O tridente sulca o mar. Abre caminho pelas ondas, singrando contra ou a favor dos ventos. Não importa. Tem sido assim também no mercado internacional de automóveis. As regatas pelos oceanos Atlântico e Pacífico, de Nova York a São Francisco — repetindo a rota do ouro — de Cape Town ao Rio de Janeiro, são uma metáfora da história dos carros da marca italiana Maserati. Sinalizam o centenário de uma aventura iniciada em 1914, para ser mais exato, em primeiro de dezembro. Em cada porto, uma frota de veículos arrojados, elegantes, seguros e confortáveis dá as boas-vindas em nome de Alfieri Maserati, o fundador da casa automobilística, em Bolonha, atualmente com a fábrica em Turim e incorporada à galáxia Fiat. Giovanni Soldini, iatista de longa carreira, não é Alfiere Maserati, nem parente distante, mas é quem, com o beneplácito de John Elkann, presidente do grupo de Torino, está celebrando com grandes recordes nas águas os cem anos deste automóvel, sinônimo de virtuosismo em terra firme.
Se os carros mudaram ao longo do século, contudo, sem perder os sinais que o destacam, tais como o luxo e a esportividade, o símbolo — que funciona como uma espécie de carrara na proa das antigas embarcações e escunas — não se alterou. A ponta da famosa lança espeta os adversários e os inimigos desde os tempos da mitologia romana, no caso do “deus do mar” chamar-se Netuno, e uma fonte em sua homenagem, desenhada pelo pintor siciliano Tommaso Laureti em 1563 e realizada pelo escultor Giambulogna, dois anos depois, no centro da cidade de Bolonha, serviu de inspiração para a criação do logo, pelas mãos de Mario, irmão mais novo de Alfieri, pouco interessado em carros, mas muito no mundo da arte.
Ferrari comprou a marca concorrente em 1940
A ligação com o mar de Netuno e, em dias atuais, com os armadores e almirantes, clientes da marca, empresários de sucesso e donos de iates, distinguem o carro Maserati de outros veículos de alta-gama que estacionam nas marinas ao redor das baías e enseadas de localidades famosas como Capri e Cannes, somente para citar algumas. Apenas para se ter uma ideia do significado da Maserati, basta recordar que a Ferrari a comprou em 1940. Melhor ter o concorrente dentro de casa do que na garagem do vizinho. Eram os tempos de Modena, após a primeira marcha engrenada em Bolonha. Quantos quilômetros e quantas milhas pelas rodovias e dentro de contêineres os carros Maserati não percorreram em cem anos para marcarem presença em 61 países, entre eles, claro, o Brasil?
A celebração desta aventura começou em meados de 2011, quando Giovanni Soldini preparou o projeto para o lançamento do barco Maserati, comprado por John Elkann, com o enorme tridente esvoaçando na vela maior, com 500 metros quadrados de área, içada no mastro principal, com uma altura de dar vertigem, 31,5 metros, equivalente a um prédio de dez andares. Enfim, um veleiro nascido para correr contra o tempo e adiante do tempo, exatamente como um carro da marca. Ele é um Vor 70’, ou seja, 21,5 metros de comprimento por 5,7 de largura. Os trabalhos no estaleiro reduziram o peso de 14 mil toneladas para 12.500 e transferiram a quilha do centro para a zona de popa da vela. Tudo isso proporciona ao barco maior estabilidade e diminuiu ao máximo o risco do barco embicar ao furar ou descer uma onda: uma das vagas gigantes que tiram o sono dos iatistas de oceano.