portal Health Lombardy (https://healthlombardy.eu/) reúne informações sobre os complexos de excelência em diversas especializações da Região Lombardia. A lista inclui o Instituto Europeu de Oncologia, o grupo hospitalar de San Donato, a Fondazione Mondino, em Pavia, e a Fondazione Poliambulanza, de Brescia. O serviço online serve para o paciente agendar as visitas e até as viagens. O portal pode ser lido em italiano, inglês, chinês e russo.