{mosimage}Sites específicos para casados à procura de aventuras atraem milhares de internautas na Itália e no Brasil. Homens das grandes cidades constituem maioria dos inscritos
Histórias de romances iniciados pela internet já são comuns e não surpreendem mais ninguém. Afinal, sites de namoros, encontros e paqueras existem há uma década. Uma nova categoria, porém, despontou mundialmente nos últimos meses: as redes exclusivas para homens e mulheres casados que procuram amantes.
Scappatella à italiana
Sou casada há 16 anos e a paixão e o desejo diminuíram. Não vejo nada de mal em realizar novas experiências, até para reencontrar motivações na minha vida matrimonial. O depoimento de “farfallina” ilustra bem as razões que levam as pessoas a integrarem redes como o italiano Incontri-extraconiugali.com.
Lançado em maio pelo jovem milanês Alex Fantini, o portal italiano Incontri-extraconiugali.com já conta com mais de 120 mil inscritos. O criador conta que a ideia surgiu ao analisar as palavras mais buscadas em motores como o Google.
— Percebi que mais de 40 mil pessoas pesquisavam, nos motores de busca, todos os meses, “mulheres casadas”. Como não havia nenhum tipo de serviço dedicado a internautas casados, nasceu a ideia de responder a essa solicitação – explica à Comunità Fantini que, com apenas 22 anos, está à frente do staff italiano.
O serviço custa cerca de 30 euros mensais, e oferece pesquisa de detalhada, chat com webcam e garantia de privacidade, sempre sob as leis italianas de tutela dos dados pessoais.
Reveladoras, as informações sobre os utentes da página da scappatella permitem traçar uma verdadeira análise sociológica da traição à italiana: as campeãs em número de inscritos são as cidades grandes, liderada por Roma. Em segundo lugar, vem Milão, seguida de Nápoles. Os homens constituem a maioria dos interessados entre 35 e 50 anos, com 65% do total. Quem pensa que tudo não passa de uma distração para compor uma fantasia virtual se engana, garante Fantini, já que “apenas 10% dos usuários se limita a trair pela internet”.
A maior parte organiza encontros reais — assegura.
Segundo amor
Criado na Holanda e depois de fazer sucesso nos Estados Unidos, na Bélgica, na Espanha e em Portugal — país onde atingiu a marca de 1.900 inscrições semanais — a versão brasileira do Second Love foi lançada oficialmente no dia primeiro deste mês, e já aponta para novas destinações latinas: México e Argentina.
Segundo a porta-voz do site para o Brasil, a maior parte dos sites de relacionamento é focada no público solteiro, que busca parceiros para uma relação estável, enquanto o Second Love oferece um serviço àqueles que desejam escapar temporariamente da “monotonia de seus relacionamentos longos”.
Anabela Santos prefere evitar polêmicas ao garantir que a intenção do site não é incentivar a traição, e sim dar uma “apimentada” na relação, facilitando uma rede de flertes virtuais.
— A opção de ir além de um simples bate papo virtual é de cada usuário — argumenta.
Para a consultora de relacionamentos Erica Queiroz, a notícia do surgimento de sites específicos para casados é positiva para os solteiros que estão procurando um amor na web.
— Quando você busca alguém, encontra muitos casados, sobretudo homens, que fingem ser solteiros. Essa novidade pode ser um alívio para milhares de pessoas solteiras — pondera.
Em seu livro O amor está na rede, ela procurou derrubar os preconceitos que cercam a internet como ferramenta para encontrar um amor. Se a pessoa souber se proteger, “é muito mais interessante conhecer alguém desta forma, em que você faz uma pré-seleção dos candidatos disponíveis, de acordo com critérios estabelecidos por você mesmo”, acredita Erica.
Velha história
Mas, afinal, as motivações que levam as pessoas a se inscrevem em uma página como o www.incontri-extraconiugali.com são as mesmas que as fazem efetivamente pular a cerca na vida real?
Para a psicanalista Regina Navarro Lins, sim. Relações fora do casamento “sempre existiram, desde que surgiu o casal”, diz, ao lembrar as punições que os adúlteros sofriam na Antiguidade, sobretudo as mulheres.
O Direito na Roma antiga previa a pena de morte pelas mãos do marido ou de parentes do sexo masculino para a esposa adúltera. Além disso, na cultura judaico-cristã, o sexo sempre foi visto como algo sujo e pecaminoso. Até a década de 1960, o código penal italiano previa a reclusão de um ano para a esposa que traísse o cônjuge. Isso explica, historicamente, por que os homens ainda são maioria entre aqueles à procura de amantes: nos países de cultura ocidental, os sites específicos para casados registram, em média, 60% de inscrições do sexo masculino.
Mas a tendência é que, em breve, a igualdade sexual também seja alcançada no quesito traição, acredita Regina, já que pílula anticoncepcional ainda tem pouco tempo de história.
A autora do best-seller A cama na varanda cita o problema do excesso de intimidade vivido pelo casal que os torna quase “irmãos”, mas elege mesmo é a necessidade de variar de parceiro como a razão principal das escapadas.
— Acredito que 80% das pessoas estejam insatisfeitas com o próprio casamento sob o modelo das regras atuais que restringem a vida do indivíduo. O mito do amor romântico que vivemos desde o século XIX prega coisas inviáveis como a crença de que o outro vai nos completar, a exclusividade, a idealização do parceiro e por aí vai. Mas, em pouco tempo, se enxerga o outro como ele é — analisa.
Uma relação extraconjugal na qual se realizam fantasias esquecidas entre os cônjuges, porém, pode acabar reforçando o próprio casamento? Em alguns casos, sim, acredita Regina Navarro Lins, já que “o casamento é o espaço onde menos se faz o sexo. E as pessoas querem variar, mesmo quando se gostam”.