{mosimage}Num prazo de cerca de quatro anos, se tudo vai bem, um “anjo do negócio” pode avaliar a possibilidade de recuperar o dinheiro investido, ao vender cotas da empresa, e, se for o caso, partir para outra aventura
A Itália desce num poço sem fundo. Os jovens aproveitam o período de incertezas para refletir sobre o futuro. E muitos vão muito além. O mês de outubro é importante para mais de 600 apaixonados por tecnologia, que veem na crise um sinal de oportunidade, como reza o famoso ideograma chinês. Eles sonham em ser donos dos próprios narizes e destinos e atuam principalmente no ramo da criação de programas e aplicativos em internet. O final de setembro marcou um divisor de águas para tantas micro-empresas, ainda no papel, que até novembro irão se preparar para enfrentar uma nova convenção de Start up.
— Desta vez, o evento vai ser em Roma, depois do sucesso milanês. Existe um grande potencial e estamos atrás de parceiros comerciais, queremos encurtar a distância entre as duas pontas. Mais avança a crise, mais as pessoas querem criar alternativas — diz Francesco Inguscio, fundador da NuvoLab (www.nuvolab.com) para Comunità. O termo start up é inglês, mas em italiano já se tornou um sinônimo de ousadia, tenacidade e dinamismo. Estes são os três elementos que movem um exército de programadores de computador com uma boa ideia na cabeça e nenhum centavo no bolso. Os eventos rotulados de Start Up servem para colocar em contato criadores, parceiros, investidores e visionários que apostam em novas aplicações que nascem para facilitar, organizar e divertir a vida dos internautas.
O trampolim de Milão ocorreu no Collegio, universidade na cidade, incubadora de tantos projetos, no bairro de Famogosta, na periferia. O cenário é de efervescência com tantas apresentações e debates no auditório e rodas de conversa que, ao final, podem levar a um encontro mais profissional e um contrato de financiamento. O modelo é muito parecido com aquele instaurado em Sillicon Valley, nos Estados Unidos, berço das grandes empresas de software e hardware. Em um momento em que os investidores estão contando os prejuízos na Bolsa e tentam achar novos modelos para aplicar o capital, eis que as mentes brilhantes se colocam em jogo e propõem novos objetivos. O evento Start Up atrai gente interessada em tecnologia e com experiência no mercado, no caso de possíveis investidores, e sem nenhuma experiência, os jovens iluminados com rostos ainda de adolescentes.
Cardápios em tablets
Os jovens que se aventuram na chamada segunda era da internet apresentam projetos para pôr ordem na casa e organizar melhor os links sociais, por exemplo. E tem até quem use os encontros virtuais para voltar ao passado, ou seja, no tempo em que as pessoas se viam de verdade, em carne e osso, e não como nos dias de hoje, quando o mundo virtual ameaça suplantar aquele real.
— Este programa, o 90Minutes, leva as pessoas ao social network para dizer aos amigos se você se sente bem ou mal, feliz ou triste, divertido ou chateado, in ou out. É uma fotografia instantânea do seu momento de vida e um convite automático para estar com uma pessoa que precisa de apoio ou dividir um momento de felicidade. Tive esta ideia ao pensar nas chamadas de celular e de telefone codificadas, por exemplo. Um toque significava uma coisa, dois toques podiam ser uma pergunta do tipo “vamos sair hoje?” — explica o criador de apenas 20 anos de idade que se autodenomina Nebil Kriedi.
Um dos setores que mais recebem inovações ou estão com apetite para tal é dos restaurantes. Sergio Cocco, de Wineamore, criou um cardápio de vinho para tablets. Ele é uma aplicação que facilita a vida do cliente e do sommelier.
— Esta carta de vinho possibilita que o comensal possa escolher um vinho de um país teclando sobre o desenho do mapa-múndi, e se pode ainda afinar a escolha indo até a vinícola de produção — explica ele.
Um concorrente já está no mercado, mas com uma aplicação que permite, entre outras funções, reservar em tempo real uma mesa em um restaurante. Mas há também espaço para jogos, criações de “avatares”, apresentação detalhada de casas com recursos para serem usados no momento do aluguel, compra ou venda e, ainda, na reserva de um quarto de hotel. Ou seja, é o mundo virtual apontando para aquele real: uma espécie de volta ao passado, pagando pedágio ao futuro. E para isso, os idealizadores contam com a ajuda, imprescindível de um anjo da guarda, ou melhor, do bolso.
Para fomentar o desenvolvimento de boas ideias, existe até mesmo uma associação chamada Business Angel (www.italianangels.net), ou seja, anjos dos negócios. Nestes casos, um “anjo do negócio” é um manager, um consultor que, ao longo da carreira, conseguiu juntar muito dinheiro e conhecimento. Uma vez aposentado ou retirado do mercado, inquieto e com vontade de aventura, ele decide investir em empresas que estão nascendo, se torna sócio e participante ativo do projeto inicial. Depois, dentro de um prazo de cerca de quatro anos, se tudo vai bem, pode avaliar a possibilidade de recuperar o dinheiro investido, ao vender cotas da empresa, e, se for o caso, partir para outra aventura.
— Na nossa associação, investimos em empresas com cotas de até 800 mil euros. Com o nosso conhecimento, ajudamos os criadores das empresas a chegar aos empresários. No nosso grupo temos pessoas de várias idades, de 34 a 75 anos, e com diferentes passagens pelo mercado de trabalho — afirma o “business angel” Marco Villa, da Associazione Italian Angels for Growth.