Comunità Italiana

Uma só torcida

Comunidade italiana de São Paulo acompanhou reunida no Edifício Itália os jogos das duas seleções, enquanto os brasileiros animavam rodas com torcedores de diversas nacionalidades em Roma

As cores azul e amarelo estamparam a paixão pelo esporte mais popular do mundo e coloriram centenas de familiares e amigos que compareceram ao salão nobre do restaurante do Edifício Itália, onde está localizado o Circolo Italiano, em São Paulo. Com direito a telão e cardápio especial, os torcedores tiveram entrada gratuita e puderam conferir os jogos da Itália e do Brasil durante toda a Copa.
— Infelizmente, a Itália ficou muito na defensiva e foi eliminada tão cedo, o que deixou minha família triste — desabafou o comerciante Rogério Fociani Sertorio, acompanhado dos afilhados Pedro, 12, e Guilherme, 7. Depois da derrota azzurra, todos passaram a torcer pelo Brasil, por conta dos “laços fortes nesta terra abençoada”.
Uma parceria entre a Commissione Giovani, do Comites di San Paolo, e o Circolo Italiano permitiu a transmissão das disputas no elegante edifício. No dia do jogo de estreia da equipe de Prandelli contra a Inglaterra, em 14 de junho, 360 pessoas foram ao Edifício Itália acompanhar a partida.
— Houve grande participação de jovens e crianças da comunidade, descendentes e italianos amantes do futebol e da cultura italiana. Foi uma noite ‘indimenticabile’, quando toda a torcida foi presenteada com a vitória da Azzurra, por 2-1 — relembra José Luiz Altieri Campos, membro voluntário da Comissão Jovem do Comites.
Gilles Pires Batista Leão, também membro voluntário da Comissão, ficou satisfeito com a reunião da torcida.
— O resultado foi muito satisfatório para a organização do evento. Conseguimos reunir novas pessoas, muitas interessadas pela cultura do país da bota. Não passamos da primeira fase, mas o sonho continua. Daqui a quatro anos, levantaremos a taça e a conquista da quinta estrela.
O apresentador do programa online de futebol Mestres da Bola, Tato Sernagiotto, marcou presença em todas as transmissões no Circolo e analisou o desempenho da seleção.
— O time não acordou para o jogo. Eu teria trocado o Balotelli, que é tão ovacionado pela torcida; mas, na minha opinião, não teria vaga no time titular. O Immobile, por exemplo, poderia ser titular, ele foi artilheiro do campeonato italiano e participou dos cinco gols que a Itália fez no amistoso — disse o romanista fanático.
A proprietária da empresa ítalo-brasileira Monterosso, Sonia Faifer, gostou da experiência:
— Foi emocionante ver todos juntos cantarem o hino italiano. Gostei muito de assistir aos jogos no Circolo, mas esta Copa foi de muitas surpresas e resultados inesperados. Esta foi a primeira Copa que vi de perto e aprovei a segurança, organização e a confraternização entre os países, estou orgulhosa de ter nascido no Brasil

Brasileiros colorem bares e restaurantes de Roma de verde e amarelo
Do outro lado do oceano, a febre brasileira contagiava a Itália. Bandeiras verdes e amarelas, camisetas, chapéus e unhas pintadas com as cores do país; enfim, todos os acessórios foram usados para demonstrar a paixão pela seleção verde-ouro. Aumentou até a venda dos produtos com símbolos brasileiros que, na verdade, são fabricados na China.
— Os produtos brasileiros são muito procurados. Vendemos principalmente as pulseirinhas do Brasil — contou o vendedor ambulante Rashid, do Bangladesh.
Após a derrota da nazionale, os italianos passaram a torcer pelo Brasil. Nos dias de jogo, a festa se espalhou por bares e restaurantes que transmitiam o evento. Aqueles que serviam caipirinha, farofa e feijoada foram os mais procurados. O Bum Bum di Mel, bar no badalado bairro romano de Trastevere, confirmou a tradição. No jogo Brasil x Chile, o pequeno lugar teve lotação máxima. Muitas assistiram às partidas em pé, na rua, na frente do bar, pois dentro estava cheio demais. Italianos, alemães, holandeses e outros estrangeiros se uniram à torcida brasileira e gritavam com emoção: Vai Brasil! Vai Neymar! Cada lance perdido parecia uma tragédia: Oh Dio mio! A banda Rio Samba caprichou no pagode, enquanto nos intervalos o bar oferecia uma dose de vodca em copinhos de plástico descartáveis.
Mais que a alegria, na partida Brasil x Chile a atmosfera se transformou em aflição.
— Ai, ai, ai … — gritava Sabrina Carvalho, apertando as próprias mãos com as unhas pintadas de verde-amarelo.
A tensão aumentou na hora dos pênaltis. Minutos depois, finalmente, vieram o alívio e a comemoração com a classificação brasileira.
— Daje Brasil! c’ho’ er core che me scoppia — gritou Gianni Rossi em dialeto romano (Vai Brasil! Meu coração explode), acompanhado pela ovação geral da torcida em todas as línguas.