O papa Francisco recebeu nesta segunda-feira (5) o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, em cerimônia privada no Vaticano
O encontro, que durou cerca de 50 minutos, começou em um clima cordial, apesar do forte esquema de segurança organizado no local e de uma série de protestos em Roma.
Como era esperado, a questão envolvendo a situação tensa em Jerusalém foi o foco das conversas. De acordo com a Imprensa Vaticana, os dois debateram “a situação do Oriente Médio, com particular referência ao status de Jerusalém, evidenciando a necessidade de promover a paz e a estabilidade na região através do diálogo e da negociação, no respeito aos direitos humanos e da legalidade nacional”.
Erdogan liderou os protestos internacionais dos países islâmicos quando, em 6 de dezembro de 2017, o presidente dos EUA, Donald Trump, reconheceu Jerusalém como capital de Israel. O Vaticano, assim como a ONU, a União Europeia e todos os maiores países do mundo, criticaram a medida e pediram o respeito às convenções das Nações Unidas sobre o tema.
Também se especula que os dois debateram os ataques do governo turco contra os curdos e a situação das minorias cristãs.
“Eu lhe agradeço por seu interesse em me receber”, disse Erdogan a Jorge Mario Bergoglio assim que chegou ao encontro.
Na tradicional troca de presentes entre os chefes de Estado, o Pontífice deu um medalhão com um anjo para o mandatário visitante. “Este é um anjo da paz que estrangula o demônio da guerra. É o símbolo de um mundo baseado na paz e na justiça”, explicou o líder católico ao entregar o presente.
Francisco ainda deu um desenho da Basílica de São Pedro, retratada em 1600, uma cópia da encíclica “Laudato sí”, que tem foco ambiental, e a Mensagem para o Dia da Paz de 2018.
Por sua vez, o líder de Ancara deu um grande quadro de cerâmica com o panorama de Istambul e uma coleção de livros do teólogo muçulmano Mevlana Rumi.
Na delegação turca que acompanhava Erdogan, havia cerca de 20 pessoas. No entanto, elas só entraram para a reunião após os dois líderes, e seus intérpretes, conversarem a portas fechadas.
Segundo fontes do governo turco, Erdogan ainda visitará a Basílica Vaticana com a esposa antes de voltar para Roma. Essa é a primeira vez que o turco visita a cidade-Estado, apesar de estar no poder desde 2014. Por sua vez, Bergoglio foi à Turquia em novembro de 2014.
Protestos em Roma
A visita de Erdogan ao Vaticano e à Itália está sendo marcada por uma série de protestos desde o último domingo (4). Entre as principais críticas ao governante, estão os ataques contra os curdos e a perseguição de rivais políticos por conta do fracassado golpe de Estado de julho de 2016.
Com cartazes com as palavras “assassino”, “Turquia estrada para terroristas” e outras críticas, a maior manifestação foi organizada pela Rede Curdistão na Itália. Junto a eles, outras entidades italianas também se uniram e protestaram contra a visita.
Para garantir a segurança da comitiva turca, até blindados foram usados na proteção ao local onde o presidente está hospedado, em Castel Sant’Angelo. Há também vigias em pontos estratégicos e um grande contingente de militares – além do bloqueio de ruas próximas ao local.
Ao menos uma pessoa ficou ferida durante os protestos contra a visita de Erdogan nesta segunda-feira (5), informam as autoridades. O homem ficou com um machucado no rosto durante um confronto com os policiais da capital italiana.
Outras duas pessoas foram presas durante os atos. Além dos protestos na cidade, há também atos contra a visita de Estado em Veneza, que chamavam o presidente de terrorista.
Da Itália, Erdogan partiria para a América do Sul, em viagem que incluía Brasil, Uruguai e Venezuela. No entanto, o giro foi cancelado. Especula-se que os protestos da comunidade armênia uruguaia, até mesmo dentro do governo local, tenha feito o cancelamento.
O Império Otomano cometeu o “genocídio armênio” entre os anos de 1915 e 1917, em termo que é negado pelo governo Erdogan. (ANSA)