Com arte, natureza virgem, alta gastronomia e artesanato reconhecido internacionalmente, Marche, situada na zona central, é capaz de agradar a turistas de todos os gostos, mas ainda é pouco explorada
A Itália é o primeiro país no mundo nas intenções de viagem declaradas pelos turistas, mas está só em quinto lugar na escolha efetiva como destino turístico. Arte, natureza e boa comida atraem visitantes do mundo todo e os números revelam que ainda há um enorme potencial a ser explorado. Comunità inicia uma viagem, em vinte capítulos, à descoberta das regiões da Bota, de seus atrativos e das políticas que foram escolhidas pelas respectivas entidades governamentais para incentivar o turismo. Comecemos nosso longo percurso nas Marche, uma região da Itália central que dá para o Mar Adriático, cuja população conta com um milhão e 546 mil habitantes. As cinco províncias de Ancona, Ascoli Piceno, Fermo, Macerata e Pesaro-Urbino estendem-se em um território de quase 10 mil quilômetros quadrados. O assessor regional de Turismo, Moreno Pieroni, nos ajuda a conhecer melhor esta pequena e fascinante realidade da Itália central.
— Os números explicam o porquê ‘as’ Marche são a única região italiana realmente ‘no plural’, onde se integram de forma harmoniosa cultura, arte, paisagem, mas também tradições, folclore, culinária típica e hospitalidade. Temos 500 praças, mais de mil monumentos significativos, uma centena de cidades ligadas à arte, milhares de igrejas, 183 santuários, 34 sítios arqueológicos e 72 teatros históricos — diz o assessor.
Alguns lugares gozam de um prestígio internacional:
— A cidade de Urbino foi reconhecida como Patrimônio da Humanidade pela Unesco, mas não podemos esquecer Ascoli Piceno, com sua belíssima praça, Macerata, com sua famosa Arena Sferisterio, Pesaro, que já é a cidade da música graças ao encontro anual com o Rossini Opera Festival, Fermo, capital da indústria de calçados e tem um lindíssimo centro histórico e, finalmente, Ancona, a capital da região, que dá para o mar com um edifício histórico único no mundo, ou seja, a Mole pentagonal do arquiteto Valvitelli.
Outro invejável primado nacional citado por Pieroni é “a maior densidade de museus e pinacotecas, sem contar com nossas 300 bibliotecas, que disponibilizam mais de quatro milhões de livros”.
O litoral da região tem 180 quilômetros, com nove portos turísticos e praias com 23 balneários, onde se podem passar férias tranquilas. Em poucos minutos, se passa do mar à serra, com várias áreas naturais protegidas. Entre as várias áreas a serem visitadas, há dois parques nacionais, Monti Sibillini e Gran Sasso Monti della Laga; quatro regionais, Monte Conero, Sasso Simone e Simoncello, Monte San Bartolo, Gola dellaRossa e di Frasassi; além de cinco reservas naturais, mais de 100 áreas de flora regional e 15 florestas.
Entre roteiros de ciclismo, enogastronomia, históricos, motivos não faltam para visitar Marche
Se não faltam motivos para que a região Marche possa se afirmar como um cartão de visitas da indústria turística italiana, o que dizem os números sobre a visitação real?
— Os dados relativos às presenças de turistas estão em contínuo aumento, apesar da crise econômica que, nestes últimos anos, afetou gravemente a renda das famílias italianas. Porém, nos últimos três anos, à frente de um leve aumento das chegadas e das presenças nacionais, registra-se, sobretudo, um significativo aumento dos estrangeiros — observa Pieroni.
Os brasileiros também começaram a frequentar esta região:
— Todos os anos, contamos com cerca de três mil chegadas e 20 mil presenças de turistas brasileiros. Um dado realmente animador, inclusive diante da distância e das dificuldades causadas pela falta de conexões aéreas diretas. Porém, é claro que é necessário intensificar os esforços para aumentar o interesse dos operadores brasileiros.
Pedimos ao assessor para nos explicar quais motivos teria um turista brasileiro, ou de qualquer outra parte do mundo, para decidir passar suas férias na região Marche, em vez de ir a outros lugares mais conhecidos.
— Marche foi reconhecida por formadores de opinião de prestígio e por grandes jornais internacionais como uma região onde se vive bem e por muito tempo. São duas definições que sintetizam perfeitamente os valores peculiares e extraordinários de um território que sabe conjugar tradição e inovação, não somente do ponto de vista turístico, mas também no plano social e cultural. Segurança, tranquilidade, defesa do meio ambiente, paisagens virgens e vilarejos históricos intactos constituem o valor agregado que, cada vez mais, está ajudando os turistas estrangeiros a escolher a região — afirma o assessor.
Prêmios e certificações comprovam as palavras do assessor: além de 300 estruturas de recepção certificadas, foram obtidas 17 Bandiere Blu, concedidas pela Federation for Environmental Education em reconhecimento da qualidade dos balneários, e 19 Bandiere Arancioni, atribuídas pelo Touring Club Italiano às cidades do interior e a 23 antigos vilarejos, inseridos na lista dos borghi mais lindos da Itália.
Longe do lugar comum
É difícil traçar o perfil do turista que visita a região Marche, devido à variedade de ofertas.
— Guido Piovene, em seu livro Viaggio in Italia, cunhou para Marche a definição ‘A Itália em uma região’. Uma definição sempre atual, que sintetiza a imagem variada de um local em que os diversos tipos de turismo integram-se em ofertas em condição de satisfazer as mais diversas exigências do mercado, incluindo as consideradas de nicho. Além de arte, cultura e paisagem, somos escolhidos pelos turistas e viajantes do mundo inteiro também pela enogastronomia, o cicloturismo, as estações termais, o turismo religioso, o artesanato típico e o made in Marche. Podemos nos orgulhar de termos chefs de altíssimo nível, prestigiosas marcas de vestuário, apreciadas no mundo, locais afastados e abadias de origens antigas, onde se pode ficar por um período de meditação e descanso — enfatiza Pieroni.
Porém, mesmo com tantas potencialidades, ainda é pouco conhecida no vasto mercado do turismo internacional.
— Este discurso da falta de notoriedade de Marche tornou-se um lugar comum que deveria ser desmentido. Poderia dizer, fazendo uma brincadeira, que a notoriedade é justamente proporcional ao fato de não sermos um lugar comum, mas um lugar muito peculiar e único, e que, às vezes, a pouca notoriedade preservou patrimônios naturalísticos que não foram poluídos. A discrição, às vezes, torna mais linda a descoberta e, portanto, a surpresa.
Em seguida, o assessor esclarece:
— É claro que não podemos fundamentar nossa promoção no fato de não termos muita visibilidade, mas podemos afirmar que privilegiamos a qualidade em detrimento do turismo de massa. Certamente, a região era desconhecida algumas décadas atrás, mas, nos últimos anos, este hiato foi completamente recuperado, inclusive graças a setores de promoção turística diferenciados, como os produtivos e da internacionalização. Aqui, o made in Italy se concretiza em algumas marcas famosas. Na Expo 2015, inclusive coordenamos outras regiões italianas.
O turismo como motor de desenvolvimento
A indústria turística da região, como em grande parte da Itália, assume um papel cada vez mais central.
— O turismo tornou-se o segundo motor de desenvolvimento da economia regional e os números do setor, tanto em nível de ocupação quanto na incidência sobre o produto interno bruto, estão aumentando cada vez mais. Os sinais são animadores e nos mostram que temos que intensificar as políticas turísticas, em especial modo aquelas voltadas para os mercados internacionais — diz.
As políticas adotadas pela administração regional seguem esta direção:
— Fizemos uma escolha bem forte, orientada para novos modelos de organização no plano da comunicação, através inclusive do web marketing. O mundo, a esta altura, deve ser considerado um único grande mercado com os instrumentos que a tecnologia oferece. Podem ser apresentados os vários tipos de turismo, postos em prática através dos importantes valores da nossa região. Não é uma coincidência o fato de que Marche tenha se tornado a região italiana mais engajada, do ponto de vista social, graças à realização de um sistema de informação de vanguarda, em que a plataforma Destination Management System apresenta nosso sistema turístico de forma integrada, com todos os sujeitos e as entidades envolvidas — explica o assessor.
Para 2016, a região aposta em um programa de promoção turística, que vise ao desenvolvimento de uma identidade de destino turístico definido, através da apresentação de clusters de produto para específicos segmentos, como mar, cultura, espiritualidade, vilarejos e natureza, fornecendo aos operadores as linhas mestras para uma melhor promoção da oferta turística.
Giornata delle Marche reúne os marchigiani espalhados pelo mundo em dezembro
A administração das Marche olha com grande atenção também para a história da emigração que, em um passado nem tão longínquo, atingiu a região.
— No dia 10 de dezembro, todos os anos, é comemorada a Giornata delle Marche, uma oportunidade para refletir sobre a história, a cultura e as tradições da comunidade da região, que fortalece o sentimento de appartenenza. Naquele dia, no mundo inteiro, os marchigiani se encontram para a festa de Nossa Senhora de Loreto, universalmente reconhecida como referência ideal e espiritual da própria terra e das próprias origens. A data estipulada pela região é o dia da comemoração da Declaração dos Direitos do Homem.
O discurso sobre as relações com as comunidades emigradas é direcionado, claro, ao Brasil, o país que hospeda o maior número de cidadãos com descendentes de origem italiana.
— Desde sempre, Marche mantêm relações fortíssimas com seus conterrâneos no exterior, também com os de segunda e terceira geração, através de um diálogo constante com as associações dos vários países, entre os quais se sobressaem Argentina e Brasil, onde se concentrou a maior emigração dos marchigiani entre os séculos XIX e XX. Sempre mantivemos contatos com as associações através também de órgãos consultivos, para envolver as jovens gerações que, mesmo sendo, para todos os efeitos, naturalizadas nos países onde vivem, mantêm ligação afetiva com a terra de origem de seus ancestrais — ressalta Pieroni.
Aos jovens brasileiros, descendentes de imigrantes marchigiani, o assessor direciona este convite:
— Espero que venham visitar Marche para conhecer um pouco da história do passado que diz respeito a vocês, mas também para fortalecer vínculos de amizade e de colaboração.
Nos últimos anos, várias iniciativas tentaram aproximar as Marche do Brasil.
— Em 2014 foi organizado um tour educativo, por operadores turísticos brasileiros interessados no cicloturismo, com visitas concentradas no território da província de Pesaro-Urbino e no Parque del San Bartolo — diz Pieroni.
Os operadores turísticos brasileiros ficaram literalmente encantados pela paisagem e pelos lugares que percorreram de bicicleta e pelas estruturas receptivas.
— Também recebemos uma delegação liderada pelo Sebrae e composta por representantes de universidades, centros de pesquisa e empresas provenientes de Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul — conclui.