A preocupação aumenta nesta terça-feira (22) na Europa e nos mercados diante dos desdobramentos políticos na Itália, país fundador da União Europeia (UE) e do euro, perto de ser dirigido por um governo populista e eurocético
Os alertas dos dirigentes europeus se multiplicaram nos últimos dias diante da coalizão antieuropeia que se estabelece em Roma.
Sobretudo porque a coalizão não oculta suas intenções de executar uma política de estímulo consistente em disparar o déficit público e a dívida – ainda com o risco de provocar uma crise do euro.
O presidente italiano, Sergio Mattarella, pediu novas consultas nesta terça-feira antes de decidir se nomeia ou não Guiseppe Conte, jurista desconhecido da população, proposto pelas formações Movimento 5 Estrelas (M5E, antissistema) e a Liga (extrema-direita) para dirigir o governo. Sua rejeição levaria a novas eleições.
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, se recusou a fazer qualquer comentário enquanto espera a decisão. “Compreendemos que o processo constitucional está em curso e esperaremos que se conclua”, disse seu porta-voz , Margaritis Schinas.
“Há algo preocupante, sim”, reconheceu a comissária europeia de Comércio, Cecilia Malmström, antes de uma reunião ministerial nesta terça-feira em Bruxelas.
O euro se manteve sob pressão frente ao dólar nesta terça, após ter registrado seu mínimo desde meados de novembro na véspera.
A Bolsa de Milão recuou, nesta segunda-feira, 1,52%, enquanto o prêmio de risco – diferença entre as ttaxas de endividamento italiana e alemã a dez anos – tinha aumentado, fechando a 186 pontos (55 pontos a mais em menos de uma semana).
Um vice-presidente da Comissão Europeia, Valdis Dombrovskis, lançou um alerta muito explícito em uma entrevista publicada nesta terça-feira no jornal econômico alemão Handelsblatt.
“A Comissão Europeia não interfere, a princípio, na política nacional. Mas para nós é importante que o novo governo italiano mantenha o rumo e dirija uma política orçamentária responsável”, declarou o comissário letão, responsável pelo euro no Executivo europeu.
– ‘Brincar com o fogo’ -“A Itália tem a maior dívida pública na zona do euro depois da Grécia”, lembrou ele como um alerta.
O custo da dívida do governo italiano para financiar seus déficits nos mercados financeiros aumentou nos últimos dias.
“Só podemos aconselhar a manter o rumo em termos de política econômica e financeira, promover o crescimento por meio de reformas e manter o déficit orçamentário sob controle”, disse o vice-presidente da Comissão sobre esse assunto.
Há uma semana, outro vice-presidente da Comissão Europeia, Jyrki Katainen, tinha alertado o governo italiano contra qualquer tentativa de romper o pacto europeu de estabilidade e crescimento.
“As regras do pacto de estabilidade e crescimento aplicam-se a todos os Estados-membros da UE”, disse ele.
Essas advertências contínuas provocaram estresses para os líderes das duas forças da coalizão italiana. “Primeiro deixem-nos começar, então vocês podem nos criticar, terão todo o direito, mas vamos começar”, disse Luigi Di Maio, chefe do M5S, na noite de segunda-feira.
Já Matteo Salvini, líder da Liga, acrescentou: “eles não precisam se preocupar, o governo do qual faremos parte quer fazer a Itália crescer, respeitando todas as regras e compromissos”.
Antes, ele já havia respondido apaixonadamente a uma advertência de Manfred Weber, funcionário do partido da chanceler alemã, Angela Merkel. “Que ele cuide da Alemanha e nós vamos cuidar do que é bom para os italianos”, escreveu no Twitter. (AFP)