Comunità Italiana

Visita dá novo ânimo a investimentos bilaterais

{mosimage}Ministro italiano do Desenvolvimento Econômico reforça relações entre Brasil e Itália durante visita que incluiu encontros com autoridades e empresários. Um dos objetivos foi atrair investidores brasileiros

Entre os dias 18 e 20 de setembro, o ministro italiano do Desenvolvimento Econômico, da Infraestrutura e dos Transportes, Corrado Passera, visitou o Brasil pela primeira vez. A agenda incluiu encontros com autoridades do governo e empresários italianos e brasileiros. Passera esteve em Brasília, onde se encontrou com ministros, como Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; com Márcio Pereira Zimmermann, de Minas e Energia; com Paulo Sérgio Passos, dos Transportes; e com Marco Antonio Raupp, de Ciência, Tecnologia e Inovação.

Também passou por São Paulo, onde, diante de empresários e autoridades do governo, apresentou uma palestra que tinha como tema Brasil e Itália, desafios e oportunidades na atual conjuntura econômica mundial, na Fundação Getúlio Vargas. O ex-administrador delegado da Banca Intesa, que ocupa a pasta desde novembro do ano passado, também concedeu uma entrevista coletiva à imprensa, realizada no Terraço Itália. Durante os três dias, ele discutiu temas relacionados à política econômica do governo do premier Mario Monti. Ao falar sobre os novos rumos da economia e as estratégias para a retomada do crescimento do país, reforçou seu objetivo de atrair investimentos brasileiros para a Itália e citou os desafios e as oportunidades de negócios entre os dois países.

Em sua palestra a empresários da Fiesp, ao falar do cenário econômico mundial, afirmou que muitas diretrizes macroeconômicas, ideologias e paradigmas ligados ao funcionamento do mercado demonstraram-se falsos.
— Essa falta de interpretações certeiras do mundo, por um lado, cria incertezas. Mas, por outro, nos dá liberdade de pensar no futuro de maneira totalmente aberta — afirmou.
Passera notou ainda que a atual crise modificou os centros políticos e econômicos mundiais, com uma passagem gradual da antiga concentração entre a Europa e os Estados Unidos para uma estrutura mais difusa, cujos atores fundamentais são países da Ásia e da América Latina.
— Nesse cenário, o Brasil é um protagonista e tem um papel de fortíssima credibilidade — destacou.

O ministro ressaltou ainda a importância das parcerias entre os países na atual conjuntura econômica. Ele acredita que estamos em um momento da história em que a “interdependência alcançou níveis jamais imaginados, em grande parte graças às novas tecnologias de transporte e comunicação”.
Para Passera, a Europa reagiu muito mal frente à atual crise econômica, mas, nos últimos meses, “tomou o caminho certo, graças também ao papel de Mario Monti e de Mario Draghi”. O ministro considera que o euro é uma escolha irreversível, que a moeda sobreviverá à crise, e que União Europeia — da qual a Itália é um dos membros fundadores — é um exemplo único de integração.

Terceira maior economia e segunda potência manufatureira da zona euro, a Itália colocou em prática uma estratégia progressista para a retomada do crescimento econômico. As medidas procuram criar condições mais favoráveis para a internacionalização, o estabelecimento e a criação de novas empresas em solo italiano e a atração de investimentos estrangeiros.
Para o embaixador italiano no Brasil, Gherardo La Francesca, “é impressionante a quantidade e a qualidade do trabalho do ministro Passera nos últimos 12 meses, em um dos momentos mais críticos da história da Itália desde a Segunda Guerra Mundial”.
— Passera chegou a menos de 48 horas no Brasil e já encontrou quatro ministros brasileiros e o vice-presidente Michel Temer. Trouxe 30 empresários italianos, encontrou o presidente da Fiat, foi à Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) falar ao empresariado. Tudo isso demonstra a vontade da Itália de desenvolver parcerias que podem produzir, e já produzem, resultados para ajudar esses dois países-irmãos, entre os quais não há competição — declarou La Francesca.

O pior já passou, lembra Passera
Passera lembrou que, em 2011, a Itália chegou a um passo de uma crise gravíssima, quando o tamanho do déficit público e a falta de crescimento econômico provocaram a perda de credibilidade.
— Como em outras ocasiões na história, o país reagiu de maneira forte e a crise foi enfrentada através da melhoria radical da situação das contas públicas e do uso de nossa capacidade de crescimento —  explicou o ministro.
Uma das principais diretrizes econômicas da gestão de Passera é o foco na exportação, particularmente para os países do BRIC, mercados emergentes caracterizados por taxas de desenvolvimento particularmente elevadas e com perspectivas de crescimento significativas. Segundo dados do Ministério brasileiro das Relações Exteriores, em 2010, o PIB conjunto dos cinco países totalizou US$ 11 trilhões: o equivalente a 18% da economia mundial.
Para a Itália, o Brasil representa um dos mercados prioritários para o desenvolvimento de relações econômicas e comerciais. Atualmente, o país é o segundo maior parceiro comercial do Brasil na Europa e o oitavo no mundo.

No último ano, segundo a Secretaria brasileira de Comércio Exterior, a balança comercial dos países girou em torno de € 8,37 bilhões. Em 2011, a Itália exportou cerca de € 4,5 bilhões para o Brasil, tendo importado do país cerca de € 3,9 bilhões. Entre os principais produtos made in Italy adquiridos, estão máquinas e equipamentos industriais, os quais representam quase metade do volume de importações, seguidos de automóveis e produtos farmacêuticos. Já o Brasil exporta para Itália basicamente produtos primários, como minério de ferro, café, pasta de madeira, peles e couros.

Entre as áreas de maior interesse da Itália no Brasil, o ministro citou os campos da infraestrutura e transporte:
— O Brasil está aumentando seus investimentos nessas áreas e a Itália quer participar desses projetos. Vemos um país programar seu futuro e vislumbramos muitas oportunidades. Há uma vasta área de colaboração que pode ser feita entre os dois países. Isso foi o que mais nos causou admiração  —  anuncia Passera, que também ressaltou o interesse na área de tecnologia e no setor automotivo, aproveitando a forte presença no país da Fiat.

Cerca de 500 empresas italianas e um total de 716 estabelecimentos comerciais e industriais têm presença direta no Brasil, número que triplicou nos últimos 10 anos. Além dos tradicionais grandes grupos, como Fiat, Pirelli e Telecom Itália, chama atenção a forte presença de empresas de pequeno e médio porte de vários setores. A maior parte está concentrada no estado de São Paulo (54%). Em seguida, aparecem Minas Gerais (10%), Rio de Janeiro (7%) e Rio Grande do Sul (6%).
Em uma estimativa realizada pela Embaixada junto a 200 empresas, os estabelecimentos de origem italiana são responsáveis pela geração de mais de 130 mil empregos diretos e 500 mil empregos indiretos no Brasil.
— Essa missão foi muito bem sucedida e teve bons resultados para aumentar a colaboração entre os dois países. Conseguimos perceber o tamanho real desta cooperação. Estamos falando de nações que se sentem próximas tanto pela questão histórica quanto pela cultura — analisa Passera.

Nos últimos meses, a Itália passou por uma série de reformas e intervenções com o objetivo de tornar a economia do país mais eficiente e competitiva. Entre as medidas, estão a reforma do mercado de trabalho, a liberalização dos mercados, a simplificação de processos e a aceleração da construção de grandes obras de interesse nacional.
As diversas diretrizes de reforma abriram uma série de ações que deverão ter continuidade e, posteriormente, serão aprofundadas junto ao planejamento definido pelo governo italiano. Os esforços já obtiveram posicionamento favorável por parte das grandes instituições internacionais, como Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, o Fundo Monetário Internacional e a Comissão Europeia.

O desafio para os próximos meses será reforçar a estratégia iniciada por meio do aumento da eficiência, da produtividade, da competitividade e da abertura de novas oportunidades de negócios e trabalho. A criação de novas empresas e a facilitação de investimentos estrangeiros no país, de forma a favorecer a instalação de novas unidades produtivas internacionais em território italiano, serão medidas prioritárias.

Internacionalização das empresas agora é prioridade
A Itália possui um dos principais parques produtores e exportadores de tecnologia do mundo, composto principalmente por pequenas e médias empresas, em sua grande maioria concentradas em distritos industriais. Reconhecida mundialmente por sua excelência em diversos setores, como o de máquinas e equipamentos, as exportações têm sido um importante vetor para o crescimento do PIB italiano.

Nos primeiros cinco meses de 2012, quase metade das indústrias exportadoras apresentou aumento nas vendas externas em comparação ao mesmo período do ano passado. O período mostrou um acréscimo nas exportações de 3,9% e o mês de maio apresentou um excedente de mais de € 1 bilhão. De acordo com a previsão do Banco da Itália, o ano de 2012 apresentará 2,4% de crescimento das exportações de bens e serviços.

Frente à contração da demanda interna, o incentivo à internacionalização tornou-se primordial para o crescimento econômico. Segundo o ministro Corrado Passera, a exportação é o principal fator para a recuperação da economia.
 — A exportação está entre as variáveis que mais contribuem efetivamente para a formação do nosso PIB. É preciso continuar nessa direção, através da aceleração da reorganização das redes no exterior, da concentração de iniciativas de promoção em mercados estratégicos e do aumento de investimento direto estrangeiro.
Para o ministro, os produtos italianos são muito atraentes para o mercado global e comprovam a capacidade de reação do sistema produtivo do país.
— Nesses últimos anos, investimos muito no Brasil, mas o Brasil investiu pouco na Itália. Hoje, quando as duas economias apresentam quase o mesmo tamanho, há a possibilidade de o Brasil investir de forma semelhante na Itália. A missão encerrada hoje visa a reverter esse cenário e acredito que teremos muito sucesso — declarou.

As atividades de investimento também não sofreram interrupções por causa do cenário econômico. Em 2011, os investimentos contribuíram para um forte crescimento, seja nos fluxos de saída, seja nos fluxos de entrada. São 7.500 empresas que investem no exterior, com mais de 27 mil filiais. Elas empregam cerca de 1,5 milhões de pessoas e geram um volume de negócios em torno de € 565 bilhões. Os investimentos foram concentrados no comércio varejista (55%), na indústria manufatureira (26%), nos serviços às empresas (12%), utilitários e construção civil (7%).

De acordo com Riccardo Maria Monti, presidente do ICE, a internacionalização está se tornando, cada vez mais, a primeira escolha para os negócios italianos. Monti, que veio ao Brasil com a delegação do ministro, é presidente do ICE desde abril e acumula as funções de conselheiro para a internacionalização das empresas do Ministério do Desenvolvimento e de vice-presidente da Sociedade Italiana para as Empresas no Exterior (Simest), que financia as sociedades interessadas no mercado externo.
— Apesar do cenário econômico, o número de exportadores na Itália permanece estável. São cerca de 205 mil deles, organizados em importantes distritos industriais. Por isso, é necessário integrar incentivos ao crescimento dimensional e aos processos de agregação por cadeias, a fim de permitir às pequenas e médias empresas associarem-se aos segmentos mais bem pagos das cadeias mundiais de valor. Esta também será uma das tarefas do ICE — disse Riccardo Monti. Para ele, há um equilíbrio forte entre o ICE, a Fiesp e a Câmara Ítalo-brasileira de Comércio, Indústria e Agricultura (Italcam).

Giovanni Sacchi, diretor do ICE no Brasil, considera que o país tem importante papel na retomada da economia italiana.
— A Itália é o segundo maior parceiro comercial do Brasil na Europa, tendo exportado para o país, em 2011, € 4,5 bilhões, um valor 22% maior que o registrado no ano anterior. Os países sempre possuíram estreita parceria de colaboração. Aqui existem mais de 700 empresas italianas. Agora, queremos atrair novos investidores e grupos brasileiros para se instalarem na Itália, promovendo o intercâmbio de conhecimento e a transferência de tecnologia entre as empresas de ambos os países.

O ministro Passera destacou ainda o papel dos descendentes de italianos na construção da economia brasileira.
— Os descendentes contribuíram muito e continuam a contribuir para o crescimento do Brasil, país que alcançou uma posição de destaque no cenário mundial. Saber do peso dessa contribuição é motivo de satisfação e orgulho para a Itália. Espero que os dois países possam trabalhar juntos e que o único campo em que haja alguma rivalidade seja no futebol, durante a Copa do Mundo — brincou Passera no encerramento de sua palestra em São Paulo.