Mansão onde habitavam as virgens vestais romanas é reaberta. Nela foi conservada o fogo cultuado pelo Império por séculos
{mosimage}Quer a lenda que o próprio Rômulo, fundador e primeiro rei de Roma, tenha instituído na cidade o culto ao fogo. Para manter atradição, Rômulo teria criado a Ordem das Vestais – um grupo de seis mulheres virgens escolhidas para habitar em um lugar sagrado no coração daquilo que futuramente seria conhecido como área dos foruns imperiais. As vestais tinham como missão manter acesa a chama que queimava dentro da mansão que asabrigava. Após duas décadas fechada ao público por conta de trabalhos de restauração, a famosa Casa das Vestais reabre ao público que visita a Cidade Eterna todo os anos.
Nos primórdios do ritual, três ou quatro meninas virgens eram escolhidas para cuidar do fogo. Mais tarde, o número chegou a seis, e assim permaneceu até que o Império decretasse o fim dos ritos pagãos em nome do catolicismo, em 391 d.C., quando o templo foi abandonado pelas últimas vestais que cuidavam da chama e reocupado por nobres famílias romana santes de passar às mãos da Igreja.
O complexo reaberto este ano obedece à planta erguida provavelmenteapós o grande incêndio que destruiu Roma em 64. d.C e fora reformada por ocasião de outroincêndio de grandes proporções acontecido em 191. “É mais um local restituído aos turistas e aos romanos no centro do antigo Império”, diz Francesco Giro, subsecretário do Ministério dos Bens Culturais.
A Casa das Vestais fica no mesmo complexo arquitetônico abrigado pelo monte Palatino e pelos Fóruns Imperiais, antigo centro nevrálgico da capital. O ingresso de visitação inclui a visita ao monte e às ruínas, além do Coliseu. A partemais avistável é o átrio, hoje umaespécie de gramado retangular a céu aberto que comporta três banheirascheias de água. Toda a zona é circundada pelas estátuas que sobreviveram à queda do Império,aos saques bárbaros e à posterior dilapidação dos monumentos para venda ou uso dos materiais em basílicas,edifícios e estátuas em Roma e mundo afora.
“É um momento que os italianos esperavam há muito. Agora estamos trabalhando para trazer de volta o Circo Massimo’’, comemora Giro. Ele lembra que a obra custou cerca de 19 milhões de euros (incluem escavações no próprio Circo Massimo e no Colle Oppio, outros dois importantes centros históricos que passam por reformas). O financiamento dos trabalhos veio de fontes públicas e privadas. As vestais foram escolhidas ao longo dos séculos por somente cinco famílias patrícias romanas, que ainda formavam uma base de 20 crianças do sexo feminino, de 6 a 10 anos, para que essas substituíssem as vestais oficiais quando estas cumprissemos 30 anos de duração dos serviços prestados à Roma.
O átrio aberto à visitações era a parte da casa onde as vestais passavama maior parte do dia, apesar de serem cidadãs livres e poderem caminharna rua quando quisessem. A casa, no entanto, era inviolável – tinha acesso a ela somente o Pontifício Máximo, espécie de “papa” das religiões pagãs romanas. O mais célebre a ocupar o cargo foi opróprio Giulio Cesare antes de se tornar imperador
As vestais tinham privilégios que poucos cidadãos romanos possuíam,menos ainda as mulheres: eram mantidas pelo Estado, únicas romanas que podiam fazer testamento,
testemunhar na Justiça sem fazer qualquer tipo de juramento. Até mesmo os estandartes consulares, símbolos de Roma, eram arriados quando uma vestal passava por eles. Em troca das benesses, deveriam manter aceso o fogo e conservar a virgindade por 30 anos, quando eram então livres para deixar o templo.
Deslizes não eram tolerados: caso perdesse a virgindade, umavestal era obrigatoriamente assassinada de modo cruel: eram amarradas, vestidas com roupas fúnebres e trancadas dentro de uma sepultura com uma pequena lamparina e um fio de comida. Morriam por inanição.
A maior parte das estátuas das vestais que decoravam o templo se perderam ao longo dos séculos, mas algumas ainda podem ser vistas no local, colocadas em ordem aleatória, pois não foi possível saber ainda hoje como eram dispostas na épocaantiga.