…já que a política tem-nos servido pratos amargos

Tive um grande aprendizado com a histórica votação do impeachment da presidente no dia 17.04.2016.
Entendi, agora em detalhes, que chegamos exatamente aonde merecíamos chegar, com a qualidade deplorável dos políticos que compõem a Câmara. Na forma e conteúdo, é uma representação de péssima qualidade. Eu não me vejo ali representado. E não vamos nem entrar no dialeto que eles usam, tangenciando muito de longe o nosso idioma pátrio. Um linguicídio.
Mas aprendi uma coisa: discursar. Então…, para honrar a minha mulher, os meus filhos, minhas noras, minhas netinhas, minha irmã e sobrinhas de Poços de Caldas, alguns dos meus primos, meus amigos, meu condomínio, a Barra da Tijuca e a minha cidade maravilhosa do Rio de Janeiro, e atendendo aos apelos da minha mulher, dos meus filhos, minhas noras, minhas netinhas, minha irmã e sobrinhas de Poços de Caldas, alguns dos meus primos, meus amigos, meu condomínio, meu editor e meus leitores (isso mesmo, leitores; não confundir com eleitores), abandono a política para entrar para a gastronomia amadora. Ou voltar a ela.
Se eu entrar na cozinha para fritar um ovo, sou capaz de jogar o ovo fora e ficar com a casca. Em compensação, sei exatamente como encomendar um belíssimo ovo frito ou criticar um mediano. Ovo quente, desisti de fazer. Ou fica uma gosma ou cozido. Também desisti de pedir à cozinheira, pois vem igual ao que eu faço. Omelete, já consigo fazer… ruim. Nesse caso, como absolutamente previsível, não reclamo de mim mesmo. Como ou jogo fora, dependendo da fome.
Reclamo de barriga cheia. Minha cozinheira faz melhor do que muitos restaurantes, e não adianta reclamar. Copiando os garçons, ela presta bastante atenção à crítica… até voltar para a cozinha.
A minha cidade maravilhosa do Rio de Janeiro já foi vítima de tempos piores em oferta de bons restaurantes. Hoje, temos opções. Nem tantas para mim, que junto a fome com a preguiça da distância. Termino limitando as minhas incursões aos restaurantes mais próximos.
Mas vale a pena esticar até Copacabana para comer os seus risotos do Alloro, comandado pelo grande chef – ou capocuoco – Luciano Boseggia, seus frutos do mar, a polenta. Na verdade, ele não oferece nada que não seja excelente. O que aprecio no Luciano é o respeito à tradição da culinária italiana, sem modismos, receitas de família. O chef está sempre pronto para oferecer, rápida e criativamente, uma bela opção para quem tem restrições alimentares. O fato dele ser um bom papo e gostar de uma taça de vinho dão um colorido extra ao jantar.
O Satyricon é o melhor e mais regular restaurante de peixes e frutos do mar. Seus pescados são fresquíssimos – crustáceos e moluscos chegam ainda vivos –, assim como seus legumes e saladas são frescos e compõem a saudável culinária mediterrânea italiana. Marly e Miro Leopardi sempre conduziram com rigor a qualidade dos pratos e do atencioso serviço. Com a ausência saudosa do fundador, a filha Sandra agora atua na coordenação da casa.
O Fasano al Mare é outro restaurante de qualidade. Com o chef Paolo Lavezzini no comando, trazido do premiado restaurante florentino Enoteca Pinchiorri (3 estrelas Michelin), sua especialidade também são os pescados e frutos do mar. Não dou muita sorte com a regularidade, assim como não me atiro sem para-quedas nos risotos e massas, mas tenho bastantes amigos que levam mais sorte.
Um grande chef italiano que anda escondido no restaurante exclusivo do Country Club do Rio é o Francesco Carli, ex-Cipriani. Nós todos e o próprio chef merecíamos vê-lo num restaurante aberto ao público.
O Le Pré Catalan, comandado pelo excelente chef francês Roland Villard, apresenta opções de menu degustação excepcionais.
O Eleven é outro ótimo restaurante, do chef Joachim Koerper, com boas opções de degustação que ele chama de experiências.
Gosto muito da Gruta de Santo Antônio, que nos apresenta a melhor culinária portuguesa, com excelência superior aos que eu comi… em Portugal. Vale ir a Niterói para um longo almoço apreciando as delícias variadas da Gruta e os vinhos da sua bela adega. Dos petiscos aos pratos e sobremesas, é um programa imperdível.
Mas, para a minha sorte, encontro no Gero Barra tudo o que preciso. Ótimos risotos, ossobuco, vitelo, massas frescas e grano duro, peixe e frutos do mar. Atendimento atencioso e serviço primoroso, com especial atenção do Alves, do Wender e do sommelier Cesinha. Além de um dry Martini perfeito, que já abre a noite com mais alegria.
Não posso deixar de mencionar outros restaurantes que frequento habitualmente, onde também me sinto “em casa”. As excelentes carnes do Esplanada Grill, da Churrascaria Rio Brasa, do Pobre Juan, do Royal Grill, do Dom Hélio. Os italianos DUO, Fratelli, Azzurra, Anna. O japonês Naga, os bistrôs Le Vin, In House e C.T. O Adegão Português. Vários desses ficam em shoppings, o que oferece grande conforto e segurança.
Há muitos outros restaurantes bem avaliados pela crítica e clientes. Porém, vários destes eu não conheço; outros escorregam na regularidade e, ainda, aqueles que eu não gosto mesmo. A regularidade é uma armadilha traiçoeira para os restaurantes. Costumo comentar com os donos e chefs que as receitas têm que pertencer ao restaurante, sob o risco de um grande chef carregar com ele o sucesso para outro lugar.
Enquanto esperamos por dias melhores, brindemos à saúde e à felicidade. Auguri!